Importante filósofo do Empirismo Britânico, do século XVIII, David Hume é conhecido por sua posição filosófica baseada no ceticismo, empirismo e naturalismo, posição esta que desenvolveu como um sistema filosófico abrangente. Tendo início na obra Tratado da Natureza Humana, de 1739, na qual Hume procurou examinar a base psicológica da natureza humana, esta posição o levou a concluir ser o comportamento humano governado pela paixão e não pela razão, argumentando contra o racionalismo, ao qual o empirismo se opunha com veemência. O desenvolvimento desta posição também o levou a afirmar uma ética sentimentalista, a qual seria baseada nos sentimentos ou emoções humanas, em oposição a uma ética baseada em princípios morais abstratos.
Uma das principais inovações conceituais apresentadas por Hume foi a expansão da distinção de argumentos demonstrativos e prováveis, apresentada por Locke. De acordo com Hume haveriam três tipos de argumentos, as demonstrações, as provas e as probabilidades. Do ponto de vista empírico, as provas seriam o tipo mais relevante, pois referem-se àqueles argumentos provenientes da experiência, aos quais não se pode oferecer oposição ou apresentar dúvida, são auto-evidentes. Por esta posição, Hume defende que a razão por si mesma não seria capaz de fazer surgir ideias originais.
Hume foi ainda mais longe em sua posição empirista radical, argumentou que a causalidade não pode ser justificada racionalmente, sendo nossa crença na existência da causalidade um mero resultado da conjunção constante de experiências e do hábito proveniente desta conjunção.
Hume adicionou um importante aspecto à discussão acerca do método científico, ao afirmar que, para elaborar-se as premissas necessárias a um raciocínio indutivo, é preciso utilizar o próprio raciocínio indutivo, o que resultaria em uma argumentação circular. Assim sendo, não estamos racionalmente justificados a confiar em raciocínios indutivos e portanto não podemos afirmar que o futuro será como o passado, o fato de que temos de supor a constância para poder afirmar que o evento acontecerá novamente mostra que não há razão para pensar que será assim, apenas estamos acostumados a pensar que os eventos, como por exemplo o nascer do Sol, irão se repetir devido a termos experienciado a sua repetição no passado. Este tópico é conhecido como "problema da indução" e permanece um ponto de discussão ativo na filosofia contemporânea.
Afim de explicar a natureza das percepções da mente humana, e assim oferecer uma base sólida para seu sistema, o autor estabeleceu que tais percepções constituiriam-se a partir dos objetos mentais, aos quais também chamou "percepções mentais". Estes objetos mentais dividiriam-se em duas categorias: Impressões e Ideias. Comentadores posteriores tem entendido que esta distinção trata dos conceitos de "sentimento" e "pensamento" respectivamente, já que Hume distingue as impressões das ideias devido a sua vivacidade e força, chegando a afirmar que as impressões seriam a forma original das ideias, o que hoje é entendido, graças ao trabalho de Don Garret, como significando que todas as ideias são, em ultima análise, cópias de impressões originais. Deste modo, nada novo poderia surgir na mente humana se não por meio da experiência, que geraria impressões, das quais por sua vez se derivariam as ideias. Entendido desta forma, a hipótese dos dois tipos de objetos mentais dá base para a recusa de Hume em aceitar que a mente humana seria capaz de fazer surgir ideias originais por meio da razão, explicando sua recusa frente ao racionalismo de autores como Descartes.
Referências bibliográficas:
Ayer, A. J. Hume. São Paulo: Loyola. 1986.
Hume, David. Inquiry Concerning Human Understanding, 1748.
Norton, D. F. "An introduction to Hume's thought", in The Cambridge companion to Hume. Cambridge University Press, 1993.
Quinton, Anthony. Hume. São Paulo: Editora UNESP. 1999.