Caça às Bruxas

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

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O termo caça às bruxas pode ser utilizado para designar historicamente a perseguição ocorrida em qualquer era às mulheres que supostamente possuíam poderes sobrenaturais, mas é usualmente mais usado para se referir aos eventos ocorridos durante cerca de quatro séculos a partir do século XV, quando a Igreja liderou uma grande investida contra mulheres que de alguma forma haviam ferido as expectativas sociais, políticas ou religiosas, normalmente de classe social mais humilde. Atualmente, a expressão caça às bruxas diz respeito especificamente à perseguição sistemática contra algum grupo.

No século XIII, a Igreja criaria o Tribunal do Santo Ofício – melhor conhecido como Inquisição – para impedir que pessoas desviadas dos ensinamentos cristãos deixassem a instituição, utilizando-se para isso de variados mecanismos de perseguição e punição. Neste sentido, costuma-se dividir a ação da Inquisição em dois períodos: o medieval, do século XIII ao XIV, e o moderno, do século XIV ao XIX. Em 1484, durante o papado de Inocêncio VIII, seria emitida uma bula oficial com condenações à prática da feitiçaria: o Summis desiderantes affectibus, que também apoiava as ações necessárias para livrar a cristandade dos praticantes de bruxaria. Dois inquisidores nomeados aproximadamente nesta época, Jakob Sprenger e Heinrich Kramer, escreveriam “O Martelo das Feiticeiras”, livro que nortearia uma série de perseguições aos acusados de bruxaria por meio de argumentos jurídicos e religiosos.

Contracapa de “O Martelo das Feiticeiras”, edição em Latim, 1669. Via Wikimedia Commons

As mulheres seriam o grupo mais acusado de prática de feitiçaria: atualmente, calcula-se que elas representavam cerca de 80% dos denunciados. Embora tenham existido acusados de todas as classes sociais, eram as mulheres mais pobres as mais vulneráveis, geralmente viúvas, que tentavam sobreviver produzindo remédios de ervas ou atuando em atendimento médico, sendo muitas vezes a única possibilidade existente em suas comunidades. Em um período de crises epidêmicas, instabilidade política e mudança social, essas mulheres seriam utilizadas como alvo de uma campanha das classes dominantes para direcionar o pânico da população, gerando histeria.

Acontecimentos negativos passaram a ser considerados como fruto da ação de bruxas. Mulheres com aparência vista como desagradável, como deficiência física, deformidades e idade avançada, ou então muito bela, que despertavam desejos não correspondidos em homens poderosos, poderiam ser denunciadas por praticar bruxaria ou então ter um pacto com o demônio. Iniciando-se no sudeste da França em meados do século XV, a caça às bruxas visava encontrar culpados por eventos que variavam de pragas e colheitas falhadas até esterilidade feminina e impotência masculina. O processo jurídico incluía mecanismos de “reconhecimento” das feiticeiras como pesá-las (bruxas eram vistas como pesando nada ou quase nada) ou mesmo amarrando-as e jogando-as em lagos ou rios abençoados previamente. Se afundassem, eram inocentes; se flutuassem, eram culpadas.

Outro mecanismo usual de “verificação” de culpados de feitiçaria era a procura por “marcas do demônio”, ou seja, marcas de nascença como pintas, verrugas ou até cicatrizes. Tal marcas seriam procuradas no corpo da pessoa suspeita em um exame público após retirada de todos os pelos corporais. Elas seriam então espetadas com instrumentos cortantes. Se houvesse sangramento, a pessoa era inocente; se não houvesse – o que era costumeiro devido à técnicas específicas dos inquisidores -, a pessoa era culpada.

Calcula-se que cerca de 100.000 pessoas podem ter sido executadas pela prática de bruxaria, normalmente pela fogueira ou, caso confessassem previamente, estrangulamento. Caso tivessem bens, eles eram confiscados, o que tornaria a Inquisição uma instituição muito rica. A caça às bruxas se estenderia pelas Reformas Religiosas do século XVI adentro, sendo os julgamentos mais famosos os ocorridos em North Berwick, na Escócia, no final do século XVI, e em Salem, nas 13 Colônias americanas, no final do século XVII. Progressivamente, porém, a influência cada vez maior do Humanismo e do Iluminismo contribuiria para a diminuição dos julgamentos por bruxaria até que, no século XVIII, eles cessaram. Atualmente, o movimento feminista considera a caça às bruxas como um verdadeiro genocídio do sexo feminino.

Bibliografia:

https://catarinas.info/a-caca-as-bruxas-uma-interpretacao-feminista/

https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-expressao-caca-as-bruxas/17587

https://sexismoemisoginia.blogspot.com/2012/08/caca-as-bruxas.html

https://www.jw.org/pt/publicacoes/revistas/g201405/caca-as-bruxas-na-europa/

https://www.wemystic.com.br/artigos/descubra-a-origem-do-termo-caca-as-bruxas/

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