A filósofa Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, ou simplesmente, Simone de Beauvoir, nasceu na cidade de Paris, capital da França, em 09 de janeiro de 1908 e faleceu na mesma cidade em 1986. Considerada um ícone do feminismo, também é uma das principais representantes do movimento existencialista francês do século XX, ao lado do filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980), com quem estabeleceu uma peculiar relação de amizade, amor e troca intelectual de grande relevância.
Ao analisar os processos de formação social entre homens e mulheres, Simone de Beauvoir identificou uma multiplicidade de instrumentos e mecanismos que construíram e “naturalizaram” grande diferenciação e hierarquização entre homens e mulheres, sempre em prejuízo dessas últimas. Compreendendo a extensão dessa desigualdade e os inúmeros problemas daí decorrentes, a filósofa desenvolveu estudos e argumentos que deram conta de novos saberes que produzissem novas configurações sociais.
Por meio de sua produção, em especial, sua célebre obra “Segundo Sexo” (1949), Simone se tornou um marco dentro do movimento feminista, rejeitando o tradicionalismo da formação e da moral religiosa dentro da qual foi educada e abordando temáticas inéditas até aquele momento, tanto em âmbito social quanto acadêmico. A referida obra traça uma profunda análise sobre o papel designado à mulher dentro da sociedade e sobre a construção do que é ser mulher, estabelecendo uma importante distinção entre os conceitos de gênero e sexo que a leva a sua clássica conclusão, a de que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, acrescentando que “Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado, que qualificam de feminino”.
Em outra produção, intitulada “A Convidada” (1943), Simone já havia abordado a degeneração das relações entre homens e mulheres, revelando um traço característico do seu fazer filosófico, a saber, um profundo comprometimento intelectual com seu tempo e com sua sociedade, acentuando, assim, importantes princípios da filosofia existencialista. Segundo a filósofa, a humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele, tornando-a, assim, um ser condicionado, não autônomo. A partir dessa abordagem, Beauvoir analisa e critica a hierarquização social do gênero masculino sobre o feminino.
Ligada aos movimentos sociais, Simone realizou viagens para diversos países, entre eles, China (1955), Cuba e Brasil (1960) e União Soviética. Em 1971, assumiu a direção da revista política, literária e filosófica de extrema esquerda, “Les Temps Modernes”, criada por ela e Sartre em 1944.
Na vasta produção de Beauvoir destacam-se obras que abordam assuntos variados, relacionados ao Existencialismo, política, relacionamentos entre homens e mulheres, mães e filhas, à velhice, privilégios e à morte, entre outros. Além das já citadas “A Convidada” e “Segundo Sexo”, Simone escreveu uma trilogia de pequenos ensaios nomeados “Privilégios” (1955), “Memórias de uma moça bem-comportada”, obra autobiográfica e existencialista lançada em 1958 em que a filósofa se utiliza das próprias experiências e histórias vividas para criticar a opressão moral e religiosa à qual as mulheres de sua geração estavam submetidas.
Por fim, também tiveram grande repercussão obras como “Uma morte muito suave” (1964) e “A velhice” (1970) e “Cerimônia do Adeus” (1981), em que Simone escreve sobre Sartre, sobre o declínio de sua mente poderosa e deterioração do corpo de seu companheiro. Simone de Beauvoir faleceu em Paris no dia 14 de abril de 1986.