Crônica literária

Doutorado em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (PUC-Rio, 2013)
Mestrado em Linguística, Letras e Artes (PUC-Rio, 2008)
Graduação em Jornalismo (PUC-Rio, 2001)

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A crônica literária, assim como o folhetim, tem suas origens na prosa francesa do século XIX. Filhos do jornal, tais gêneros surgem na época em que os veículos de comunicação se tornaram massificados, com tiragens relativamente grandes e conteúdo acessível ao público inculto. A partir daí, tanto o folhetim quanto a crônica passaram a ter seu lugar garantido em praticamente todos os jornais. Todavia, enquanto o primeiro se constitui num espaço reservado às narrativas ficcionais, a crônica, em regra, é um texto com linguagem um pouco mais próxima à das reportagens, que registra e comenta a vida cotidiana da cidade, do país, ou do mundo. De acordo com a crítica Leyla Perrone-Moisés:

[A] crônica de feição moderna, [...] publicada em jornal ou revista e muitas vezes reunida em volume, concentra-se num acontecimento diário que tenha chamado a atenção do escritor, e semelha, à primeira vista, não apresentar caráter próprio ou limites muito precisos. Na verdade, classifica-se como expressão literária híbrida, ou múltipla, de vez que pode assumir a forma de alegoria, necrológio, entrevista, invectiva, apelo, resenha, confissão, monólogo, diálogo, em torno de personagens reais e/ou imaginárias etc. [...] implicando sempre a visão pessoal, subjetiva, ante um fato qualquer do cotidiano, a crônica estimula a veia poética do prosador; ou dá margem a que este revele seus dotes de contador de histórias.

O escritor Affonso Romano de Sant’Anna também aponta essa característica dúplice da crônica:

É um gênero intermediário entre o jornalismo e a literatura. Como texto para jornal é aquele no qual é admitido alto grau de subjetividade. Os demais jornalistas têm que ser mais objetivos. O cronista vai ao Oriente pelo Ocidente, ou vice-versa. É também um gênero disseminador. O recorte da crônica ganha um significado especial. O leitor se apodera do texto, guarda-o na carteira, na agenda, o reproduz e o repassa como um talismã criando uma espécie de corrente. Por isto, já pensei que entre o jornal e o livro, talvez fosse necessário servir as crônicas separadamente ao leitor, e num papel mais resistente, numa caixa ou pasta onde ele escolhesse as que quisesse.

Assim, por seu estilo diferenciado e, de certa forma, liberto de exigências como objetividade, imparcialidade, urgência ou furo, a crônica se apresenta como espaço privilegiado para a defesa de opiniões que fogem ao senso comum presente na abordagem das notícias. O cronista observa o mundo e o apresenta aos leitores segundo sua interpretação, assumindo o papel do intelectual conectado com os conflitos de seu tempo. A liberdade com relação às regras que direcionam a prática jornalística concede ao cronista maior autonomia para divulgar visões alternativas a respeito de temas da atualidade e, não raro, suscitar perplexidades.

Os textos do gênero são marcados, principalmente, pelos comentários pessoais e o olhar subjetivo. Nesse sentido, a crônica funciona como um elemento de perturbação da objetividade, ampliando as possibilidades de leitura do jornal. Se os fatos e o tempo são a matéria-prima da notícia, é também com fatos e com atualidade que a crônica joga. Só que ela os explora para ultrapassá-los.

Na maioria das vezes, a crônica é desenvolvida com o tom de uma conversa leve e acessível. O texto costuma ser curto e de linguagem acessível, tornando-o mais próximo dos leitores de todas as faixas etárias. Os leitores, quando se identificam com as opiniões manifestadas pelo autor, terminam por considerá-lo como uma espécie de “amigo” mais culto, que elegem como porta-voz de suas ideias.

Com a chegada do novo modelo de jornalismo, muitos dos profissionais de imprensa que estavam acostumados aos antigos padrões optaram por se fixar na crônica, espaço onde podiam exercer à vontade o papel de polemistas, lançando mão de recursos como a sátira, a ironia, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre temas presentes no cotidiano. O intercruzamento de temas e gêneros distintos também é um aspecto que pode ser observado com recorrência.

Entre os maiores cronistas da história do jornalismo brasileiro, destacam-se Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio, Cecília Meireles, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, entre outros.

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