Fernão Dias Pais Leme (1608-1681) foi um importante bandeirante, que explorou e tornou conhecida grande parte das terras do que seria mais tarde a capitania de Minas Gerais. Nasceu em Piratininga e era descendente direto dos primeiros povoadores de São Vicente. Exerceu funções na Câmara e era considerado o homem mais rico de São Paulo da época, dono de muitos escravos e de vastas fazendas.
Em 1638, participou da bandeira de Antônio Raposo Tavares ao sul, nos territórios que compõem atualmente os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Devastou as últimas reduções jesuíticas de Ibicuí, atual Rio Grande do Sul, levando milhares de indígenas escravizados.
Depois, em 1641, utilizando seu próprio contingente de índios, guerreou e expulsou esquadras holandesas da costa de Santos.
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Os jesuítas
Em 1640, inúmeros foram os tumultos na vila de São Paulo devido à resistência dos jesuítas às entradas no sertão e à captura e escravização de indígenas. Várias figuras importantes, incluindo Fernão Dias Pais, exigiram a saída dos inacianos. Posteriormente, houveram tentativas fracassadas de reintegrar os inacianos à vila de São Paulo. Até Salvador Correia de Sá e Benevides (governador do Rio de Janeiro) tentou uma conciliação, mas os paulistas sabendo de sua afeição pelos jesuítas deram mostras de que o receberiam com hostilidade, motivo pelo qual se retirou de Santos, retornando ao Rio de Janeiro.
Foi somente em 1647, depois que D. João IV expediu um alvará de perdão geral, anistiando aqueles que haviam perseguido e expulsado os jesuítas, que começaram as tratativas para o retorno dos missionários. Em fins de 1652, Fernão Dias e João Pires, dois dos maiores nomes de São Paulo, conseguiram a pacificação que possibilitou o retorno. Coube aos jesuítas aceitar as cláusulas desfavoráveis, renunciando qualquer indenização por prejuízo e sendo proibidos expressamente de acolher em suas igrejas e fazendas índios fugitivos.
Bandeira das esmeraldas
Na região de São Paulo, a busca por prata, ouro e pedras preciosas articulou-se com a procura de cativos indígenas. Assim, intensificou-se as pesquisas minerais no interior da colônia, com grande entusiasmo da Coroa.
Grandes expedições foram realizadas, incluindo a de Fernão Dias, iniciada em 21 de julho de 1674. Com pouco subsídio por parte da Coroa, a contribuição oriunda dos cofres régios, oferecida pelo Governador-Geral, mostrava-se insuficiente. A Câmara de São Paulo ofereceu uma modesta quantia, dentro dos pequenos recursos monetários. Coube a Fernão Dias juntar mais de seis mil cruzados (enorme soma para a época) do seu patrimônio para financiar a empresa.
Aos 67 anos, o bandeirante explorou vastas áreas do território que viria a ser a Capitania de Minas Gerais, desde a cabeceira do rio das Velhas até a zona do Serro Frio, região que se tornou uma das mais ricas e cobiçadas com a descoberta do ouro. Tal expedição ficou conhecida como bandeira das esmeraldas. As “pedras verdes” eram, na verdade, turmalinas e não esmeraldas, como pensava Fernão Dias.
Fizeram parte desta bandeira vários parentes, incluindo Manuel de Borba Gato (futuro descobridor da mina aurífera de Sabará), seu genro, e dois filhos, Garcia Rodrigues Pais (seu primogênito) e José Dias Pais.
Após sete anos em busca das “esmeraldas”, os recursos materiais esgotaram-se e vários companheiros desertaram, como Matias Cardoso e os capelães da bandeira. Outros tantos padeceram de doenças ou em combate com indígenas. José Dias Pais, filho ilegítimo, acabou sendo enforcado pelo próprio pai após liderar uma conspiração.
Morte e legado
Fernão Dias Pais acabou morrendo de febre palustre, no arraial denominado Sumidouro, próximo a Sabará, em 1681.
A história deste bandeirante foi continuamente apropriada, principalmente, durante o centenário da Independência, em 1920. Forneceu uma imagem idealizada das bandeiras e ajudou na consolidação de um ideal identitário que buscava no bandeirantismo a grandeza e a bravura da cultura paulista. Relacionando-as mais ao desbravamento do sertão e à busca de metais e pedras preciosas do que ao apresamento e escravização de indígenas, criou-se uma imagem idealizada e positiva.
Referências:
CARVALHO, Franco. Bandeiras e bandeirantes de São Paulo. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1940.
MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
TAUNAY, A. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo, H. L. Canton, 1924-50.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial (1500-1800). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.