Revanchismo francês

Graduação em História (Universidade do Vale do Sapucaí, UNIVÁS, 2008)

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Chamamos de revanchismo o desejo que algo ou alguém tem de se vingar do outro por algo acontecido no passado, geralmente uma derrota, ofensa ou agressão. A ideia de revanche permeia toda a existência humana e seus conflitos no exercício da coexistência. O assim chamado “Revanchismo Francês” foi a postura adotada pela França durante o período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial, causado por uma série de fatores, principalmente externos, que acenderam no povo francês um desejo de vingança e revanche, principalmente contra a vizinha e recém unificada Alemanha (Império Alemão).

A Rivalidade entre França e Alemanha remonta há séculos de história, quando diferentes etnias povoaram a região central da Europa, convivendo e ampliando suas respectivas áreas de influência, por vezes de forma pacífica, por vezes conflituosa. Porém, destacamos aqui a rivalidade nascida (ou ampliada ou ainda revivida) no final do século XIX, mais precisamente no ano de 1870.

Com a intenção de Otto Von Bismarck, chanceler da Prússia, de unificar em torno de um só Estado todos os povos de língua e cultura alemã, tornou-se necessário delimitar a distribuição espacial deste novo Estado. Nessa delimitação, houve choque de interesses entre a Prússia e a Dinamarca, que disputavam o território de Schleswig Holstein, e o fizeram através de uma guerra; bem como entre os alemães e franceses pela posse da região da Alsácia Lorena.

Essa região francesa despertou o interesse da Alemanha pois, além de contar com uma expressiva população de cultura alemã, também era rica em carvão e ferro, duas matérias-primas essenciais às potências industriais do século XIX. A região esteve sob controle de França e Alemanha, mudando de mãos ao longo do tempo. Tendo pertencido ao antigo Sacro Império Romano Germânico na Idade Média, foi tomada pelo rei francês Luis XIV nos acordos da Paz de Vestfália, ao fim da guerra dos 30 anos, tendo sido devolvida à Alemanha pelo tratado de Frankfurt, que pôs fim à Guerra Franco Prussiana e a consolidou a unificação alemã.

Após a guerra, os franceses, perdedores do conflito, passaram a nutrir desejos profundos de vingança e revanche contra os alemães por terem perdido tanto as guerras napoleônicas quanto o próprio conflito Franco Prussiano. O desejo francês era então resgatar o brio da nação, do povo e do exército francês na Europa, fazer frente aos alemães em questões ligadas à industrialização e ao imperialismo, restabelecer a supremacia militar em relação ao vizinho e recuperar o controle sobre a região da Alsácia Lorena.

Todos esses fatores, somados à delicada situação em toda a Europa, aos conflitos de interesses entre as potências quanto a áreas de influência, ao confronto de perspectiva econômica entre os vários imperialismos e à questão nacionalista que permeava a maior parte dos Estados europeus, contribuíram para o declínio do equilíbrio de poder na Europa e para o acirramento de tensões que causou a Primeira Guerra Mundial.

Sendo assim, o “Revanchismo Francês” foi uma circunstância fundamental no contexto do final do século XIX e início do século XX, permeando as relações entre as potências europeias, dirigindo os rumos da política francesa na primeira metade do século e se caracterizando como uma constante importante na dinâmica dos conflitos do século XX, pois perpassou e marcou as duas guerras mundiais e possui consequências até os dias de hoje, na disputa pelo controle da União Europeia.

Bibliografia:
Eric J. Hobsbawm. A Era dos Extremos. O breve século XX 1914-1991. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.

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