Um dos responsável pela recuperação das discussões acerca da liberdade, no ambiente acadêmico, Robert Nozick é considerado um dos mais importantes autores liberais do século XX. Sendo particularmente conhecido por seu trabalho em teoria liberal, ética e politica, Nozick atuou também em epistemologia e teoria da decisão, na qual estudou as razões que subjazem as escolhas dos indivíduos.
Um dos aspectos mais notáveis do trabalho de Nozick foi seu estilo de fazer filosofia. Frequentemente o autor apresentaria em detalhes diversas possibilidades ou posições filosóficas, deixando o julgamento final para seu leitor. Ao mesmo tempo, utilizava uma metodologia ecumênica, utilizando-se de literatura externa à filosofia, para estabelecer bases rigorosas para seus desenvolvimentos, entre as áreas mais utilizadas encontramos a economia, biologia evolutiva, psicologia e física.
Sua obra mais famosa, Anarquia, Estado e Utopia, de 1974, foi uma resposta libertaria ao livro de John Rawls, A Theory of Justice, de 1971. Nesta obra, Nozick argumenta que apenas um estado mínimo seria justificado sem violar os direitos dos indivíduos. Esta posição ficou conhecida como "minarquismo" e determina que a maior parte das atividades do estado, em particular aquelas não ligadas a segurança, defesa nacional e sistema de justiça, deve ser transferida para a iniciativa privada ou mesmo definitivamente abandonada. Nozick defende ainda que, a distribuição de bens ou riquezas, só é justificada se levada a cabo pela troca voluntária entre indivíduos que consintam entre si, sem coerção, a partir de posições iniciais justas, mesmo que grandes desigualdades possam emergir do processo. Para justificar sua posição em favor da liberdade individual, contra governos coletivistas, Nozick apela para o filósofo alemão Immanuel Kant, segundo o qual, as pessoas devem ser tratadas como fins em si mesmos, nunca como meios para qualquer fim. Ao longo do livro Nozick deixa claro que o estado jamais deve interferir nas trocas voluntárias, limitando-se a função de proteger contra o roubo, a fraude, uso coercivo da força, bem como garantir a manutenção dos contratos.
A grande controvérsia presente na obra Anarquia, Estado e Utopia aparece pois, embora afirme pautar-se pelo Segundo Tratado de John Locke, e de fato construa sua estrutura de tal forma, Nozick atinge uma conclusão polêmica diferente de Locke, no que concerne a inalienabilidade dos direitos naturais. Para Locke, tais direitos, como a liberdade e a vida, sendo inalienáveis, seriam garantia e exigência da auto propriedade. Para Nozick, no entanto, a defesa constante do princípio de não-agressão permitiria a existência de contratos consensuais e não-coercivos de escravidão, tornando ainda tais contratos válidos. Sua conclusão é a de que, contrariando a maioria dos autores libertários, a noção de "sistema livre" poderia levar a tal resultado, rejeitando assim a ideia de direitos inalienáveis. Ainda assim, a obra de Nozick procura basear-se na ideia de lei natural, proposta por Locke. Para além deste ponto polêmico, levantado por Nozick como advertência ou ponto de discussão, o autor é ainda criticado no sentido que sua obra é compatível com o Anarco-capitalismo, muito mais do que com o modelo minarquista, mesmo que isto seja negado pelo autor.
Trabalhou ainda para demonstrar que o hedonismo ético é falso, através de sua própria versão do experimento mental máquina de prazer (pleasure machine), também chamado máquina de experiências (experience machine). Nozick nos pede para imaginar uma máquina capaz de reproduzir experiências de prazer de forma tão fiel que não seriamos capazes de dizer que não são reais. Então ele pergunta, estaríamos dispostos a trocar a vida real por uma vida de prazeres plugando-nos na máquina? Então ele pergunta, quais seriam as razões para não nos plugarmos e conclui que o hedonismo ético deve ser falso.
Referências bibliográficas:
KANT, Immanuel. A PAZ PERPÉTUA, Um Projecto Filosófico.1795. Tradução: Artur Mourão. Universidade da Beira Interior. Covilhã, 2008
Locke, John. Segundo Tratado Sobre o Governo. Indianapolis and Cambridge: Hackett Publishing Company, 1690[1980].
Nozick, Robert. Anarquismo, Estado e Utopia. 1974.
Why Do Intellectuals Oppose Capitalism? by Robert Nozick <http://www.cato.org/policy-report/januaryfebruary-1998>
Nozick, Robert. Por que os intelectuais se opõem ao capitalismo? Instituto Ordem Livre. < https://web.archive.org/web/20201124203114/http://ordemlivre.org/posts/por-que-os-intelectuais-se-opoem-ao-capitalismo >
Schmidtz, David (2002). Robert Nozick. Cambridge, UK: Cambridge University Press.
Wolff, Jonathan (1991), Robert Nozick: Property, Justice, and the Minimal State. Polity Press.