Serpentes

Por Paulo Henrique Pinheiro Ribeiro

Mestre em Zoologia (UESC, 2013)
Graduado em Ciências Biológicas (UEG, 2010)

Categorias: Répteis
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As serpentes pertencem à linhagem Lepidosauria (Lepisidos = escamas; sayros = lagartos) e à ordem Squamata, uma linhagem irmã dos crocodilos e aves, assim como os lagartos, e juntos formam a maior linhagem de répteis não-avianos. Atualmente são conhecidas cerca de 3300 espécies. Possuem ancestralidade em comum com os lagartos, e a hipótese é de que as cobras descendem de lagartos fossoriais com olhos reduzidos, ou seja, lagartos que costumavam viver abaixo do nível do solo. Sendo assim, por viverem abaixo do solo não haveria necessidade aparente de membros, logo, as linhagens de lagartos com membros cada vez menores foram sendo selecionadas até que a linhagem sem membros se tornou a predominante. É importante lembrar, que não é só a ausência de membros que separam as serpentes do lagartos, até porquê existem lagartos que não possuem membros e nem por isso são serpentes.

Uma das características mais evidentes das serpentes é ter a pele coberta de escamas, que podem variar de cor e tamanho dependendo da espécie. Essas escamas tornam a pele das cobras praticamente impermeável, e também, confere proteção mecânica.

O corpo é alongado e completamente desprovido de membros e o tamanho, pode variar de 10 cm (Leptotyphlops carlae) à 10 metros. Em tempos pré-históricos existiram serpentes maiores ainda, como a Titanoboa, com mais de 13 metros e mais de uma tonelada.

A sucuri (Eunectes murinus) com seu corpo massivo, alongado e coberto de escamas . Foto: Patrick K. Campbell / Shutterstock.com

As serpentes possuem adaptações na mandíbula para que possam engolir presas grandes, o que é uma consequência do seu crânio, mais flexível que de um lagarto. O crânio de uma serpente possui oito pontos de apoio com articulações que permitem a rotação. Além disso o crânio das serpentes não possui uma das barras temporais, tornando-o ainda mais flexível.

As serpentes são predominantemente terrestres, no entanto existem serpentes aquáticas. Inclusive, uma das serpentes com veneno mais potente do mundo é marinha, a serpente-marinha-de-bico (Hydrophis belcheri), que uma pequena porção da sua toxina é suficiente para matar 1000 pessoas.

Atualmente existem oito linhagens de serpentes no mundo: Leptotyphlopidae (com 117 espécies), Typhlopidae (369), Boidae (52), Pythonidae (41), Viperidae (305), Elapidae (347), Lamprophilidae (299) e Colubridae (1755). A única que não possui nenhum representante no Brasil é a Pythonidae.

Comportamento

As serpentes possuem quimiorreceptores, ou seja, conseguem fazer uma interpretação química do ambientes. Elas movimentam a língua bífida (com duas pontas) para dentro e para fora da boca coletando moléculas de ar e do solo. Ao retrair a língua elas levam para os órgãos vomeronasais localizados no céu da boca (também chamado de órgão de Jacobson) e aí conseguem avaliar o terreno. Elas também podem se orientar e localizar as presas por meio da visão, especialmente as serpentes arborícolas. As serpentes fossoriais, ou seja, as que vivem no subsolo, possuem olhos pouco funcionais e cabeças adaptadas para escavar.

A língua bífida auxilia na interpretação do terreno. Foto: Pranita Thorat / iStock.com

As serpentes-marinhas possuem a cauda em forma de remo, achatada lateralmente, o que amplifica a sua capacidade natatória e as narinas são localizadas na região dorsal, ao contrário das espécies terrestres que possuem na região lateral e frontal, além de possuírem válvulas que expulsam a água que entra nas narinas.

Apresentam quatro formas de locomoção:

Reprodução

Serpentes podem ser ovíparas, o que significa que elas botam ovos e os filhotes saem dos mesmos. Vivíparas, ou seja, dão à luz à filhotes já formados e ovovivíparas, nesse caso os ovos são formados mas permanecem dentro da serpente até que os filhotes rompam a casca e saiam dos mesmos.

Hábitos alimentares

As serpentes podem matar suas presas por dois métodos: envenenamento e constrição.

Constrição: a serpente captura e presa com a boca e vai gradativamente se enrolando na mesma. Cada vez que a presa exala e esvazia os pulmões, a serpente aperta um pouco mais causando sufocamento ou parada cardíaca na presa.

Envenenamento: provavelmente, essa estratégia de envenenar as presas surgiu durante o período do Mioceno, onde havia uma grande abundância de roedores, e esses representavam um risco para as serpentes por poderem arranhá-las e mordê-las durante a constrição, sendo assim uma estratégia mais eficaz seria envenená-los com uma mordida e depois segui-los até encontrá-los mortos.

As serpentes podem ser divididas em quatro tipos de acordo com a posição das presas:

As serpentes possuem uma variedade de dieta muito grande, podendo se alimentar de invertebrados até de vertebrados de grande porte. No entanto, todas as espécies são carnívoras, ou seja, se alimentam de outros animais. Virtualmente, uma serpente pode comer tudo que caiba na sua boca, inclusive ovos.

Mitos

As serpentes sempre estiveram presentes na cultura popular, pelo fascínio e receio que elas geram nos humanos, sendo assim vários mitos foram criados sobre esses magníficos animais, como os seguintes:

Toda serpente peçonhenta tem cabeça triangular”. FALSO. Jiboias tem cabeça triangular e não são peçonhentas e serpentes da família Elapidae, como as najas e as corais são extremamente peçonhentas e possuem cabeça arredondada.

Para retirar o veneno, basta sugar o local da mordida”. FALSO. O veneno vai direto para a corrente sanguínea e/ou outros tecidos, sugar o local não vai retirá-lo do corpo da vítima.

Ameaças

Atualmente, as maiores ameaças às serpentes são o desmatamento e nosso próprio medo. É importante lembrar que não é necessário temê-las, apenas respeitá-las. Então, se você ver uma serpente não tente pegá-la ou incomodá-la, apenas saia do caminho dela e siga o seu. Serpentes tem uma enorme importância ecológica, principalmente no controle de outras populações de animais, como roedores, logo, matar uma serpente simplesmente por medo, pode causar um grande problema à natureza.

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Referências

Pough, J. H.; C. M. Janis; J. B. Heiser.2008. A vida dos Vertebrados. 4ª ed. São Paulo, Atheneu.

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