Figuras de som

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

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De acordo com a Nova Gramática do Português Contemporâneo, dos autores Celso Cunha e Lindley Cintra, compreende-se que toda distinção significativa entre duas palavras, tais como dia / tia, realizada por meio de oposição ou contraste entre dois sons demonstra que cada um desses sons representa uma unidade mental sonora diferente. Essa unidade da qual o som é a realização física recebe o nome de fonema. Dessa forma, os fonemas são sons elementares com traços de distinção que os falantes produzem quando, pela emissão da voz, exprimem seus pensamentos e emoções. Logo, o fonema é um fato acústico, uma realidade registrada pelos ouvidos. Os fonemas são representados pelas letras, que por sua vez são sinais escritos.

Vale lembrar que o ser humano é um ser que atua pela linguagem, e dela faz uso para criar e recriar mundos, assim, muitas vezes os falantes se utilizam de determinados jogos com os fonemas para representar situações, fatos ou emoções. Ou ainda para proporcionar uma sensação específica ao ouvinte. Em determinados momentos, as palavras não dão conta do sentido que os emissores pretendem atribuir, ou ainda podem usar alguns fonemas para causar efeitos de sentido através da sonoridade. É neste uso criativo da linguagem que surgem os vocábulos de sons expressivos, ou a expressividade sonora através da repetição ou alternância de uma ou mais letras. Isto é o que a gramática denomina de figuras de som.

Para a maior parte dos estudos de linguagem, são classificadas como figuras de som: Aliteração, Onomatopeia, assonância e paranomásia.

Veja a seguir alguns exemplos de figuras produzidas pela expressão dos sons no uso cotidiano da linguagem:

Imagine a situação em que uma enfermeira ao passar no corredor de um hospital encontra pessoas conversando em tom de voz alto, prontamente ela emite um som levando o dedo à boca:

- xiiiiiiiiii!

Esse som transmite a mensagem de pedido de silêncio. A onomatopeia é a reprodução do som que representa a coisa, o animal ou a mensagem que se quer transmitir.

Ou ainda quando uma criança muito pequena quer narrar uma história em que presenciou um acidente entre dois carros, geralmente ela emite o som, reproduz o som da batida, dessa forma o adulto é capaz de compreender que houve um impacto. “pow!!!!”

Considera-se, nesse sentido, que as figuras de som possuem uma função linguística comunicativa que vão além da parte poética, na qual (poesias e músicas) se valem da expressividade da língua como recurso estilístico. A figura de som, bem como outros tipos de figuras de linguagem, nos servem em contextos diversos para complementar o sentido da comunicação e torná-la efetiva entre os falantes.

Nas figuras de som classificadas conceitua-se da seguinte maneira:

A aliteração é a repetição de um fonema igual ou parecido que sugere sonoramente um pensamento ou uma emoção.

A onomatopeia é a figura de som que se organiza em uma sequência sonora conferindo o significado do objeto, animal ou fenômeno através da emissão dos fonemas que os representam. Por exemplo, para representar um cachorro é comum a criança fala: Olha o “au au”, papai.

A assonância é considerada uma figura de harmonia. Isto porque ela produz um efeito harmônico na frase elaborada pela repetição intencional dos sons das vogais, idênticos ou semelhantes, dentro do texto.

A paranomásia é um recurso estilístico definida pela relação da sonoridade entre as palavras. Usa-se palavras parônimas para produzir o efeito desejado e enfatizar a ideia expressada pelo emissor. As palavras parônimas caracterizam-se por suas grafias e pronúncias semelhantes, porém com significados diferentes.

Exemplo de palavras parônimas: cavaleiro /cavalheiro; delatar / dilatar; retificar / ratificar.

Bibliografia:

ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica – brincando com a gramática. 3. ed. – São Paulo: Contexto, 2002.

ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico – brincando com as palavras. – São Paulo: Contexto, 2002.

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

HILST, Hilda. Cantares. – São Paulo: Globo: 2004. – (Obras reunidas de Hilda Hilst)

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Editora Vozes. 1977.

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Para educar crianças feministas um manifesto. Tradução: Denise Bottmann. – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

Arquivado em: Linguística, Português
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