Os animais domésticos e silvestres possuem muitos parasitos, cujas larvas infectantes só completam seu ciclo quando alcançam seu hospedeiro próprio. As larvas desses parasitos quando infectam um hospedeiro anormal, inclusive os humanos, podem não ser capazes de evoluir nesse hospedeiro, podendo então realizar migrações através do tecido subcutâneo ou visceral e produzir as síndromes conhecidas como larva migrans cutânea, larva migrans visceral e larva migrans ocular.
Deve-se ressaltar que as manifestações patológicas do tipo larva migrans são causadas somente por formas jovens de espécies capazes de sobreviver, durante algum tempo, no hospedeiro anormal, mas que, no entanto, mostram-se incapazes de completar seu ciclo evolutivo. Aquelas que morrem ou que são destruídas rapidamente pelos mecanismos de defesa natural do hospedeiro, produzindo sintomatologia branda não devem ser consideradas larva migrans.
A larva migrans visceral é a síndrome determinada por migrações prolongadas de larvas de nematódeos de parasitos comuns aos animais, no organismo humano, que estão condenadas a morrer, depois de longa permanência nas vísceras, sem poder chegar ao estágio adulto. A espécie mais importante envolvida na síndrome é a Toxocara canis, parasito do intestino delgado de cães e gatos. Ocasionalmente, G. spinigerum, T. catti, T. caninum, também parasitos de cães e gatos Ascaris suum, parasito de suíno e o Angiostrongylus cantonensis, parasito de ratos podem provocar esta síndrome.
O homem geralmente se infecta ingerindo água ou alimentos contaminados com ovos contendo L3 e menos frequentemente ingerindo carne ou vísceras do hospedeiro contaminado. Quando ingere o ovo contendo a L3, no intestino delgado ocorre a eclosão e as L3 penetram na parede intestinal, atingem a circulação, distribuindo-se por todo o organismo. Posteriormente, atravessam os capilares sanguíneos e atingem os tecidos adjacentes, como fígado, rins, pulmões, coração, medula óssea, músculo estriado e olhos. Nestes órgãos realizam migrações, sendo que a maioria é destruída formando uma lesão típica, denominada granuloma alérgico, no qual o parasito morto encontra-se cercado por infiltrados ricos em eosinófilos e monócitos. Algumas larvas podem se encistar, mantendo-se viáveis por vários anos.
As manifestações clinicas causadas pelas migrações das larvas podem ser assintomáticas, subagudas e agudas. A severidade do quadro clinico depende da quantidade de larvas presentes no organismo, no órgão invadido e da resposta imunológica do paciente. Na maioria dos casos caracteriza-se por apresentar um quadro subclínico e sem diagnostico. A infecção é autolimitante, com duração total de 6 a 18 meses. O quadro clássico caracteriza-se por leucocitose, hipereosinofilia sanguínea, hepatomegalia e linfadenite.
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FONTE:
MACHADO, Alexandre Bortoli; EL ACHKAR, Marice Emanuela. Larva migrans visceral: relato de caso. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro, v. 78, n. 2, Apr. 2003 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962003000200009&lng=en&nrm=iso>. accesso em 04 de abril 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0365-05962003000200009.
Neves, David Pereira. Parasitologia humana, 12 ed., São Paulo, editora Atheneu, 2011.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/doencas/larva-migrans-visceral/