Campanhas abolicionistas

Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)

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A campanha abolicionista no Brasil ganhou força especialmente na segunda metade do século XIX, após a Guerra do Paraguai (1864 – 1870). A década de 1870 foi marcada por diversas ações, importantes para compreender o contexto do abolicionismo no país. A criação do Partido Republicano, da Sociedade de Emancipação no Rio de Janeiro e da Sociedade Emancipadora do Elemento Servil são acontecimentos de destaque no período. Além disso, a Lei do Ventre Livre, datada de 1871, foi um importante elemento na luta pelo fim da escravidão, embora entendida à época como uma forma de acalmar a oposição, mas que não resolvia o problema da exploração do trabalho escravo.

A lei de 1871 é um ponto importante na luta abolicionista. Enquanto as províncias do Norte aderiram às propostas legais de imediato, as do Sudeste – especialmente no contexto da produção cafeeira – demonstraram resistências e uma divisão nítida de interesses. O censo de 1872 apontou que a região Norte do país contava com apenas 37% dos escravos enquanto 59% estavam nas províncias cafeicultoras. A postura dos proprietários do Nordeste desagradou os cafeicultores do Sudeste, abalando a legitimidade da escravidão. Além disso, outro dado bastante importante é que 74% da população negra já era livre na década de 1870.

Reconhecendo a existência de famílias escravas – e não apenas de indivíduos – a Lei do Ventre Livre fez com que se organizassem fundos de emancipação. As matrículas dos escravos eram fundamentais e separavam famílias de indivíduos. Desta forma os senhores se viram obrigados a apresentar a matrícula de seus escravos pois, sem ela, qualquer pessoa de cor era considerada livre. O incômodo burocrático serviu para causar o descontentamento dos senhores, que nem sempre possuíam as matrículas. Dessa forma o Estado passava a mediar essas relações, ferindo os interesses das elites rurais. Esse movimento abre a possibilidade de organização do primeiro movimento abolicionista nos tribunais de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Ainda assim o movimento abolicionista precisou esperar. Foi preciso evitar uma guerra civil como a ocorrida nos Estados Unidos (Guerra de Secessão 1861 – 1865) ou uma rebelião de cativos como ocorrida no Haiti. A ideia era retardar a medida ao máximo, pelo menos até o fim da Guerra do Paraguai, para dispor das tropas no país. As décadas de 1870 e 1880 são, portanto, cruciais para o movimento abolicionista.

Os abolicionistas estavam divididos entre moderados e radicais, mas já tomavam as ruas e a imprensa, fazendo circular seus ideais e ganhando adeptos, especialmente em cidades como o Rio de Janeiro, então capital do Império e futura capital da República. Jornais como o Jornal do Commercio ou a Gazeta da Tarde traziam em suas páginas textos inflamados de abolicionistas como Joaquim Nabuco (moderado) e José do Patrocínio (radical). Figuras como Castro Alves são exemplos desse movimento que tomou conta do país. Joaquim Nabuco publica O Abolicionista e Castro Alves Os Escravos em 1883. A esta altura várias eram as sociedades abolicionistas no país.

Os refúgios de escravos em áreas urbanas passam a ser cada vez mais comum. Quilombos se espalham pelo Rio de Janeiro e pelo Vale do Paraíba na região de São Paulo. Alguns são famosos, como o Quilombo do Jabaquara e o Quilombo do Leblon. Neste último os sujeitos escravizados cultivavam camélias, e as flores carregavam uma simbologia em torno da campanha abolicionista. A fragilidade das camélias foi associada a frágil liberdade pela qual lutavam. Neste período plantar camélias ou carregá-las nas lapelas tinha um significado político e assim, as flores foram parte da propaganda abolicionista. Somente com a Lei Áurea, em maio de 1888 que a escravidão foi finalmente extinta do país.

Referências:

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.

SCHWARCZ, Lilia & STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

CHALHOUB, Sidney. A Força da Escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

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