As bolachas-do-mar (também chamadas de bolachas-da-praia) são animais equinodermos da classe Echinoidea, a mesma dos ouriços. Esses animais ocorrem em áreas alagadas e pantanosas de água salgada, como as praias, tendo o hábito de se enterrar na areia ou detritos. É muito comum encontrar bolachas-do-mar por toda a costa do Brasil.
Seus corpos achatados são rígidos, cobertos por placas (ou testas) de carbonato de cálcio que são o seu esqueleto. Sua simetria é penta-radial e os indivíduos adultos das espécies catalogadas variam de tamanho total entre 6 e 10 cm. É comum observar em seus corpos a presença de sulcos, nomeados lúnulas, cobertos ou não por espinhos e pés modificados que os auxiliam na fixação ao substrato, evitando que a movimentação das ondas os removam de seus habitats. Estes mesmo cílios, aderidos a derme, auxiliam na movimentação das bolachas-do-mar.
A simetria pentâmera destes organismos pode ser vista a olho nu, na vista superior (aboral) e inferior (oral). Cinco sulcos cobertos de poros indicam o local no qual ocorrem as trocas gasosas entre o celoma e o ambiente. Em sua vista oral, é possível visualizar a boca que fica centralizada no corpo e o ânus, que curiosamente difere dos ouriços e segue um padrão de simetria bilateral, e se localiza na ponta do corpo. Acredita-se que essas características anatômicas (como a migração da posição do ânus e o corpo extremamente achatado) se relacionem com o processo da história evolutiva deste grupo de animais, passando de um hábito de vida da superfície (como os ouriços), para organismos que se enterram no substrato (conhecidos como endobentônicos).
Assim como outras espécies de equinodermos, as bolachas-do-mar possuem um sistema hidrovascular conhecido como ambulacrário. Algumas das estruturas associadas a este sistema podem ser vistas na carapaça do animal, como o madreporito na vista aboral e os filódios na vista inferior. Este sistema auxilia na propulsão do animal pelo substrato mas também ajuda na distribuição de nutrientes pelo celoma.
Apesar da maior diversidade de espécies ocorrer nos mares quentes da América do sul e Caribe, existem espécies de bolacha-do-mar também nas zonas costeiras dos oceanos mais frios do hemisfério norte. A maior parte das espécies conhecidas se alimenta de algas e matéria orgânica presente no substrato oceânico, que também lhes serve de refúgio para predadores. É comum encontrar diversos organismos vivendo em proximidade, o que facilitaria o processo de reprodução, que ocorre através de fertilização externa dos gametas liberados na água pelos adultos, que possuem sexos separados (ou seja, são dioicos). Assim como muitos outros equinodermos, seu desenvolvimento é indireto e conta com diversos estágios de larva livre nadante, que sofrem metamorfose na forma adulta somente quando o esqueleto de carbonato está completamente formado.
Um processo recente descoberto por biólogos marinhos descreveu a capacidade de clonagem das larvas de bolacha-do-mar expostas a muco de peixes predatórios. Este sinal externo serviria como gatilho para que as larvas se dividissem, reduzindo seu tamanho para evitar a predação. Aparentemente este processo de reprodução assexuada também é utilizado nos estágios larvais para reparação de tecidos.
O aquecimento continuo dos oceanos causado pelo efeito estufa afeta diretamente os animais que possuem estruturas carbonáticas como esqueleto. No caso das bolachas-do-mar especificamente, pesquisas indicam que a acidificação dos oceanos, como resultado do acúmulo de gás carbônico na atmosfera, e as mudanças locais de temperatura podem afetar os diferentes estágios larvais, afetando seu tamanho e sobrevivência.
Referências:
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Gonzalez-Bernat, M.J., Lamare, M., Uthicke, S. and Byrne, M., 2013. Fertilisation, embryogenesis and larval development in the tropical intertidal sand dollar Arachnoides placenta in response to reduced seawater pH. Marine Biology, 160(8), pp.1927-1941.
Hickman, C.P., Roberts, L.S. and Keen, S.L., 2016. Princípios integrados de zoologia . Grupo Gen-Guanabara Koogan.