Maria Madalena aparece no Novo Testamento como fiel e ardorosa discípula de Jesus. Ela foi beatificada pelas Igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana, sendo assim festejada no dia 22 de julho, inclusive pelos luteranos. Provavelmente Santa Maria Madalena é proveniente da cidade de Magdala, situada na margem ocidental do Mar da Galiléia, como bem indica seu sobrenome.
Durante muito tempo ela foi vista como uma prostituta socorrida pelo Messias, logo depois arrependida de seus pecados. Estas visões do imaginário cristão foram intensamente incentivadas pela Igreja Católica, que segundo alguns pesquisadores a viam como uma ameaça aos princípios dogmáticos acalentados pelo clero, por ter sido possivelmente mais próxima de Jesus do que admitem os Evangelhos ortodoxos.
Alguns crêem que ela pertencia a uma dinastia real, a de Benjamim, e que era esposa do Nazareno, teoria recentemente endossada pelo best-seller O Código da Vinci, de Dan Brown. Esta tese era também reforçada pelos Evangelhos Gnósticos, não aceitos pela Igreja, que tentou destruí-los quando adotou os textos oficiais que comporiam o Novo Testamento. Há cerca de 60 anos, porém, descobriram-se alguns destes documentos, preservados em vasos de barro, encontrados em cavernas na região do Mar Morto, constituindo desta forma a maior descoberta arqueológica do século XX. Entre eles, o próprio Evangelho de Maria Madalena. Estas coleções descobertas em Nag Hammadi, no Egito, em 1945, ficaram conhecidas como Os Manuscritos do Mar Morto.
De acordo com outro evangelho, o de Filipe, pertencente a este conjunto de documentos, Maria Madalena era realmente consorte de Jesus, ele a beijava muitas vezes na frente dos companheiros, e dizia amá-la mais do que aos apóstolos. Outros afirmam, porém, que estas palavras podiam significar que Jesus e Maria Madalena eram apenas companheiros, no sentido de serem muito próximos, de compartilharem os mesmos ideais. Quanto ao beijo, os textos se encontram muito deteriorados, e há algumas lacunas em trechos fundamentais, como, por exemplo, onde provavelmente estaria impressa a palavra ‘boca’, o que indica que outra palavra poderia substituir o termo deduzido por alguns teóricos. Assim, não é possível precisar em que local o Messias realmente a beijava.
Vários outros escritores, especialmente Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leigh, que publicaram em conjunto a obra O Sangue de Cristo e o Santo Graal, de 1982, que teria inspirado Dan Brown, vêem Maria Madalena como apóstola e esposa de Jesus, sendo ela inclusive a mãe dos filhos do Nazareno. Estes eventos seriam conhecidos da Igreja e teriam sido por ela ocultos dos cristãos.
No Novo Testamento, várias passagens reproduzem cenas em que Jesus teria repelido de Maria Madalena pelo menos sete demônios, o que aponta para a presença de uma mulher possuída pelo pecado. Além disso, ela teria testemunhado o martírio do Messias e sua ressurreição. Logo depois, de acordo com os Evangelhos tradicionais, ela simplesmente desaparece da história do Cristianismo. Em nenhum momento, porém, se prova concretamente, nos textos bíblicos, que ela seja a prostituta arrependida, pois este episódio relatado por Lucas não cita o nome da mulher em questão.
No Evangelho de Maria Madalena traduz-se um confronto de suma importância entre Maria, provável apóstola de Jesus, que a ela transmitia conhecimentos fundamentais, e Pedro e André, os mais próximos do Mestre, aos quais não eram repassadas estas lições. Isto teria gerado ciúmes e disputas entre eles e a seguidora dos ensinamentos cristãos, o que explicaria a insistência da Igreja em reduzir quase a zero a participação de Maria Madalena nos primeiros círculos cristãos. Alguns estudiosos acreditam mesmo que ela seja a verdadeira herdeira do Cristianismo, no lugar de Pedro, posição usurpada pelo domínio masculino.