Fernando Henrique Cardoso, também conhecido como FHC, foi um político e destacado sociólogo brasileiro, um dos autores da mundialmente conhecida “teoria da dependência” que tentou explicar problemas socioeconômicos do Brasil e da América latina. Cardoso também se tornou notório pela sua participação no desenvolvimento do chamado “Plano Real”, que substituiu a moeda brasileira e conteve a inflação galopante dos anos 1980 e por ter sido presidente do Brasil de 1995 até 2002.
Fernando Henrique Cardoso nasceu no ano de 1931, no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos primários, embora tenha vindo a concluir os secundários em São Paulo, por conta da carreira de seu pai. Vindo de família abastada e tradicional, desfrutou desde a infância de professores particulares de francês e da melhor escola de Higienópolis, frequentada pelos filhos das elites tradicionais da cidade.
Em 1949 Fernando Henrique consegue passar, via concurso, para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Cardoso teve como mestre e orientador, durante o seu doutorado na USP, o célebre sociólogo Florestan Fernandes, um dos grandes renovadores da sociologia moderna. Junto com seu colega Octávio Ianni, e sob a supervisão de Florestan, estudou as condições de vida da população negra descendente de escravos em São Paulo.
A genealogia de Fernando Henrique Cardoso, além de indicar privilegiada origem social, é profundamente enraizada na história do Brasil, tendo sido seu avô, Toledo, um político e militar que participou da queda da Monarquia e que propôs o fuzilamento do último imperador do Brasil.
Seu pai foi um dos militares integrantes das revoltas tenentistas que marcaram o fim da República Oligárquica no Brasil, e junto a seu tio, ajudaram a compor o governo de Getúlio Vargas. Seu pai, após sair do governo em 1945, se formou em direito e seguiu carreira política, sendo um conhecido nacionalista.
Tendo crescido escutando os relatos de pessoas que, participaram ativamente da história e da vida política do país por gerações, Cardoso cresceu com uma espécie de “sentimento de hereditariedade da competência política”, como afirma o sociólogo Afrânio Garcia Jr.
Em 1953, terminou sua licenciatura e se tornou assistente do professor Roger Bastide, e depois de Florestan. Em 1963 escreveu sua tese de doutorado intitulada “Capitalismo e escravidão no Brasil meridional” e junto com Florestan Fernandes e outros intelectuais de sua faculdade, que faziam uso dos modernos mecanismos de pesquisa da Europa e dos Estados Unidos, compôs o grupo dos prestigiados pesquisadores da “escola de sociologia de São Paulo”.
Durante a década de 1950 e início dos anos 1960, engajou-se politicamente com seu pai (agora deputado federal por São Paulo) em campanhas nacionalistas, pela criação da Petrobras, defendendo o monopólio estatal de exploração do petróleo brasileiro. Cardoso se tornou editor, de uma revista do Partido Comunista, intitulada “Problemas”. Posteriormente também aceitou ser membro do conselho editorial da revista Fundamentos, fundada por outro célebre sociólogo e historiador brasileiro: Caio Prado Jr, criador da editora Brasiliense.
Entre 1962 e 1964, Fernando Henrique se empenhou na direção do Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho (Cesit) da USP, e é nesse período, entre 1962 e 1963, que ele escreve sua tese de livre docência.
Após o golpe que instituiu uma ditadura militar no Brasil a partir de 1964, foi obrigado a fugir e exilar-se no Chile, e é no exílio que o sociólogo concebe, em parceria com o chinelo Enzo Falleto a tese que lhe dará notoriedade internacional: a teoria da dependência, em 1979. Retornou ao Brasil, conseguindo dar aulas de Ciência Política na USP, contudo sua carreira foi encerrada com a instauração do AI-5, em dezembro de 1968, que levou a demissão de vários professores da instituição.
Após alçar ao cargo de diretor do Cebrap, Fernando Henrique recebe o convite de Ulysses Guimarães, diretor do MDB, único partido tolerado pelos militares, para escrever um programa a ser defendido pelos opositores do regime. Com o abrandamento do regime, se candidata e se torna senador em 1983. A partir de então, suas produções acadêmicas cedem espaço para sua atuação política. Veio a se tornar o ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, onde se tornou o responsável pelo projeto de estabilização monetária denominado de Plano Real, que ampliou seu já existente prestígio nacional e projetou sua imagem como candidato, nas eleições presidenciais de 1994
A Campanha de Fernando Henrique para a presidência, apostou no uso de sua formação intelectual como ponto positivo, afirmando que o sociólogo era apto para administrar o país, conhecendo a mundialização dos mercados em uma economia global, e ao mesmo tempo entendendo as mazelas sociais do país.
Como presidente seus maiores feitos foram, a contenção da hiperinflação dos anos anteriores, diminuição do analfabetismo e da mortalidade infantil. Sua política macroeconômica é considerada por muitos como neoliberal, por conta da rigidez orçamentária e das privatizações. O historiador inglês Perry Anderson o situa na linha do neoliberalismo que vigorou no mundo em 1990, liderado por Clinton, Blair, Schroeder e que se distinguia um pouco daquele inaugurados décadas antes por Reagan e Thatcher.
Referências:
GARCIA Jr., Afrânio. A dependência da política: Fernando Henrique Cardoso e a sociologia no Brasil. Tempo Social [online]. 2004, v. 16, n. 1 [Acessado 24 novembro 2022], pp. 285-300. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-20702004000100014>. Epub 05 Jun 2007. ISSN 1809-4554. https://doi.org/10.1590/S0103-20702004000100014. (Acessado dia: 25/11/2022).
ANDERSON, Perry. Brasil à parte: 1964 – 2019. São Paulo: Boitempo, 2020