O antropólogo mineiro Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um dos mais importantes intelectuais do Brasil e, ao lado de outros autores que compõem o Pensamento Social Brasileiro, dedicou sua obra a compreender e interpretar as singularidades da formação de nosso país.
Darcy Ribeiro formou-se na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Teve uma grande atuação na área da educação, sendo um dos principais responsáveis pela criação da Universidade de Brasília. No início da década de 1960, Darcy ocupou cargos importantes no governo João Goulart, mas com o golpe civil-militar de 1964 foi obrigada a viver no exílio durante 12 anos. Com o enfraquecimento da ditadura, Darcy retorna ao país e dá sequência a sua carreira política, ocupando o cargo de vice-governador do Rio de Janeiro (1983-1987) e, posteriormente, de senador (1991-1997).
Darcy Ribeiro foi um grande estudioso da cultura brasileira e, em especial, dos povos indígenas que aqui habitam. Tem um extensa produção intelectual, que incluí etnografias, ensaios antropológicos e romances. A obra mais importante do autor, O Povo Brasileiro - A formação e sentido do Brasil, foi publicada em 1995 e é leitura fundamental para aqueles que desejam compreender a formação cultural de nosso povo. Nele, Darcy discorre sobre o percurso contraditório de violências e resistências que marcam o complexo processo de miscigenação característico da formação brasileira. Em O Povo Brasileiro, o encontro entre ameríndios, negros africanos e europeus colonizadores não é retratado de forma pacífica. Ao discorrer sobre os primeiros anos que sucedem a ocupação portuguesa, Darcy relata o processo de submissão de dezenas de povos indígenas ao trabalho escravo, sua ampla aniquilação por doenças vindas da Europa e a posterior catequização promovida pelos jesuítas. Ao falar sobre a vinda forçada de africanos através dos empreendimentos escravagistas, Darcy fornece um retrato pulsante das inúmeras formas de violência e desumanização sofridas pelos negros. A escravidão marca o país em profundidade e configura-se, para o autor, como elemento fundamental na compreensão do Brasil contemporâneo.
O antropólogo dá muito destaque aos processos de resistência, desconstruindo a imagem de um povo passivo. Em O Povo Brasileiro encontramos inúmeros relatos de revoltas populares e também grandiosas experiências sociais alternativas, como é o caso do Quilombo de Palmares. Segundo o autor, é nesse cenário dinâmico marcado pelo poder e a resistência que se dá o processo de miscigenação originário de uma etnia brasileira que é própria e singular, forjada na desindianização do nativo, na desafricanização do negro e na deseuropeização do branco. O modo particular como essa formação ocorre em cada uma das regiões do Brasil é também objeto de análise do livro.
Um aspecto fundamental da obra de Darcy Ribeiro é o seu esforço em propor uma análise da realidade brasileira sem importar de forma automática teorias e conceitos vindos dos países desenvolvidos, formulados para pensar realidades muito diferentes da nossa. Esta é uma antropologia que rompe com o eurocentrismo vigente na intelectualidade do país. Darcy defende uma visão positiva do povo, atribuindo o suposto atraso do Brasil aos propósitos de uma elite de origem escravocrata, submissa a interesses estrangeiros e resistente a um projeto de nação que inclua a maioria.
Bibliografia:
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro - A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
RIBEIRO, Adelia Miglievich. Darcy RIbeiro e o enigma do Brasil: um exercício de descolonização epistemológica. Revista Sociedade e Estado – Volume 26 Número 2 Maio/Agosto, 2011