O caráter apenas instrutivo da educação brasileira vem se dissolvendo ao longo do tempo. Essa evolução poderá ser atribuída a alguns fatores: novo paradigma de homem e de sociedade, novas concepções de educação, novas teorias de ensino e de aprendizagem, novos pensadores e, creio que ainda mais importante, novos pensamentos, desta vez críticos, nas mentes da maioria dos cidadãos desse país, até mesmo daqueles com pouca instrução escolar.
É fato que a educação escolar tem com uma de suas funções a construção ou o despertar do pensamento crítico nos seus discentes. Mas de onde vem a criticidade daqueles que nem mesmo conheceu o caminho da escola? A resposta não é muito difícil: da mídia, dos cidadãos com instrução escolar, que compartilham esse conhecimento com o seu próximo no cotidiano, da reflexão sobre os modelos de outrora se comparados com os atuais etc.
Independente dos motivos ou motivadores da queda do modelo de educação voltada apenas à instrução é importante que saibamos um pouco mais sobre essa (re) evolução, que muito contribuiu para a democracia do ensino público, assim como da abolição da discriminação da oferta do ensino brasileiro.
Anísio Teixeira
O cenário era de desigualdades educacionais, de discriminações. Eis que em meio a tanta injustiça e pensamentos e ações dominadores surge aquele que lutaria pelos direitos dos menos favorecidos financeiramente, principalmente no quesito educação.
Inspirado pelo filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey, o brasileiro Anísio Teixeira trouxe várias contribuições e mudanças à educação do Brasil. A ele e ao seu pioneirismo devemos a implantação de diversas escolas públicas em todo o território nacional, como forma de democratizar o ensino e tornar acessível à aprendizagem, independente da classificação social do indivíduo.
Para Teixeira, como a sociedade encontrava-se transformada num novo paradigma, com novas exigências e necessidades, seria necessário, também, até mesmo como reflexo da demanda desse novo modelo de sociedade, um novo paradigma de homem. Esse novo indivíduo deveria estar preparado para os desafios advindos desse novo cenário e a educação seria o meio de proporcionar-lhe essa preparação. Todavia, essa preparação não deveria ser uma mera instrução ligada ao mercado de trabalho, mas sim uma verdadeira educação, que estimulasse o indivíduo a pensar e agir criticamente perante os problemas que o viessem confrontar.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova
O referido manifesto, assinado por 26 defensores do seu conteúdo, teve Teixeira como um de seus signatários. O documento visava à renovação do modelo de educação e, consequentemente, de escola. Por esse motivo, aos seguidores desse movimento revolucionário, deu-se o nome de escolanovistas.
Os escolanovistas procuravam, por meio do Manifesto, uma educação obrigatória, proporcionada gratuitamente pelo poder público e que fosse leiga, ou seja, não estivesse sob influência de ordem religiosa. Essa Nova Escola deveria ser implantada em todo o território nacional, quebrando de uma vez por todas as desigualdades no oferecimento do ensino, bem como na discriminação da classe pobre.
A importância da luta travada pelos escolanovistas, alicerçada no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, é sem precedentes para a educação do Brasil, que naquela época promovia um ensino que priorizava o nível acadêmico à elite e o ensino técnico à classe pobre. Nessa vergonhosa e explícita situação de favorecimento de alguns poucos é que ficou caracterizado um modelo de ensino discriminatório e seletivo, objeto de revolta dos militantes da Nova Escola.
O Manifesto também nasceu da preocupação dos seus signatários no fato de que, mesmo já passadas quatro décadas da Proclamação da República Federativa do Brasil, ainda não havia uma escola sequer que atendesse ao princípio de igualdade de direitos entre todos os indivíduos de uma nação republicana.
Além de militar na luta contra a desigualdade do ensino brasileiro, defender a sua qualidade, a sua gratuidade e obrigatoriedade pelo poder público, Anísio Teixeira ainda atuou na defesa da imprescindível formação docente e na denúncia contra atos discriminatórios realizados no âmbito educacional, entre outros.
Educar não é um ato solitário, nem tampouco egocêntrico. É um processo de doação, de defesa dos interesses comuns. Apenas pela luta de pessoas comprometidas pelo bem-estar social, por meio do compartilhamento do conhecimento adquirido pela experiência ou pela pesquisa, é que poderemos atingir um modelo cada vez mais sadio de sociedade, de indivíduo e de educação.
Referência bibliográfica:
LAGAR, Fabiana; SANTANA, Bárbara Beatriz de; DUTRA, Rosimeire. Conhecimentos Pedagógicos para Concursos Públicos. 3. ed. – Brasília: Gran Cursos, 2013.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/educacao/a-influencia-de-anisio-teixeira-na-educacao-brasileira/