Costumamos ser conservadores ante o desconhecido e isso é perfeitamente normal, inclusive determinante em alguns aspectos da vida. Porém, um sinal de alerta é acionado quando não importa qual seja a pergunta acerca de como pretendemos alcançar nossos objetivos profissionais, por exemplo, começamos a dar mais importância ao percurso que à chegada. Ou pior, quando diante de compromissos cruciais, nos deixamos convencer por suposições que não sirvam para outra coisa senão justificar contratempos que talvez nunca se manifestem.
Ao aspirante a programador seria incrível trabalhar no Google, mas o pré-requisito “básico” de infindáveis semestres devorando livros e decifrando códigos aparentemente alienígenas até que se tornem seu próprio idioma já é mais que suficiente para repensar a carreira.
Obstáculos fazem parte do processo, mas não adianta ficar ruminando os inconvenientes, já que isso não os fará mais saborosos.
“Há somente dois tipos de pessoas: ”, alguém pode se apressar em dizer, “o otimista, focado em resultados, e o pessimista, sedento por problemas”. Não é este o sentido do raciocínio. A ideia é muito mais ampla e envolve o fato de sermos naturalmente avessos a situações que sugiram qualquer tipo de ameaça – basta ser imaginável ou com fundamento em teorias da conspiração – à nossa zona de conforto, ao nosso status quo. Resistimos em nos mover, a não ser que nos forneçam garantias que assegurem a manutenção do nosso mundinho ideal.
Lembro-me de uma história contada por um professor da faculdade, segundo ele, um fato real ocorrido em suas férias com a esposa na cidade de Salvador, Bahia. Por culpa das amídalas e do diabetes, começou dizendo, sempre precisou tomar suco de laranja sem gelo e sem açúcar. Já em areias baianas, fez o pedido conforme sua preferência num quiosque de praia e recebeu exatamente o oposto: um drink bifásico, metade açúcar por dissolver e metade suco com gelo. Voltando ao balcão, explicou muito educadamente que não poderia tomar aquele mosaico. Para sua completa surpresa, em vez de preparar outra bebida, o atendente simplesmente removeu as pedras de gelo, devolvendo o copo. “E o açúcar? “, perguntou o professor. “Mexe não...”, foi a resposta.
Somos tentados a nos manter inertes quando contrariados em nossa rotina. Contudo, agir assim nos torna incompatíveis com as tendências ao nosso redor, o que pode acarretar sérios problemas de adaptação e nos deixar pelo caminho, pois a medida da ilusão em já termos conquistado nosso espaço e oferecido nossa máxima contribuição é direta e prejudicialmente proporcional ao tempo que perdemos acreditando nisso.
Do ponto de vista das organizações, entre outros desafios, vencer a resistência de seus colaboradores representa um enorme transtorno, especialmente quando precisam promover transformações necessárias ao cumprimento de seus propósitos estratégicos, algo de inevitável desdobramento sobre toda a sua estrutura.
Embora para os gestores em geral não haja dúvidas sobre a necessidade de reorientar os rumos da empresa, o processo costuma esbarrar com a oposição de suas equipes. Conforme estudo sobre boas práticas de gestão de mudança efetuado pela PwC Brasil, rede de consultores de negócios, num universo de 650 empresas analisadas foi constatado que 80% delas não conseguiram atingir seus objetivos por enfrentarem a resistência de seus quadros às mudanças em curso, um número, convenhamos, bastante expressivo.
Dificuldades e incertezas sempre estarão presentes quando o que está em jogo é o futuro. Para avançar com segurança e firmeza, a mudança precisa ocorrer primeiro em nós mesmos por meio da sintonia entre a nossa disposição em fazer e o que é preciso ser feito.
Talvez seja mais simples se pensarmos como Raul, que preferia ser uma metamorfose ambulante a manter a velha opinião formada sobre tudo.