As tendências pedagógicas do Brasil e a Didática de José Carlos LIBÂNIO, ano 1985 com o Projeto Político Pedagógico: da Construção à Implementação de Auxiliadora Monteiro OLIVEIRA (org.)
Para obter um panorama geral da situação escola e pedagogia consideramos a possibilidade do confronto como estratégia de análise.
Segundo o autor José Carlos LIBÂNIO (1985) houve concordâncias de classificação de tendências pedagógicas em dois grupos: as de cunho liberal- Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e Tecnicismo Educacional; as de cunho progressista- pedagogia Libertadora e pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.
Tais classificações intermediaram o processo de aprendizagem dos brasileiros e que tem prevalecido até os dias atuais na prática escolar a didática tradicional e os propósitos de renovar ou inovar as práticas pedagógicas de formação mental, de desenvolvimento do raciocínio, que ficaram reduzidas em práticas de memorização.
O confronto sugerido pela autora Auxiliadora Monteiro OLIVEIRA (2011) são as reflexões que devem permear a elaboração de um Projeto Político-Pedagógico enfatizando a especificidade da temática, acrescentando a importância do Currículo.
Para tal, a abordagem é dada em duas etapas para declarar a dimensão política do Projeto sendo fundamental, cuja inserção do sujeito como um ser atuante, comprometido, advém do ato político de EDUCAR (FREIRE, 1999); e que as premissas da educação emancipatória é impulsionar o sujeito para além do estado sócio-econômico-político-intelectual em que se encontra (KANT,1980).
Os elementos levantados por LIBÂNEO (1985, p.21) em destrinchar as etapas evolutivas da educação brasileira que abrange as décadas 50, 60, 80, 90 e exemplificar situações pedagógicas tanto na escola, quanto em sala de aula, permitem iniciar uma possível análise das Didáticas que intermediaram nesse processo, pois os conhecimentos teóricos e práticos da Didática medeiam os vínculos entre o pedagógico e docência; fazem ligação entre o para quê (opções político-pedagógicas) e o como da ação educativa escolar (a prática docente).
As reflexões e orientações sugeridas pela autora Auxiliadora OLIVEIRA (2011, p.40) estão embasadas nos conceitos de (VEIGA,1996) que a escola é o lugar da concepção, realização e avaliação do seu projeto educativo. No conceito PROJETO que é “ação organizada e prospectiva que articula as práticas, segundo esquemas estabelecidos, que arranja o presente e o liga à visão do futuro” (DIAS SOBRINHO,1992). Considera que a escola, a instituição, o ambiente lugar de “transmissão de conhecimentos historicamente construídos e a produção de novos conhecimentos /saberes” (OLIVEIRA, 2011, p.41) e que por isso, deve-se levar em consideração “a concepção de educação” (OLIVEIRA, 2011) no aspecto intrínseco de um Projeto Político- Pedagógico, ao constituir ‘como o referencial teórico para nortear os procedimentos” (p.42).
No aspecto Pedagógico, LIBÂNEO (1985) media a Pedagogia Libertadora com as situações sociais influenciáveis no desenvolvimento do aluno e nas relações professor- escolacomunidade local, cujo processo não priorizava os conteúdos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata.
Por isso, nessa Pedagogia não há proposta de Didática explícita, mas implícita sob o olhar do professor em conduzir a aprendizagem dos seus alunos. Segundo ele, a prática dessa pedagogia obteve êxito em vários setores da sociedade e que parte desse êxito foi a contribuição dos intelectuais comprometidos com os interesses populares. Entretanto, o mesmo não ocorreu em relação às escolas públicas, "especialmente no ensino de 1º grau" (LIBÂNEO, 1985), pois os representantes "dessa tendência não chegaram a formular uma orientação pedagógica-didática especificamente escolar compatível com a idade, o desenvolvimento mental e as características de aprendizagem das crianças e jovens" (LIBÂNEO, 1985).
As autoras Gestão Educacional: novos olhares, novas abordagens - trata "a concepção como referencial teórico, que deve nortear os procedimentos, processos, atividades, organização administrativa e pedagógica, estruturação curricular, organização dos tempos e espaços da escola" (OLIVEIRA, 2011). Rebate a centralização no "aprender a aprender" como casuísmo, "espontaneismo e democratismo" que SAVIANI (1989) já pregoava que a" Pesquisa é incursão do desconhecido e, por isso, ela pode ficar atrelada a esquemas lógicos e preconcebidos. O desconhecido só difere por confronto com o conhecido, isto é, se não se domina o já conhecido, não é possível detectar o ainda conhecido, a fim de incorporá-lo mediante a pesquisa, ao domínio do já conhecido"(p.38). Para OLIVEIRA, considera a opção da Concepção de Educação como perspectiva que deva subsidiar a elaboração do Projeto, e como tal há de ser constituída de autoridade, qualidade, participação, autonomia, democracia e igualdade.
