Desdiferenciação celular

Mestre em Zoologia (UESC, 2013)
Graduado em Ciências Biológicas (UEG, 2010)

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Os seres vivos são agrupados em diversas categorias e uma dessas divisões envolve o número de células que compõe um organismo podendo ser unicelulares (formados por uma única célula) ou pluricelulares (formados por um conjunto de células). Nos organismos unicelulares, sua única célula exerce todas as funções do corpo, seja de reprodução até absorção de nutrientes e respiração, já nos organismos pluricelulares, as células se diferenciam e se especializam para exercerem diferentes funções. No entanto, mesmo os organismos pluricelulares iniciam sua jornada com apenas uma célula e após a fecundação, essa célula vai passar pelo processo de mitose, a divisão celular e essas células novas vão se diferenciar (se especializar em uma tarefa). A diferenciação celular é causada pela atividade gênica variada nas células de um organismo feita pela síntese de proteínas específicas.

O processo de desdiferenciação celular seria então o oposto da diferenciação celular, ou seja, nesse caso uma célula já diferenciada retorna para seu estado mais primitivo, um estado denominado como funcional, não especializado, onde a célula ainda não tem função aparente. Esse estado primitivo é causado pela ausência de componentes na matriz extracelular. Ao voltar ao seu estado primitivo e se diferenciar novamente, a célula voltará a exercer a mesma função que antes exercia. Há uma possibilidade de que a célula se diferencie e comece à exercer outra função, no entanto isso ainda é apenas uma hipótese e não há certeza de que isso possa acontecer.

A desdiferenciação celular é mais comum em tecidos vegetais, no entanto há casos em animais como anelídeos, alguns artrópodes e até em vertebrados, como peixes. A desdiferenciação celular é um importante mecanismo de regeneração de tecidos, uma vez que, ao perder parte dos tecidos, algumas células próximas ao local lesionado podem se desdiferenciar, voltando ao estado de célula-tronco, e se diferenciarem novamente recuperando o tecido perdido. Ao se desdiferenciarem, principalmente em uma região onde parte do tecido tenha sido perdida, as células podem se acumular em algum ponto dando origem ao que chamamos de blastema. O blastema é um agregado de células, ainda em estado mais primitivo, ou seja, sem diferenciação mas já com a tendência para a formação de algum tecido ou órgão.

A desdiferenciação celular pode ser induzida, as chamadas células-tronco de pluripotência induzida, ou somente iPS. Esse processo de reprogramação é induzido pela inserção de um vírus nas células adultas que altera o código genético dessas células forçando-as à retornar ao estágio de célula-tronco embrionária, ou seja, esse vírus induz o processo de desdiferenciação. Essas células-tronco de pluripotência induzida, por retornarem ao estado original, possuem alta capacidade de diferenciação e e regeneração tecidual, sendo assim, se direcionadas e induzidas podem auxiliar em processos de regeneração.

Um exemplo facilmente visível para nós do efeito da desdiferenciação celular é a regeneração de membros feita por alguns répteis, como a lagartixa. A lagartixa, para fugir dos predadores, realiza um processo chamado autotomia, onde ela intencionalmente amputa sua cauda para que o predador vire suas atenções para a cauda e ela possa fugir. Após fugir, o processo de desdiferenciação inicia-se na região amputada formando o blastema que, com contribuição das células musculares esqueléticas próximas que se desdiferenciam e proliferam-se dentro do blastema voltam a se diferenciar e formar o novo membro.

A regeneração do rabo da lagartixa é iniciada com um processo de desdiferenciação. Foto: Rattawuth Malisorn / Shutterstock.com

Referências:

Alberts, B., D. Johson, A., Lewis, J., Morgan, D., Raff, M., Roberts, K., Walter, P., Wilson, J., Hunt, T. 2017. Biologia Molecular da Célula. 6 ed. Artes médicas, Porto Alegre.

De Robertis, E.D.P.; De Robertis, E.M.F. 2001. Bases da Biologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Junqueira, L.C.; Carneiro, J.. Biologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002. 542p.

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