A Arte Bruta surgiu no contexto da Europa pós Segunda Guerra Mundial, mais especificamente na França com o artista Jean Dubuffet. Muitos também consideram o termo Outsider Art, arte de fora em português, como uma outra definição de arte bruta. Todavia, embora os termos defendam os mesmos princípios para a arte, o segundo, foi criado por Roger Cardinal alguns anos depois de Dubuffet.
Esse momento da arte buscava dar voz a artistas que fugiam do conservadorismo artístico tanto na motivação e elaboração da obra como na divulgação. Para Dubuffet, a arte bruta era a autêntica expressão criativa do artista que, longe de padrões estéticos, colocava em suas obras seus sentimentos e emoções. Esse movimento vem como uma oposição à razão e à sistematização da arte ao valorizar a subjetividade, a individualidade e a não comercialização da obra.
Entretanto, quando a Arte Bruta é discutida e conceituada como arte, passando a ocupar espaços artísticos como museus e galerias, um paradoxo é instaurado. Ele surge no cerne do conceito de Arte Bruta, pois sua legitimação pela sociedade artística vai ao encontro do seu fundamento original que é o questionamento do mercado das artes e da cultura tradicional. Esse e alguns outros motivos foram alvo de críticas a Dubuffet e à Arte Bruta.
As colagens, pinturas e esculturas eram feitas com materiais que fugiam do convencional artístico como a tinta a óleo, o bronze e o cobre. O objetivo era expressar o que o artista estava sentindo, para isso, era utilizado tudo o que estava ao alcance para a concretização da obra. Dessa forma, os materiais iam do comum ao inusitado, por exemplo, sangue, resíduo industrial, asas de borboleta, areia, gesso, giz de cera, tinta de caneta, entre outros.
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O Bruto e a Loucura
Debuffet tinha um fascínio pelo estudo da psiquiatria, portanto, a Arte Bruta teve fortes influências dessa área. O contato com a obra A Arte do Insano (1922) aproximou os ideais da Arte Bruta da realidade da Arte Psiquiátrica. Esse fator leva muitos a definirem um caráter terapêutico para as obras brutas, embora isso seja um equívoco.
Dar uma função social para a arte era exatamente o oposto do que Dubuffet defendia. Portanto, apesar da arte desenvolvida em hospitais psiquiátricos trazer à tona a pura expressão do artista, o subjetivo e o espontâneo, o simples fato dela se tornar material de avaliação psicológica fere os fundamentos brutos.
Características da arte bruta
- Crítica aos princípios artísticos tradicionais;
- Valorização da expressão criativa, pura, espontânea e emocional do artista;
- Arte com fins não comerciais;
- Artistas com uma linguagem própria e individual;
- Influência da religião e espiritualidade nas criações com a presença de citações bíblicas, hieróglifos antigos, entre outros;
- Defesa da liberdade técnica com base em materiais diversos;
- Temáticas variadas: passionais, primitivas, obscenas, entre outras;
Artistas
Os artistas brutos não tinham formação em instituições de arte e criavam pela pura necessidade de expressão, colocando para fora o caos emocional que viviam internamente. Ademais, não é uma regra, porém, grande parte deles apresentam traumas e patologias psiquiátricas em sua história de vida. Alguns exemplos são:
- Adolf Wölfli: o artista vem de uma família pobre e foi abandonado pelo pai alcoólico logo na primeira infância. Ao longo da vida comete crimes sexuais e portanto é internado em um hospital psiquiátrico. Em seus desenhos trabalha a sobreposição de planos e a repetição de figuras características.
- Carlo Zinelli: antes de ser internado em um hospital psiquiátrico com o diagnóstico de esquizofrenia, o artista dedicou sua vida ao serviço militar. Assim, a temática da guerra é presente em suas pinturas de cores fortes e execução perfeita.
- Aloïse Corbaz: artista suíça que vive uma obsessão amorosa não correspondida. Isso a traumatiza de uma tal maneira que a sua família a interna em um hospital psiquiátrico pelo resto da vida. Dessa forma, pinta sobretudo, mulheres famosas por sua vida amorosa.
- Judith Scott: a artista nasceu com síndrome de down e era surda. Na época foi separada brutalmente da irmã gêmea e internada em um hospital psiquiátrico. 36 anos depois consegue se reunir com sua irmã e passa a criar esculturas enigmáticas com fios coloridos.
Referências Bibliográficas:
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