No que pese as questões acerca do espaço e do tempo sempre terem ocupado a mente dos filósofos, a filosofia do tempo, e mais especificamente a filosofia do espaço-tempo, surge como um ramo próprio da filosofia com o início da filosofia analítica, já no século XX. Este ramo trata de entender as características do espaço e do tempo, bem como aspectos metafísicos e epistemológicos acerca do tema. Entre as questões básicas deste ramo encontramos: O que é espaço e tempo? Existem eles independentemente um do outro? Existem independentemente da mente que os concebe? Tempo além do presente existem? E como garantir a identidade ao longo do tempo?
Cada uma destas questões possui um amplo escopo de investigação e uma história particular na filosofia geral. Muitas discussões acerca do tempo tem raízes gregas e foram desenvolvidas na idade média. Destacam-se Platão e Agostinho, que em suas Confissões, livro 11, comenta sobre a dificuldade de se oferecer uma definição para o tempo. Ainda assim, oferece a noção de que o conhecimento acerca do tempo exige o conhecimento acerca do movimento das coisas para ser apreendido, de modo que não pode haver tempo onde não há criaturas capazes de mensurá-lo.
Platão e outros filósofos gregos defenderam que o tempo era ilimitado na direção do passado. Filósofos medievais desafiaram esta noção, apresentando a ideia de finitismo temporal, a ideia de que o tempo teria um passado limitado e, portanto, um começo.
Temos ainda a disputa entre realistas e anti-realistas. Realistas defenderam que o tempo e espaço existem para além da mente humana, na realidade, enquanto anti-realistas defenderam que o espaço e o tempo não possuem existência para além do sentido que lhes dá a mente humana, embora não possam ser confundidos com idealistas, que recusam a existência de quaisquer objetos para além da mente humana, anti-realistas acerca do espaço e do tempo, em geral, recusam apenas estas duas entidades. O filósofo alemão Immanuel Kant é um exemplo de proeminente anti-realista, em sua Critica da Razão Pura, de 1781, nega que espaço e tempo sejam substâncias, entidades por si mesmas ou aprendidos pela experiência. Para Kant espaço e tempo são noções a priori que nos permitem compreender a experiência dos sentidos. No entanto, Kant nega que sejam ilusões, uma vez que o espaço é utilizado para identificar quão distantes objetos reais estão uns dos outros, enquanto o tempo é utilizado para comparar intervalos entre eventos reais.
Uma das disputas que mais influenciou os rumo da física moderna e o desenvolvimento da filosofia do espaço-tempo foi entre relativistas e absolutistas, protagonizada especialmente pelo inglês Sir Isaac Newton e pelo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz, que nunca debateram diretamente, senão pela Correspondência Leibniz-Clarke, em que o Samuel Clarke expressa as posições de Newton, tratando da natureza do espaço e do tempo no que concerne a sua existência como entidades independentes objetivas, posição de Newton, ou como uma mera construção a partir de um conjunto de relações, posição de Leibniz. Com os desenvolvimentos da física no século XX, particularmente com a unificação das noções de espaço e tempo em uma única entidade, o espaço-tempo, e especialmente após a publicação da obra Space, Time and Spacetime, pelo filósofo Lawrence Sklar, em 1976, este debate sofreu grandes alterações, passando a configurar uma disputa entre substantivismo, a defesa do espaço-tempo como substância, e relacionismo, a defesa do espaço-tempo como conjunto de relações. Debate levado a cabo por, entre outros autores, John Earman, Robert Rynasiewicz e Tim Maudlin.
Questões exploradas em filosofia do espaço e do tempo incluem ainda, o fluxo do tempo, direção do tempo, endurantismo e perdurantismo, entre outras.
Referências bibliográficas:
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Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/filosofia-do-tempo/