Empreender no Brasil requer o preparo de um maratonista. Cumprir com alguns preâmbulos essenciais como investir, planejar, buscar capacitação, etc., iniciativas que em si mesmas abrigam certos desafios, não representa metade do caminho e, dependendo do objetivo do negócio e da determinação do “atleta”, nem o início.
O primeiro nível de dificuldades a ser superado costuma se manifestar no momento da formalização do negócio, quando surgem os entraves da burocracia e da tributação, esta última tão diversa em especificidades, que inspira desânimo ante a simples consulta. Sem falar nos óbices à tomada de crédito, uma necessidade que acaba fazendo parte do planejamento para a maioria dos casos.
Ademais, é preciso ter fôlego, paciência e tempo de sobra para cumprir com uma extenuante bateria de exigências que consiste na realização de algo em torno de 17 procedimentos e no comparecimento a até 15 órgãos do governo. Dependendo do Estado de localização da empresa, ainda é preciso desembolsar uma boa soma em taxas e tributos, pois os valores não são padronizados, e, “finalmente”, aguardar em média 101 dias para iniciar as atividades.
Contudo, há os que ultrapassam os próprios limites, mas nem bem desfrutam o êxito, se deparam com o maior dos obstáculos: conseguir adentrar o setor de interesse ou, em termos mais adequados, vencer as barreiras de entrada.
O mercado é hostil a quem só tem para oferecer um pouco mais do mesmo. Em contrapartida, é ávido por novidades que revolucionem o trivial, opções que apresentem características exclusivas, inovadoras, ideias resistentes a similaridades, enfim, alternativas de difícil reprodução. Qualquer analogia à essência da competitividade não é mera coincidência.
Não há uma definição categórica para o termo barreira de entrada. Genericamente, as considerações mais aceitas sugerem tratar-se de um mecanismo de preservação da atmosfera comercial instaurada, uma espécie de proteção configurada por práticas, políticas, tecnologias, logísticas, expertises, custos, vantagens, etc., que elevam as empresas atuantes no setor a um nível que dificulta o acesso repentino de novos concorrentes.
Numa circunstância em que é observada a diferenciação de um produto aliada à boa reputação da empresa que o fornece, por exemplo, mesmo que o iniciante disponha de uma opção que apresente real rivalidade com o que está sendo oferecido, a preferência dos consumidores, ainda que instável e suscetível a reorientação, já estará comprometida.
Diante disso, um estudo para formular estratégias, definir meios e ações para reverter o quadro visando atrair a atenção para o produto alternativo pode evidenciar desvantagens tecnológicas, logísticas, altos custos de produção, limitações para o oferecimento de descontos, gastos desproporcionais com a promoção do produto, etc., obrigando o estreante a repensar suas intenções de concorrência.
Assim, é possível entender que as barreiras de entrada são representadas por quaisquer fatores que dificultem o ingresso de novas empresas num mercado específico, bem como a exploração de setores distintos àquelas que já se encontram em atividade. No entanto, o aparecimento de novas organizações é um dos principais artifícios para se evitar o monopólio.
Levando-se em conta o que foi abordado no início do texto, àqueles que ouvem o chamado irresistível ao empreendedorismo, talvez a melhor saída, enquanto não se eliminam boa parte dos empecilhos à legitimação do empreendimento – considerando que a lição ainda não tenha sido assimilada por alguém –, seja começar de traz para frente, “turbinando” o plano de negócios com a ênfase no estudo de viabilidade através de uma avaliação profunda, qualificada e paciente, do humor do mercado e do grau de receptividade à nova solução ou proposta.
Dessa forma, é possível contribuir com o surgimento de empresas consistentes, geradoras de padrões que estimulem uma concorrência de alto nível numa relação onde todos, empresários e consumidores, sejam vitoriosos.
Referências bibliográficas:
Empresas – a dura vida do empreendedor. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=744:reportagens-materias&Itemid=39>. Acessado em: 29/08/2016.
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AGUIRRE, IÑAKI. Una introducción a las barreras a la entrada. Disponível em: <http://www.ehu.eus/iaguirre/MasterUE%20IO/Una%20introducci%C3%B3n%20a%20las%20barreras%20de%20entrada0001.pdf>. Acessado em 28/08/2016.