Manuel de Borba Gato (1649-1718) é um personagem histórico brasileiro. Foi o bandeirante que ganhou notoriedade graças às explorações e descobertas de áreas auríferas do Rio da Velhas, Sabará e Caeté, na capitania de Minas Gerais. Era filho de João de Borba e Sebastiana Rodrigues. Casou-se em 1670 com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias Pais, conhecido como o “caçador de esmeraldas”.
Entre os anos de 1674 e 1681, integrou a chamada “bandeira das esmeraldas” liderada por Fernão Dias Pais, seu sogro. Além de metais e pedras preciosas, essas bandeiras tinham como espólio indígenas escravizados. Por fim, estabeleceram-se na Serra do Sabarabuçu, local que no final do século começaria a oferecer fartas quantidades de ouro em pé. Muitos deles não retornaram à São Paulo, tornando-se os primeiros povoadores de Minas Gerais e, mais tarde, do vale do São Francisco.
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Assassinato de D. Rodrigo de Castel-Branco
Em 28 de agosto de 1682, teria assassinado D. Rodrigo em uma emboscada, enquanto este viajava por uma estrada, na paragem do Sumidouro, dando-lhe três tiros de mosquete. D. Rodrigo de Castel-Branco (desconhecido – 1682) era um fidalgo espanhol e atuava à serviço da Coroa como superintendente das Minas.
Consta na documentação que o assassinato ocorreu devido às exigências de Castel-Branco para que Borba Gato lhe desse mantimentos e munições. O fato é que Borba Gato, sucessor de Fernão Dias Pais, reconheceu-se como possuidor legítimo das áreas auríferas do Paraopeba, já que foram descobertas e exploradas pelo sogro. Descontentando-se, assim, com a decisão real que concedeu direitos ao fidalgo.
Após o crime, Borba Gato passou vinte anos refugiado na serra da Mantiqueira, atingindo a região em que hoje está localizado o município de Ipatinga, em Minas Gerais. Teria se tornado líder de um grupo indígena, mantendo-se a uma distância segura da justiça colonial. Foi durante este longo período que descobriu ouro na região de Sabará e nos vales dos rios Sapucaí e Grande.
Em 1700, Borba Gato compareceu à presença do Governador das Minas, Arthur de Sá e Menezes, pedindo perdão pelo delito, já que tinha descoberto importantes áreas auríferas. Borba Gato foi nomeado guarda-mor do distrito de Rio das Velhas, e em 1702, superintendente das minas de ouro. As descobertas de metais preciosos necessitavam de práticos para diagnosticar as condições de extração. Por isso, a vasta experiência e os conhecimentos de Borba Gato tornaram-se imprescindíveis para a Coroa. Foi-lhe concedido perdão pelo seu crime e logo tornou-se um dos homens mais ricos e influentes da região das Minas.
Guerra dos Emboabas
Emboabas foi o nome dado àqueles vindos de outras capitanias e reinóis (portugueses), considerados estrangeiros pelos paulistas. Em 1705, com o auge da extração aurífera, os reinóis, mais numerosos, começaram a gozar de vantagens. Consta na documentação que Manuel Nunes Viana elegeu-se com o apoio dos reinóis do arraial da Cachoeira. Logo mandou prender alguns paulistas e desarmou todos, o que gerou uma fuga em massa. Manuel de Borba Gato interveio na situação, armando seus homens e acampando no campo do Caeté. Após uma série de conflitos e mortes, Manuel Nunes (chefe emboaba) foi intimado a retirar-se, impedindo a intensificação das rivalidades.
Manuel de Borba Gato recebeu a posse de vastas terras compreendidas entre os rios Paraopeba e das Velhas. Em 1711 recebeu também uma sesmaria (terras) em Caeté, local chamado de Tombadouro. Fundando, assim, a vila de Sabará. Ocupou outras vezes a superintendência geral das Minas e ocupou o cargo de tenente-general de Sabará. Também foi provedor dos defuntos e ausentes.
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Questionamentos e controvérsias
Entre as inúmeras homenagens feitas ao bandeirante, a que mais se destaca é a estátua inaugurada em 1963, no distrito de Santo Amaro, em São Paulo, onde Borba Gato foi representado em pose de realeza, tendo a carabina como cetro real.
Alvo de críticas de diversos movimentos sociais, a estátua foi pichada em 2016, assim como o Monumento às Bandeiras (SP), outro marco muito contestado em São Paulo. Em julho de 2021, foi incendiada e inúmeros grupos indígenas pediram a sua derrubada, considerando uma homenagem ofensiva às suas histórias e de seus ancestrais. Estas ações se integram a um movimento mais amplo de questionamento e derrubada de inúmeros monumentos e símbolos coloniais ao redor do mundo. Muitos destes monumentos são resultados de uma historiografia romântica e nacionalista do século XIX e primeira metade do século XX, caracterizadas por uma leitura de perspectiva única: a dos invasores.
Referências:
CARVALHO, Franco. Bandeiras e bandeirantes de São Paulo. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1940.
MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
TAUNAY, A. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo, H. L. Canton, 1924-50.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial (1500-1800). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.