João XXIII foi também o nome utilizado por um antipapa entre 1410 e 1415.
De acordo com a estrutura hierárquica da Igreja Católica, os homens que ocupam a posição mais elevada são conhecidos como papa ou Supremo Pontífice. Este líder do cristianismo católico é reconhecido em todo o mundo e seu posto remete a uma tradição iniciada com o apóstolo Pedro, considerado o primeiro papa da história. Entretanto, a função de papa é também um posto político dotado de muita competição para atingi-lo. Em diversos momentos da história do catolicismo, o papa eleito pelo Conclave, reunião de cardeais para eleger o novo Supremo Pontífice, não foi reconhecido por reis e grupos religiosos dentro da Igreja Católica. Como resultado da não aceitação de alguns papas eleitos pelo Conclave e refletindo a autoridade que alguns reis demonstraram, foram indicados outros papas para representa-los. Esses papas que não foram eleitos pelo Conclave, mas sim por vontade de grupos religiosos e políticos distintos, são chamados de antipapas. Eles exercem a mesma função do papa em vigência, porém representando uma oposição. Ou seja, dois papas que se declaram legítimos simultaneamente, um rejeitando a existência do outro.
Baldessare Cossa seria um exemplo de antipapa. Nascido por volta de 1370 na cidade de Nápoles, foi corsário em sua juventude e, mais tarde, tornou-se aluno na Universidade de Bolonha. Entrou para a vida religiosa após se formar e, em 1402, recebeu o título de cardeal. Seus serviços com a Igreja Católica teve início durante o papado de Gregório XII. Na ocasião, havia outro antipapa em atividade, Alexandre V. Este foi o primeiro papa cismático em Pisa e, quando faleceu, abriu-se o processo de escolha para seu sucessor. Nesta jogada entrou Baldessare Cossa, que foi eleito em Bolonha no ano de 1410. O cardeal assumiu como nome papal João XXIII. Porém, destaca-se, que este era um antipapa, representava o cisma vigente na Igreja Católica e era reconhecido apenas pela França, pela Inglaterra e parte da Itália e da Alemanha.
Muitos acreditam que a ascensão de João XXIII se deu por influência do rei Luís II, afoito por controlar o poder dos papas. De toda forma, o momento já era conturbado o suficiente para o cristianismo, que enfrentava um grave cisma que chegou a contar com a existência de três papas simultâneos, dois deles antipapas (Gregório XII, João XXIII e Bento XIII, respectivamente).
João XXIII não foi um papa legítimo, era reconhecido apenas por seus seguidores que representavam um grupo de cismáticos. O verdadeiro papa João XXIII, reconhecido pela Igreja Católica, exerceu seu papado muitos séculos depois e é reconhecido como um dos papas mais importantes da história do cristianismo. Depois de sofrer muita recriminação, o próprio antipapa João XXIII reconheceu seu erro e submeteu-se ao Concílio de Constança, o qual colocou fim a Grande Cisma do Ocidente. João XXIII foi deposto e aprisionado em 1415, recuperando a liberdade apenas em 1418, quando voltou a viver dignamente como cardeal.
Fora da prisão e novamente reconhecido por seu nome de batismo, Baldessare Cossa, faleceu em 1419 e foi sepultado com respeito em Florença.
Fonte:
DUFFY, Eamon. Santos e Pecadores: história dos Papas. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/biografias/antipapa-joao-xxiii/