Lampião

Por Valquiria Velasco

Graduada em História (UVA-RJ, 2014)

Categorias: Biografias
Ouça este artigo:
Este artigo foi útil? Considere fazer uma contribuição!

Virgulino Ferreira da Silva era o nome do maior cangaceiro do Brasil, conhecido na História como Lampião. Nascido em 1898 em Serra Talhada (PE), foi fruto de uma família abastada na região.

A História do Rei do cangaço inicia-se como fora da Lei na década de 1920. O Vai de Virgulino havia sido morto por disputas de terra e para vingar sua morte, o filho torna-se Lampião. Entra para um grupo de cangaceiros e busca a vingança. Passa logo ao comando do grupo que leva o terror pelas cidades nordestinas.

Na década de 1930, após já terem enfrentado grandes vitórias e derrotas como no caso da tentativa de tomada da Cidade de Mossoró quando perdem e não alcançam o esperado, o bando de Lampião passa então a ser procurado como o bando de maior periculosidade.

Cangaceiros do bando de Virgulino Lampião (centro). Foto: Benjamin Abrahão Botto.

São de saques à fazendas que o grupo sobrevive e adquire a fama de perigosos e cruéis, no entanto há uma forte contradição diante da figura de Virgulino Lampião, e também entre os demais cangaceiros. Enquanto a população pobre das regiões áridas do nordeste os via, em alguns casos, como heróis, os fazendeiros e o Estado os taxavam de bandidos.

Lampião e Maria Bonita, o casal que até hoje tem seus nomes associados na história se conhecem em 1930 quando Maria Déia entra para o bando de Lampião tornando-se sua mulher. Da união nasce uma filha chamada Expedita Ferreira.

Já na segunda metade da década de 1930, Getúlio Vargas impõe uma verdadeira caçada ao bando de Lampião, que era o grupo remanescente entre os cangaceiros. A ordem social imposta por Vargas no período do Estado Novo demonstra o autoritarismo de seu governo.

Em 1938, no pouso considerado por Lampião como o mais seguro, seu bando foi emboscado na madrugada, provavelmente por fruto de uma traição. Dos 34 cangaceiros presentes no grupo, onze morreram no ataque, os demais fugiram desolados pela morte do líder que foi um dos primeiros a perecer na emboscada.

Os policiais que realizaram o ataque degolaram aqueles que mesmo feridos ainda viviam, como foi o caso de Maria Bonita. Com grande requinte de crueldade aos nossos olhos, mas seguindo costumes da época os policiais recolhem as cabeças e deixam os corpos para os urubus. As cabeças dos cangaceiros do bando de Lampião passam então a serem expostas em praça pública nas cidades do sertão nordestino, como exemplo do destino daqueles que seguiam a vida do cangaço.

A ciência da criminologia da época, baseada na crâniologia, acreditava que pessoas com determinadas características físicas teriam maior propensão ao crime que outras, por isso os crânios de Lampião e seu bando passam por apurados exames médicos, onde tiram medidas e são pesados a fim de encontrarem seus padrões criminosos.

Depois de viajarem até o sul do Brasil expondo os restos mortais dos cangaceiros o Estado os envia para a Universidade Federal da Bahia, onde tornam a ser examinados e são depois colocados em exposição no Museu Antropológico Estácio de Lima, ficando ali por três décadas.

As famílias dos cangaceiros lutaram por anos pelo direito de enterrar seus corpos, o que só foi concedido após grande pressão pública e da Igreja Católica em 1965 pela Lei 2.867. As cabeças de Lampião e Maria bonita foram enterradas em 6 de fevereiro de 1969, seus companheiros de bando recebem o mesmo tratamento cerca de uma semana depois.

Referências bibliográficas:

ARAÚJO, Bernardo Goytacazes. A Instabilidade Política na Primeira República Brasileira. Juiz de Fora: Ibérica. 2009.

CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião: O Rei dos Cangaceiros, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1995.

JASMIN, Élise, Cangaceiros. Ed. Terceiro Nome, São Paulo, 2006.

Este artigo foi útil? Considere fazer uma contribuição!