As anãs vermelhas constituem o tipo de estrela mais comum na Via Láctea, com uma população que corresponde a 75% das 250 bilhões de estrelas existentes em nossa galáxia. Estima-se que, das 30 estrelas mais próximas do Sol, 20 sejam anãs vermelhas – incluindo a famosa Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sistema Solar, situada a apenas 4,2 anos-luz da Terra. A despeito dessa enorme quantidade de anãs vermelhas, todas elas passam despercebidas ante a vista desarmada: devido ao seu baixo brilho, nenhuma delas pode ser vista no céu a olho nu.
A principal característica das anãs vermelhas é a sua pequena massa, que se restringe a uma faixa que vai de 7,5% a 50% da massa do Sol. Em um regime de massa tão pequena, os valores de temperatura e pressão alcançados por essas estrelas são apenas os mínimos necessários para que ocorra a fusão nuclear, o que torna as anãs vermelhas as mais frias dentre as estrelas da sequência principal (i.e., estrelas que realizam a fusão de hidrogênio em hélio em seus núcleos). As temperaturas efetivas típicas de uma anã vermelha vão de 2.700 °C a 3.500 °C e justificam sua coloração avermelhada, uma vez que, quanto menor a temperatura efetiva de uma estrela, mais próxima do vermelho é sua cor. O Sol, por exemplo, uma estrela de aparência amarela, possui temperatura efetiva da ordem de 6.000 °C.
Dentre as estrelas da sequência principal, as anãs vermelhas são as menores, com diâmetros que variam de 10 a 2 vezes menores que o do Sol, o que contribui para que elas sejam também as menos brilhantes e, de modo geral, de mais difícil detecção. Sendo objetos tão compactos, as anãs vermelhas são caracterizadas por uma alta densidade, tipicamente em torno de 100 vezes a densidade do Sol.
A baixa massa e a consequente baixa temperatura das anãs vermelhas resultam em um processo de fusão nuclear de hidrogênio em hélio muito mais lento que nas outras estrelas da sequência principal. A taxa de fusão do hidrogênio é tão baixa que uma típica anã vermelha pode levar trilhões de anos para cumprir toda sua sequência evolutiva, enquanto estrelas como o Sol levam apenas 10 bilhões de anos. São as estrelas com maior tempo de vida, cujo valor esperado supera a idade atual do próprio Universo. Como consequência, nenhuma estrela anã vermelha jamais foi observada nos últimos estágios de sua evolução; não houve tempo suficiente para que esses estágios fossem atingidos desde a origem do universo.
Recentemente, o crescente número de exoplanetas descobertos em órbita de anãs vermelhas tem suscitado debates sobre a possibilidade de haver condições favoráveis à vida no entorno de estrelas tão frias e pequenas. A chance, porém, parece bastante remota em razão das violentas labaredas de radiação, conhecidas como flares, lançadas com frequência por estrelas como as anãs vermelhas. Devido à posição dos exoplanetas ao redor das anãs vermelhas, infere-se que os mais aptos ao desenvolvimento de vida – ou seja, os exoplanetas mais próximos das estrelas, onde a temperatura seria maior –, tenham superfícies completamente esterilizadas pela passagem das flares, que poderiam inviabilizar também a existência de atmosferas planetárias. Naturalmente, as atuais conjeturas são sobre vida na forma que nos é familiar; seria ainda possível que formas exóticas de vida sobrevivessem em ambientes tão hostis.
Referências:
MOURÃO, R. R. F. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1987. p. 32, 284, 287.
REDD, N. T. Red Dwarfs: The Most Common and Longest-Lived Stars. Disponível em <https://www.space.com/23772-red-dwarf-stars.html>. Acesso em 02 de jan. 2018.
SARAIVA, M. F. O. Etapas evolutivas das estrelas. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/~fatima/ead/estrelas.htm>. Acesso em 02 de jan. 2018.