A arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), pertence à classe das aves, ordem Psittaciformes e família Psittacidae, sendo o maior representante desse grupo, com cerca de 1 metro da cabeça à cauda. Possui coloração azul cobalto, degradé da cabeça para a cauda, e amarelo ouro no entorno dos olhos, pálpebras e uma faixa na base da mandíbula. A cor da face inferior das rêmiges (penas das asas) e retrizes (penas da cauda) é preta. Não apresenta dimorfismo sexual. Atualmente, sua distribuição está restrita a três populações principais localizadas no sudeste do estado do Pará, na fronteira dos estados Piauí, Bahia e Tocantins, e no Pantanal. Sua população atual está estimada em cerca de 6.500 indivíduos, sendo que 64% habita o Pantanal Sul.
Essa espécie é altamente especializada quanto ao habitat. No Pantanal, por exemplo, esses animais são praticamente dependentes de três espécies vegetais: duas palmeiras, cujas nozes ela utiliza para alimentação, o acuri (Scheela phalerata) e a bocaiuva (Acrocomia aculeata), e o manduvi (Sterculia apetala) espécie de maior importância, onde são encontrados 95% dos ninhos. Para conseguir se alimentar desses frutos extremamente duros, as araras-azul têm o maior e mais forte bico de todos os psitacídeos, com a mandíbula que exerce a mais forte pressão. Ao contrário das outras araras, não se alimenta somente no topo das árvores, mas também no solo, em bandos. A população que ocorre na região sul-Amazônica se alimenta mais comumente de cocos de inajá (Maximiliana maripa) e de tucumã (Astrocaryum sp.), enquanto que a população que ocorre na divisa dos estados da Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí se alimenta do coco de piaçava (Orbygnia eichleri) e de catolé (Syagrus oleracea).
No quesito reprodução, as araras-azul também se mostram muito especializadas. São monogâmicas, formando apenas um único casal que permanece junto inclusive fora da estação reprodutiva. Constroem seus ninhos em troncos ocos de grandes árvores e voltam sempre para o mesmo local de nidificação, podendo utilizar o mesmo oco de árvore por mais de uma década. Não são capazes de cavar o tronco para montar o ninho, apenas de modificar cavidades preexistentes, por isso, após o voo do filhote, outro casal de araras pode preparar o ninho no mesmo local. A escassez de cavidades com dimensões suficientes e a competição pelas já existentes têm sido apontados como os principais fatores que restringem o crescimento populacional desses animais, além da disponibilidade de alimento e da territorialidade.
A A. hyacinthinus sofreu uma queda em sua população até a década de 1980 por conta da captura de indivíduos para o comércio, da descaracterização de seu habitat natural e pela coleta de penas pelos povos indígenas. Estima-se que cerca de 10 mil indivíduos foram retirados da natureza, chegando a apenas 1.500 indivíduos no Pantanal. A situação só começou a melhorar em 1990 com o início do Projeto Arara-Azul, porém atualmente ainda é considerada globalmente em perigo de extinção e vulnerável a extinção em nível nacional, sendo sua comercialização ainda muito comum. Por ser um animal atraente, que chama a atenção e carismático, a arara-azul tem sido utilizada como espécie bandeira - espécie escolhida para representar uma causa ambiental, usada para angariar mais apoio para a conservação da biodiversidade em geral.
Bibliografia:
Grace Ferreira da Silva- Aspectos da Biologia Reprodutiva da Arara-Azul Anodorhynchus Hyacinthinus (Latham, 1790) no Mosaico Carajás/Pa - Dissertação para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, na Área de Zoologia, 2015
Neliane Guedes Corrêa & Neiva Maria Robaldo Guedes- Arara-Azul: A Utilização de uma Espécie Ameaçada em Atividades de Educação para a Conservação- Ensaios e ci., Campo Grande, v. 10, n. 3, p. 83 - 91, 2006
Tulio Dornas, Marcelo de Oliveira Barbosa, Gabriel Leite , Renato Torres Pinheiro, Advaldo Dias Prado, Marco Aurélio Crozariol & Eduardo Carrano- Ocorrências da Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) no Estado do Tocantins: distribuição, implicações biogeográficas e conservação- Ornithologia 6(1):22-35, 2013
Neiva Maria Robaldo Guedes- Araras Azuis: 15 Anos de Estudos no Pantanal- IV Simpósio Sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal, Corumbá (MS), 2004