Mário Lago foi um artista multifacetado que trilhou ao longo da vida diversos caminhos, optando inicialmente pelo literário, lançando seu primeiro poema com apenas 15 anos. Depois, além de poeta, tornou-se advogado, radialista, compositor e ator. Assinou sambas que se tornaram bastante populares, tais como “Ai, que saudade da Amélia!” e “Atire a primeira pedra”, as duas em parceria com Ataulfo de Paiva. Na voz de Carmem Miranda, a marcha carnavalesca “Aurora”, feita em parceria com Roberto Roberti, ficou também muito famosa.
Filho de um maestro, Antônio Lago, e neto de um flautista e anarquista italiano, Giuseppe Croccia, Mário Lago nasceu no Rio de Janeiro em 1911, onde se formou em Direito em 1933 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Conheceu os ideais marxistas, atuou na vida política universitária pelo centro acadêmico, tornou-se militante político, partidário do antigo Partido Comunista Brasileiro, foi preso em várias ocasiões. Casou-se com Zeli, filha do militante comunista Henrique Cordeiro, a quem conhecera em uma manifestação política, e tiveram sete filhos.
Depois de formado, atuou em teatro de revista, escrevendo, atuando e compondo. Exerceu por apenas poucos meses o ofício de advogado. Estreou como letrista de música popular brasileira assinando em parceria com Custódio Mesquita a canção “Menina, eu sei de uma coisa”, gravada em 1935 por Mário Reis. Assinou outras parcerias na mesma época, mas “Ai, que saudade da Amélia!” talvez seja a mais popular. A descrição da mulher idealizada ficou tão popular que Amélia no Brasil tornou-se sinônimo de mulher submissa, dedicada aos afazeres domésticos.
Do teatro de revista, passou a atuar também como ator de radionovela, como ator e como roteirista, assinando a radionovela “Presídio de Mulheres”. Mas foi a televisão que trouxe fama e consagração junto ao grande público, com atuação em novelas como “Selva de Pedra”, “Elas por Elas” e “Barriga de Aluguel”. Foi convidado para atuar também no teatro e em filmes, como “Terra em Transe”, de Glauber Rocha.
Contribuiu fortemente para o cinema brasileiro atuando em filmes marcantes, como “O Padre e a Moça”, “Os Herdeiros” e “Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite” e empreendeu uma bem sucedida carreira na televisão com papéis de destaque em várias telenovelas, como “Cavalo de Aço” e “O Casarão”. Marcou presença ainda na literatura, autor de livros como “Chico Nunes das Lagoas” (1975), “Na Rolança do Tempo” (1976) e “Meia Porção de Sarapatel” (1986). Em 1998, a jornalista Mônica Velloso publicou uma biografia intitulada “Mário Lago: boêmia e política”.
Em 2001, a escola de samba carioca Acadêmicos de Santa Cruz dedicou o tema do desfile à vida e obra de Mário Lago. No mesmo ano, o apresentador de televisão Fausto Silva fez uma homenagem especial a Mário Lago por toda sua carreira durante a premiação Melhores do Ano, que foi rebatizado e passou a chamar-se Troféu Mário Lago. Em 2002, recebeu solenemente em sua residência, no Rio de Janeiro, o presidente da Câmara dos deputados para lhe entregar a Ordem do Mérito Parlamentar. Mário Lago faleceu em 2002, no Rio de Janeiro, e seu velório foi aberto ao público no Teatro João Caetano, palco de momentos marcantes na carreira do ator.