Os invertebrados são responsáveis por mais de 99% dentre todas as espécies de animais e, ainda que menos de um milhão das espécies viventes tenha sido descrito até hoje, o número total das espécies animais na Terra pode ultrapassar 30 milhões. O que nos leva a crer com base no que tem atualmente descrito, identificado e estudado, que a maioria das espécies ainda não foi sequer descoberta.
Num primeiro instante, a diversidade dos invertebrados pode se apresentar incompreensível tanto quanto contemplar e entender o infinito. Porém, os incontáveis indivíduos e espécies são variações sobre alguns poucos temas prontamente identificáveis. O plano básico é um desses temas. Por exemplo, ainda que existam milhões de espécies de artrópodes, todas terão um corpo segmentado, um exoesqueleto que sofre muda por ocasião do crescimento, e apêndices articulados. Sabendo desses poucos caracteres é possível a qualquer um identificar o animal como um ARTRÓPODE.
Outra maneira de simplificar a diversidade dos invertebrados é determinar as relações evolutivas existentes entre os grupos dos animais, criando uma árvore evolutiva. E o primeiro passo é justamente reunir características exclusivas de um determinado grupo. A exemplo temos caranguejos, lagostas, camarões relacionados entre si, já que somente eles, dentre os crustáceos, apresentam um plano com cinco apêndices locomotores.
A história evolutiva de um determinado grupo é denominada FILOGENIA. A representação diagramada ou esquematizada (ou de qualquer outra forma) desta filogenia é chamada de árvore filogenética (ou cladograma).
Na diversidade dos invertebrados é preciso considerar o plano animal dentro dos princípios funcionais. Quando isso acontece é necessário tentar entender como os princípios fundamentais da física e da química irão impor limites aos planos estruturais. Um exemplo básico disso é o voo. Para voar é preciso uma asa, para planar e dar sustentação. É a física dando auxílio e limites à um determinado animal. Em um nível mais derivado estão os princípios da fisiologia, desenvolvimento e ecologia.
A pesquisa biológica deu um passo importante nos últimos anos: o estabelecimento do sistema natural. Os objetivos desse sistema são a produção do conhecimento das espécies e o arranjo delas em um padrão de hierarquia. E mais uma vez o conceito de filogenia pode ser aplicado aqui por levar-se em consideração o padrão das relações ou afinidades evolutivas.
Para finalizar essa teia inicial de conceitos temos a cladística e a árvore filogenética. A cladística é a ciência que lida com a descoberta e a representação da filogenia. Já a árvore filogenética (ou cladograma) é a representação das relações parentais entre as espécies. A cladística tem como objetivo descobrir e representar estas relações.
Funciona assim: é estabelecida uma relação de parentesco entre dois táxons (grupos nominais) graças à uma peculiaridade. Esse caractere que é unicamente compartilhado para esses dois grupos é chamado de sinapomorfia (=caráter derivado compartilhado). Esses grupos são designados grupos irmãos. Dessa forma é possível dizer que esta sinapomorfia provavelmente tenha evoluído no ancestral imediato dos grupos irmãos. Os descendentes únicos daquele ancestral comum imediato constituem um táxon monofilético (uma única origem).
Vamos adotar os artrópodes como exemplo. Crustáceos (camarões, caranguejos e lagostas) e os traqueados (insetos, centopéias e lacraias). Estes representantes destes dois grupos (táxons) apresentam um caractere comum: a mandíbula, que não ocorre em mais ninguém. Logo, tem-se uma sinapomorfia dos crustáceos e dos traqueados. Contituem um grupo monofilético e recebem um nome formal: Mandibulata.
Agora consideremos a comparação entre crustáceos e quelicerados (escorpiões e aranhas). Nota-se que eles compartilham um caractere: apêndice articulado, hipoteticamente uma sinapomorfia. Porém este caractere não é exclusividade desses dois táxons, é também compartilhado pelos traqueados. Logo, temos que isto é uma característica peculiar ancestral compartilhada denominada simplesiomorfia.
Conclusão: a comparação equivocada de crustáceos e quelicerados, tomando por base uma característica simplesiomórfica, resultando numa reunião desses táxons, é chamada de grupo parafilético.
Um táxon parafilético não reuni todos os descendentes de um ancestral, já um táxon polifilético sim.
A usuabilidade do método cladístico para espécies, grupos de espécies, grupos de grupos de espécies leva à composição da estrutura hierárquica. Isto quer dizer que as espécies estão agrupadas em grupos maiores, mais abrangentes. Exemplo: uma espécie de camarão é um tipo de crustáceo, que é um tipo de mandibulata, que é um tipo de artrópode e que é, por fim, um tipo de animal.
Bibliografia:
Ruppert, Edward E., Fox, Richard S., Barnes, Robert D. Zoologia dos invertebrados: uma abordagem funcional-evolutiva. São Paulo. Roca, 2005.