Pós-colonialismo

Doutorado em Sociologia (USP, 2021)
Mestre em Sociologia (UnB, 2014)
Graduado em Ciência Política (UnB, 2010)

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição:


Ouça este artigo:

Pós-colonialismo se refere a uma perspectiva teórica e cultural que realiza uma releitura da colonização como parte de um processo global. Não é possível falar de uma teoria única pós-colonial, mas sim de uma série de estudos que trazem contribuições com orientações distintas nas mais variadas áreas de conhecimento (estudos culturais, crítica literária, ciências sociais, política, história, filosofia, etc.) e que têm em comum o fato de realizarem fortes críticas às narrativas eurocêntricas como modelo civilizatório universal. Os estudos pós-coloniais apontam para a construção de novas epistemologias e paradigmas de análise sócio-cultural, agindo na valorização de saberes não hegemônicos que provém dos países periféricos. Curiosamente, alguns dos principais estudos pós-coloniais foram inicialmente elaborados por imigrantes nos departamentos de crítica literária de universidades dos países europeus que eram antigas metrópoles. Tais estudos buscavam superar o colonialismo nas suas leituras sobre África, Ásia e América Latina.

O pós-colonialismo se volta contra a narrativa evolucionista eurocêntrica que por muito tempo justificou ideologicamente os processos de colonização. Tal concepção evolucionista sustentava que os países da Europa ocidental seriam culturalmente mais evoluídos, portadores de uma ideia de civilização a ser exportada do centro para a periferia. Nesse processo, as experiências dos “outros” não europeus foram sistematicamente marginalizadas da produção científica, através da canonização de formas de conhecimento produzidas pelos países dominantes. Vale lembrar, por exemplo, que as ciências sociais surgiram para explicar as sociedades e se institucionalizaram como disciplina nos países europeus, num momento em que estes detinham diversas colônias. O pós-colonialismo busca romper com essa história única e eurocêntrica, evidenciando as relações de poder que estão por trás da produção de conhecimento. Para isso, os pensadores pós-coloniais buscam desconstruir os “essencialismos” das ideias que naturalizam a inferioridade dos países que anteriormente eram colônias.

Inicialmente, o pós-colonialismo analisava apenas as consequências do colonialismo europeu. Posteriormente, a abordagem se ampliou e passou a considerar também o imperialismo dos Estados Unidos e a exclusão geral das minorias como processos ligados a um tipo de colonialismo contemporâneo.

Um dos primeiros expoentes dos estudos pós-coloniais é Edward Said. No seu livro intitulado “Orientalismo”, o autor busca mostrar a força do discurso cultural do ocidente e a ocidentalização como uma estrutura de dominação cultural para os povos outrora colonizados. Para Said, a noção de “modernidade ocidental” generaliza e ignora todas as diferenças existentes entre tão diversas culturas, ao mesmo tempo em que as inferioriza sob uma caricatura atrasada e exótica que não corresponde à realidade, mas sim à representação culturalmente construída pelas metrópoles.

Além de Said, alguns autores que se vinculam ao pós-colonialismo são Aimé Césaire, Frantz Fanon, Gayatri Spyvak, Bill Ashcroft, Boaventura de Sousa Santos, Stuart Hall e Homi Bhabha.

A perspectiva pós-colonial ganhou força com as teorias feministas, ao trazer a condição das mulheres relacionadas às suas identidades étnicas e condições de classe, no contexto de colonialidade.

Na América Latina, o pós-colonialismo também teve uma importante recepção a partir de fins da década de 1980 e aqui foi chamado pelos seus expoentes como “pensamento decolonial”. Neste projeto de empreender uma crítica ao paradigma da modernidade a partir da perspectiva histórica específica da colonialidade latino-americana, destacam-se autores como Enrique Dussel, Edgardo Lander, Aníbal Quijano, Walter Mignolo, María Lugones, Silvia Rivera Cusicanqui e Rita Segato.

Bibliografia:

LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina, 2005.

MATA, Inocência. Estudos pós-coloniais: Desconstruindo genealogias eurocêntricas. Civitas, Porto Alegre, v. 14, n. 1, p. 27-42, jan.-abr. 2014. Dossiê: Diálogos do Sul.

Arquivado em: História, Literatura
Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição: