Quem vê um sapo adulto fica chocado quando descobre como ele é filhote. Como um animal tão peculiar como o girino pode se tornar um sapo?
“...essa metamorfose ambulante...”
Raul Seixas, célebre cantor e compositor brasileiro, imortalizou o termo metamorfose como símbolo de mudanças, adaptações, capacidade de se reinventar, de se renovar. Termo também que intitula o clássico da literatura mundial “A metamorfose” de Franz Kafka. Metamorfose vem do grego e quer dizer literalmente “mudança de forma”. Muitos organismos iniciam sua vida de uma forma e vão se alterando até a chegada da idade adulta, como uma lagarta virando borboleta ou um girino que vem a se tornar sapo, mas como isso ocorre?
Vários organismos, desde invertebrados até vertebrados, apresentam metamorfose. Sendo assim, por estar presente em tantos animais de grupos diferentes o processo não ocorre de uma única forma. Fazendo uma análise mais detalhada, estudar os processos metamórficos envolveriam uma série de características anatômicas e fisiológicas que ocorrem durante o desenvolvimento do indivíduo. No entanto, aqui focaremos nas duas categorias principais: a metamorfose completa e a incompleta.
Antes de entrarmos nessas categorias, precisamos nos familiarizar com três conceitos: ametábolos, hemimetábolos e holometábolos. É importante lembrar que esses conceitos se aplicam à metamorfose de invertebrados.
- Ametábolos (do grego a=sem; metábolo=mudança): são as espécies que não passam por nenhuma etapa de metamorfose ao longo de sua vida, ou seja, o indivíduo que sai do ovo é uma miniatura exata do adulto.
- Hemimetábolo (do grego hemi=metade; metábolo=mudança): são as espécies que apresentam alteração parcial na sua anatomia, os juvenis são muito similares aos adultos, no entanto não possuem algumas estruturas ainda, como asas e sistema sexual desenvolvido.
- Holometábolos (do grego holo=total; metábolo=mudança): são as espécies que apresentam mudança completa na anatomia do jovem para o adulto. Os indivíduos saem do ovo ainda na fase larval e passam pelo processo da metamorfose completa até chegaram à fase de imago (fase adulta).
Lendo esses conceitos já deu para imaginar a diferença entre a metamorfose completa e a incompleta não é? Vamos clarear as coisas então:
Metamorfose completa
É o processo metamórfico onde o indivíduo sofre alteração total na sua anatomia desde a fase juvenil até a fase adulta, onde o indivíduo sai do ovo no formato larval e sua primeira forma em nada se parece com a última. Indivíduos que passam por essa transformação são chamados de holometábolos.
Veja este vídeo de time-lapse da metamorfose completa de uma borboleta:
Metamorfose incompleta
Ao contrário do processo anterior, nesse caso não há uma alteração tão drástica na anatomia do indivíduo que passa de filhote para adulto. O indivíduo ao sair do ovo é chamado de ninfa, e já possui o formato bem similar ao imago, com a exceção de algumas estruturas ainda pouco desenvolvidas como asas e sistema sexual.
No entanto, como dissemos anteriormente a metamorfose, também pode ocorrer em vertebrados, e o caso mais conhecido é o dos anfíbios. Boa parte das espécies de sapos botam ovos, e o filhote quando sai se assemelha a um alevino (filhote de peixe), sem patas e com a cauda longa, que facilita a natação, já que geralmente nascem na água. Nessa fase ele é chamado de girino. O desenvolvimento prossegue e os membros traseiros começam a aparecer. O girino começa a consumir os nutrientes acumulados na cauda e assim que os membros dianteiros começam a aparecer ele já se assemelha a um sapo com cauda. Quando os membros se desenvolvem melhor a cauda já se torna apenas um vestígio e ele já é capaz de sair da água, até que enfim ele atinge o estágio máximo de desenvolvimento.
É importante lembrar que não são todas as espécies de anfíbios que passam por metamorfose, algumas possuem desenvolvimento direto, ou seja, o filhote sai do ovo já com a forma adulta, porém em um tamanho bem menor.
O processo metamórfico é só uma das dezenas de estratégias de desenvolvimento que existem na natureza e nos auxilia a entender como essas espécies se desenvolveram ao longo da história bem como na identificação de características de seus ancestrais.
Referências
Pechenik, J. A. 2016. Biologia dos Invertebrados. 7ed. Porto Alegre: Artmed.
Pough, J. H.; C. M. Janis; J. B. Heiser.2008. A vida dos Vertebrados. 4ª ed. São Paulo, Atheneu.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/biologia/metamorfose/