A filosofia hermenêutica pode fornecer uma base filosófica para a história e a cultura de modo a serem (re)introduzidas à filosofia das ciências. Tais perspectivas tratam da relação entre hermenêutica contemporânea e filosofia das ciências da natureza. Contudo, não seria correto caracterizar as perspectivas hermenêuticas da ciência como que constituindo determinado programa (EGER, 1992).
Decorre então que a análise hermenêutica comparativa se constitui no gênero especifico e culturalmente institucionalizado e por estar estreitamente associadas, a hermenêutica no âmbito das ciências naturais põem em relevo as condições culturais contingentes e analisa as características históricas e epistemológicas. As perspectivas hermenêuticas, porém, não pode ser reduzida a interpretação semântica de textos científicos, pois os aspectos fenomenológicos precisam ser considerados. Então, um paralelo pode ser traçado entre argumentos dicotômicos: mundo da vida e mundo da ciência; epistemologia neopositivista e ciência normal. A superação destas dicotomias se dá pela abordagem hermenêutico-fenomenológica às interpretações históricas dos fenômenos naturais (BEVILACQUA & GIANNETTO, 1995).
A agregação do termo fenomenologia às pesquisas estende os efeitos da história e da linguagem e reconhece a impossibilidade da descrição objetiva da realidade. Tal abordagem se envolve com o compromisso de descrever o que está por baixo e além da experiência do sujeito na realização da pesquisa fenomenológica. O projeto fenomenológico visa ir além da experiência subjetiva dos indivíduos para descrever as estruturas e essências subjacentes nessa experiência (CROTTY, 1996).
Desta maneira, a hermenêutica fenomenológica poderá fornecer certa estrutura analítica sobre a natureza dos atos da interpretação e da compreensão, de modo a jogar luz sobre o processo de pesquisa, contudo sem fornecer um conjunto de regras ou procedimentos rígidos na realização do programa de pesquisa. A hermenêutica fenomenológica faz o oposto, gerando ou ampliando os espaços de engajamento entre o objeto de pesquisa e o pesquisador (MARKUS, 1987; WACHTERHAUSER, 1994).
A hermenêutica fenomenológica tem como objetivo estabelecer uma fusão de horizontes, em que o objeto de pesquisa seja entendido não em seus próprios termos, nem sobre os termos do pesquisador, mas nos termos comuns a ambos. Estes termos comuns surgem no contexto do processo da investigação que pode ser caracterizado como dialógico. Tal abordagem na pesquisa resultará na abertura do pesquisador, de modo a ter seu entendimento confirmado ou alterado pelo que surgirá no processo do desenvolvimento da investigação (HEELAN, 2010).
A tendência da filosofia continental ao trazer perguntas críticas sobre a natureza da ciência, dos seus pontos epistemológicos e históricos, seja no contexto da tradição analítica como da pós-positivista, têm como objetivo convergir para a hermenêutica, podendo ser relevante e importante à história da ciência e à educação científica (EGER, 1992).
Referências:
BEVILACQUA,Fabio & GIANETTO, Enrico. Hermeneutics and Science Education: the Role of History of Science. Vol.4 nº 2: 1995.
CROTTY, Michael. Phenomenology and nursing research. South Melbourne: Churchill Livingstone, 1996.
EGER, Martin. Hermeneutics and Science Education: an introduction. Science & Education: 1, 1992.
HEELAN, Patrick A. Heelan. Hermeneutic Consciousness, Perception and Natural Science. Washington: Georgetown University, 2010.
MARKUS, Gyorgy. Why Is There No Hermeneutics of Natural Sciences? Some Preliminary Theses. Science in Context: 1, 1987.
WACHTERHAUSER, Brice R (ed).Hermeneutics and Truth. Evanston, IL: Northwestern University Press, 1994.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/hermeneutica-da-dicotomia-entre-o-mundo-da-vida-e-o-mundo-das-ciencias/