O Concretismo foi um movimento artístico-literário da geração Pós-Modernista. Consiste em uma arte de vanguarda cujo referencial estético é marcado pela diversidade de temas e dos modos de expressão da realidade. A arte concreta tem como objetivos principais a exploração poética do espaço e a valorização da forma em detrimento do conteúdo. Os artistas concretistas buscavam refletir a realidade pelo ponto de vista racional e em consonância aos avanços tecnológicos.
No Brasil, com a publicação da revista Noigandres, em 1956, os poetas paulistanos Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos propuseram a incorporação dos símbolos da sociedade moderna à poesia, explorando seus aspectos formais e observando a realidade de maneira crítica. Assim, a cena literária nacional ganhou uma proposta radical de experimentação com a forma poética e ruptura com o lirismo. Isso significa que a poesia intimista deveria ser substituída pela concretude das palavras, as quais deveriam ser observadas pelos pontos de vistas semântico, sonoro e visual.
Décio Pignatari e os irmãos Campos desejavam devolver aos poemas o rigor formal, rejeitado pelos primeiros Modernistas, e passaram a privilegiar o trabalho com a materialidade do texto poético (sons, ritmos, rimas, disposição dos versos, formas) retomando algumas formas fixas e modelos estéticos.
Em um movimento posterior aos poetas modernistas, os quais defendiam a libertação às imposições formais, os poetas concretistas ensejavam combater a exclusividade do verso e promover a expansão dos sentidos da poesia. Por isso, incorporaram o signo visual à arte literária como elemento carregado de significado, o qual interage com as palavras, cria novos sentidos e possibilita novas formas de leitura.
Veja as seguir a imagem do poema “Luxo”, de Augusto de Campos:
Nesse poema é possível observar as propostas do movimento croncretista e as transformações ocorridas na construção poética. O poema é intitulado “Luxo”, composto por uma única palavra “lixo”, a qual é formada pela repetição da palavra “luxo”. O texto nasce da oposição entre as palavras “luxo” e “lixo”, tem um forte apelo social e teor crítico em relação a uma sociedade dominada pelo consumo/consumismo, a qual favorece o luxo e descarta aquilo que é essencial.
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Características da poesia Concreta
A preocupação com o resgate da valorização da forma poética pode ser percebido na escolha da(s) palavra(s) exata(s), muitas vezes desdobradas em metáforas, que contribuem para a ampliação de sentidos de um poema para uma infinidade de campos semânticos. As principais características da poesia concreta são:
- aproveitamento do espaço em branco da página;
- a abolição do verso tradicional;
- disposição geométrica do conteúdo;
- conteúdo voltado aos aspectos visual e fonético (sonoro);
- uso de figuras de linguagens como aliterações, assonâncias, metáforas e paronomásias;
- emprego de caracteres tipográficos, desenhos, formas;
- uso de neologismos;
- comunica-se por meio da relação estrutura-conteúdo;
- ruptura com a sintaxe;
- abolição do eu-lírico;
- rejeição à expressão subjetiva.
Entre essas estratégias de escrita, é possível destacar o uso de elipses e o aproveitamento dos espaços em branco da página a partir da disposição gráfica das palavras. Esse tipo de recurso convida o leitor a refazer o caminho percorrido pelo artista no momento da composição literária, (re)descobrindo os diversos sentidos e possibilidades de leitura do poema.
“Os três cavaleiros do Concretismo” no Brasil
A partir da década de 1940, Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos encontravam-se aos sábados para conversarem sobre música erudita contemporânea, cinema, artes plásticas e poesia buscando compreender, em todas as suas faces, as manifestações artísticas da modernidade. Em 1952, fundaram o grupo Noigandres, termo que significa “antídoto do tédio”, mesmo nome da revista inaugurada pelos artistas em 1956. Logo na primeira publicação da revista, os artistas começaram a praticar a poesia concreta e lançaram oficialmente o Concretismo durante a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna, em São Paulo.
Décio Pignatari (1927 - 2012)
O poeta Décio Pignatari incorporou à poesia concreta sua paixão pelo estudo da semiótica, agregando signos visuais às palavras e criando poemas-código. Algumas de suas obras mais reconhecidas são Exercício findo, em 1958, Poesia, pois é poesia, em 1975, e Poetc, em 1976.
Veja a seguir dois poemas do artista:
Haroldo de Campos (1929 - 2003)
Haroldo de Campos criou textos a partir dos quais deixam evidentes, em primeiro plano, as relações da sonoridade e dos ecos entre as palavras. Essa estratégia aproximou suas obras à arte barroca em razão do alto grau de elaboração alcançado.
Entre os livros publicados, destaca-se a prosa poética iniciada em 1963 e concluída apenas em 1984, intitulada Galáxias, a partir da qual o autor revela estranhos nexos entre as palavras. Outros livros significativos para a poesia concreta são Xadrez das estrelas, publicado em 1976, e Signância quase céu, publicado em 1979.
Veja a seguir um dos poemas do artista intitulado “Crisantempo”:
Augusto de Campos (1931)
Augusto de Campos é considerado o pioneiro da poesia concreta brasileira com a publicação de uma série de poemas em cores intitulada Poetamentos, em 1955. O poeta também contribuiu com a tradução de obras de artistas estrangeiros modernos e resgatou a obrade autores brasileiros como Sousândrade e Pedro Kilkerry.
Veja a seguir um poema desse artista, considerado um dos precursores e maiores incentivadores do Concretismo no Brasil:
Como é possível observar, a poesia concreta veio para combater a exclusividade do verso, promovendo a expansão dos sentidos da poesia. Além disso, incorpora o signo visual como elemento carregado de significado que interage com as palavras, criando sentidos e multiplicando as possibilidades de leituras. O Concretismo contribuiu para o surgimento de outros movimentos poéticos como o Neoconcretismo (1959) e o Poema-Processo (1967).
Referências:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Concretismo
http://www.elfikurten.com.br/2016/02/augusto-de-campos.html
https://blog.atelie.com.br/2015/08/deciopignatari/#.YzWdpXbMLIU
https://poesiaconcreta.com.br/poema.php?id=118
CAMPOS, Augusto de. Poesia – 1949-1979. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 119.