Alexis de Tocqueville foi um pensador político francês do século XIX e um dos principais nomes ligados ao pensamento liberal. Suas preocupações teóricas o conduziram a uma ativa carreira política na França, onde foi parlamentar e ministro de Estado.
Podemos dizer que a principal preocupação de Tocqueville era o dilema entre a liberdade e a igualdade. Para ele, a humanidade estaria caminhando rumo à igualdade de oportunidades, desejável e natural, mas que poderia se constituir em uma ameaça à liberdade. Sendo assim, por trás de toda a sua obra paira sempre a seguinte pergunta: seria possível uma sociedade ser igualitária sem ferir a liberdade dos indivíduos?
Este é um tema herdado dos contratualistas do século XVII, que Tocqueville buscou resolver não apenas no nível da filosofia política, mas olhando para características das sociedades concretas do seu tempo. Tocqueville analisou o desenvolvimento sociopolítico de algumas sociedades europeias, em comparação com os Estados Unidos, descrevendo tanto os valores, hábitos e costumes dos povos estudados, quanto suas instituições políticas, com foco principalmente na relação entre a sociedade civil e o Estado. Assim, ele identificou a igualdade como a principal característica da democracia. Para ele, o desenvolvimento igualitário seria um processo universal e irrefreável nas sociedades humanas. Cada país teria o seu próprio processo democrático, com suas características particulares, definidas principalmente pela ação da sociedade civil.
Porém, Tocqueville chamou a atenção para os perigos da igualdade, ou seja, para os desvios da democracia. O maior perigo estaria na “tirania da maioria”, ou seja, na homogeneização cultural que viria a reprimir a diversidade e as manifestações de minorias. Vale ressaltar que Tocqueville tampouco desejava que as sociedades democráticas caíssem no seu oposto, ou seja, no individualismo, fomentado pela ganância econômica do capitalismo. Para ele, o egoísmo seria nocivo à democracia porque poderia fazer com que as preocupações dos indivíduos se afastassem do bem comum. Acima de tudo, o autor valorizava o espírito da cidadania, a solidariedade, a participação política e a organização da sociedade civil em prol das coisas públicas.
O autor defendia que todos esses desvios da democracia poderiam ser evitados pela atividade política dos cidadãos e por instituições democráticas. Daí a importância de um corpo de leis eficientes que garantam não apenas a igualdade de oportunidade entre os cidadãos, mas salvaguardem também as liberdades individuais. A sua defesa de um sistema político democrático liberal, que garantisse as liberdades individuais em uma sociedade igualitária, o levou a ser considerado um dos principais pensadores do liberalismo.
A sua obra foi influenciada decisivamente por uma viagem realizada aos Estados Unidos, na década de 1830. Foi lá que Tocqueville enxergou o sistema político que estaria mais próximo de garantir a coexistência harmoniosa de um processo igualitário crescente com a manutenção de liberdades individuais. O seu livro “A democracia na América”, que foi resultado dessa viagem e considerada a sua principal obra, não é apenas um importante registro histórico sobre a sociedade norte americana do século XIX. O objetivo pioneiro de Tocqueville de sistematizar seu pensamento liberal e traçar as características gerais das sociedades democráticas, o levou a se tornar um clássico do pensamento político, fundamental para entender a democracia nos dias de hoje.
Bibliografia:
QUIRINO, Célia Galvão. Tocqueville: sobre a liberdade e a igualdade. In Weffort, Francisco. Os clássicos da política. Vol. 2. São Paulo: Ed. Ática, 1999. 8ª ed. Pp. 149-187.
TOCQUEVILLE, Alexis de. Democracia na América. Belo Horizonte: Itatiaia, 1962. Série Coleção Ler e Pensar.