Quanto José LIBÂNIO, considera a Pedagogia Crítico- Social responsável por atribuir suma importância à DIDÁTICA que tem por objeto de estudo como processo de ensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. Apresenta a Pedagogia Crítico- Social (p.38) como uma síntese de esforços de superação com traços significativos da Pedagogia Tradicional e da Escola Nova, cuja postulação de ensino é a tarefa de "propiciar aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, mediante a transmissão e assimilação ativa dos conteúdos escolares articulados no mesmo processo"[...]
Nos pressupostos de OLIVEIRA (2011) para o PROJETO (p.43) considera que deva ser assegurado no caráter de processo, de construção/reconstrução (flexibilidade) para obter os objetivos e seus resultados gradativos ou imediatos, com a participação de todos os interessados e para tanto, a definição de uma equipe de coordenação para que haja a implantação e desenvolvimento, possibilitando a capacitação de todos os participantes. Há destaque para os itens de um Projeto Político Pedagógico que vai desde a Folha de rosto (dados que identificam a instituição) até as Referências Bibliográficas. Também reporta a importância do Papel do CURRÍCULO na Construção do Projeto Político-Pedagógico e a sua aplicabilidade.
Na postulação apresentada por LIBÂNIO (1985), que dividiu em tópicos, dá ênfase a DIDÁTICA e as Tarefas do Professor, inicia com o norteamento que a disciplina propicia quanto ao estudo do processo de ensino tomado em seu conjunto, pois os "objetivos educativos e os objetivos de ensino, as condições e meios que mobilizam o aluno para o estudo ativo e seu desenvolvimento intelectual", servem para a investigação de leis e os princípios gerais do Ensino e da Aprendizagem, considera que dessa maneira há maior estabilidade para o trabalho profissional docente. Exemplifica as ações pedagógicas como busca de objetivos primordiais que deve ter a capacidade de assegurar aos alunos não apenas o domínio dos conhecimentos científicos mais sobretudo a retenção em suas memórias. E para tal, haja conformidade quanto as condições e os meios no processo de aprendizagem e independência de pensamento, além de haver a orientação quanto as tarefas de ensino para a formação da personalidade e assim facilitar as escolhas diante dos problemas e situações da vida real.
Assim, podemos defrontar as opiniões dos autores e perseguir o confronto final em que ambos estão apresentando suas argumentações propositivas: a importância do Currículo e a importância da Didática.
No aspecto Currículo, as autoras colocam a Escola que tem o Ensino como a transmissão do conhecimento social e historicamente produzido e adiciona a maneira de pensar de CONNEL(1995): "Reconhecer os processos sociais pelos quais o conhecimento é produzido e posto a circular nos permite pensar em formas alternativas pelas quais essa tarefa pode ser realizada e formas que teriam consequências sociais diferenciadas". OLIVEIRA (2011) postula a Teoria Curricular Crítica semelhante a NÓVOA (2002) que a escola tradicional com "seus espaços fechados, estrutura curricular rígida, formas arcaicas de organização de trabalho e portanto, com os seus dias contados", ceda aos novos significados para o ensino e aprendizagem, finalidade última da atividade educativa. Entretanto, traz como modelo uma escola dos anos 80, situada na Austrália para compor a sua argumentação de trabalho. Realça que a centralidade do Currículo no processo escolar não está negada, mas há necessidade de assegurar maior convivência entre os sujeitos de uma escola, e tornar-se um elemento impulsionador de uma nova categoria de organização escolar. Em seguida, apresenta as referências bibliográficas.
Sucede com o autor LIBÂNIO (1985) apresentação de sugestões didáticas variadas e em seguida, finaliza com as referências bibliográficas.
Assim, podemos considerar que os textos propositivos possuem maleabilidade média, uma vez que as postulações dos autores conferem a espaços restritos, sem subsídios experienciais para prever as consequências sociais diferenciadas, como reconhece CONNEL (1995); contudo, reconhecemos as possibilidades de vir a refutar as estruturas da Escola e programar a Nova Escola, mediante o CURRÍCULO e a DIDÁTICA.
Sunia Terra de Moura possui Licenciatura Plena em Português- UFPE e Pós- Graduação pela Faculdade Joaquim Nabuco- Recife/PE.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: pedagogia crítico – social dos conteúdos. SP: Loyola, 1985.
OLIVEIRA, Auxiliadora Monteiro (org.) Gestão Educacional: novos olhares, novas abordagens. Petrópolis- RJ: Vozes, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Autores Associados,1999. KANT, J. Crítica à razão pura. São Paulo, 1980.
VEIGA –NETO, Alfredo. Epistemologia social e disciplinas. Episteme. Porto Alegre, 1996.
DIAS SOBRINHO, José. Universidade: projeto, qualidade, avaliação e autonomia. Pro - Posições. Campinas, 1992.
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Autores Associados/ Corlez: São Paulo, 1980.
CONNEL, R.W. Justiça, conhecimento e currículo na educação contemporânea. In: SILVA, L.H. da & Azevedo, J.C. (org.). Reestruturação Curricular - Teoria e prática no cotidiano da escola. Petrópolis- RJ: Vozes,1995.
NÓVOA, Antonio. Formação de professores e trabalho pedagógico. Lisboa: Educa, 2002
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/pedagogia/estudos-de-textos-comparativos/