Manuel Preto (desconhecido – 1630) foi um bandeirante do século XVII. Era Filho de Antônio Preto que em 1582 chegou ao Brasil como carpinteiro da armada de Diogo Flores Valdés e fixou-se na vila de São Paulo, onde teve quatro filhos. Há divergências sobre seu nascimento, alguns historiadores afirmam que era paulista, enquanto outros afirmam que era português e que teria vindo junto com seu pai.
Em 1580 fundou uma fazenda e ergueu, em 1615, a capela de Nossa Senhora do Ó, atual bairro da Freguesia do Ó, na zona noroeste de São Paulo. Manuel Preto era casado com Águeda Rodrigues e teve seis filhos.
Expedições ao Guairá
Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), um importante historiador brasileiro, o considerou um dos bandeirantes pioneiros no ataque às missões jesuíticas para o apresamento de indígenas no sul da colônia.
Desde muito novo já atuava em expedições e sua primeira participação ocorreu na entrada de Nicolau Barreto ao Guairá, uma cidade espanhola situada às margens do rio Paraná, em 1602. Encontra-se registros que tal entrada foi até Potosí, no Peru, só retornando à São Paulo na metade de 1604. Nela, aturaram cerca de trezentos portugueses, paulistas e mamelucos, além de milhares de índios. Em 1606 retornou ao Guairá e ao regressar de Vila Rica do Espírito Santo capturou inúmeros índios temiminós, os trazendo à São Paulo.
Atacou principalmente os aldeamentos jesuíticos de Jesus Maria, Santo Inácio e Loreto, em 1619. Tal expedição foi composta por cerca de novecentos mamelucos e dois mil indígenas, dirigidos por cerca de setenta paulistas. Apresou mais de mil índios flecheiros, que foram utilizados como mão de obra escrava em sua fazenda, segundo consta a documentação.
Várias foram as entradas no sertão do Rio Grande, conhecido como Paraná, e ao rio Uruguai. Mas foi em 1623 e 1624 que obteve grande êxito com sua expedição ao Guairá, junto com seu irmão Sebastião Preto. Lá, destruíram inúmeras reduções jesuíticas, obtendo um grande número de indígenas escravizados. A partir deste evento ficou conhecido como “herói do Guairá”. Porém, nos escritos dos missionários jesuítas, redigidos em 1687, os bandeirantes são descritos como: “gente atrevida, belicosa e sem lei, que só têm de cristãos o batismo e são mais carniceiros do que os infiéis.”
Com o passar dos anos, sua fama de grande sertanista foi aumentando e em 1626 foi acusado e processado por violências praticadas em seu ofício. Tal fato resultou no impedimento de assumir e exercer o cargo de vereador para o qual foi eleito.
Em 1628, organizou a grande bandeira ao Guairá, tendo Antônio Raposo Tavares como capitão-mor. Consta na documentação que aniquilaram as reduções jesuíticas da região, aprisionando milhares de indígenas, número superestimado, segundo historiadores. Em pouco tempo, onze das treze reduções fundadas foram completamente destruídas. Os missionários receberam ordens expressas de Madri para abandonar os aldeamentos da região do Guairá. Em 1629, destruiu ainda reduções no Ivaí, no Tibagi e no Uruguai.
Morte e redescoberta nos séculos XIX e XX
Por seus feitos, recebeu o posto de governador das ilhas de Sant’Ana e de Santa Catarina. Em maio de 1629 tomou posse de suas terras e fundou um arraial. No ano seguinte, foi morto a flechadas por indígenas em uma emboscada, notícia que foi registrada na câmara da Vila de São Paulo, em 1630.
A estátua de Manuel Preto foi encomendada em 1919, pelo então diretor do Museu Paulista, Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958) em uma tentativa de sintetizar e enaltecer o papel pioneiro de São Paulo na expansão das fronteiras coloniais e na consolidação da hegemonia portuguesa nos territórios do Sul.
A produção de inúmeros quadros e monumentos foi importante para a fixação da imagem do bandeirante como herói brasileiro, porém, a historiografia nacionalista do século XIX construiu uma imagem heróica uma vez que, na época, a violência e o extermínio indígenas eram normalizados e considerados quase um ‘avanço natural’ da civilização. Todavia, é um equívoco essa visão civilizacional de bandeirantes como Manuel Preto. Pelo contrário, sua fama era de ser um homem violento e impiedoso até com os missionários jesuítas. Costumava não acatar ordens superiores e não temia as penas da justiça. Como disse o Padre Nicolau Duran, em 1627: “Não há no Paraguai força capaz de resistir a essa gente!”
Referências:
MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
TAUNAY, A. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo, H. L. Canton, 1924-50.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial (1500-1800). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.