"Ouvi dizer já por duas vezes 'que o Guesa Errante será lido 50 anos depois'; entristeci - decepção de quem escreve 50 anos antes".
Algumas pessoas conseguem perceber a realidade de uma forma especial. Não se conectam exatamente aos padrões pré estabelecidos, são excêntricos e, por isso, muitos vezes mal vistos ou ignorados pela a sociedade.
Essa característica pessoal, muitas vezes motiva expressões artísticas, pois a arte é influenciada em grande parte pela inconformidade e quase sempre se mostra um espelho da sociedade, exprimem os anseios, os medos e a vida de fato.
Desde os primórdios da linguagem, utiliza-se a escrita, de forma artística, para expressar e registrar os sentimentos e acontecimentos, dessa forma surge a poesia que, no Brasil, viveu momentos muito interessantes, principalmente no século XIX.
Fruto de um comportamento nacionalista que acompanhava àquelas décadas, a literatura brasileira propôs liberar-se dos padrões portugueses, completamente influenciados pelo romantismo europeu. Nesse cenário surgiram diversas características interessantes. O indianismo foi uma das mais fortes. Os autores românticos brasileiros utilizavam da figura do índio como fonte de inspiração para suas palavras e depositavam em sua imagem um símbolo de patriotismo, imaginando o indígena como um herói nacional. era o verdadeiro nativo do Brasil.
No auge das guerras da independência, figuras públicas, políticas e militares, chegaram a adotar nomes indígenas.
O dono da frase que inicia esse artigo foi Joaquim de Sousa Andrade, o Sousândrade. Sousândrade nasceu no calor pós independência do Brasil, no Maranhão, em 1833 e foi poeta. Altamente intelectual, inovava em sua literatura, privilegiando esse momento de evolução. Pioneiro do neologismo, criava palavras, e internacionalizava expressões, utilizando palavras que aprendia durante suas viagens.
No primeiro parágrafo acima, Sounsândrade se refere a uma obra muito especial, considerada um marco na literatura. Joaquim de Souza Andrade escreve uma aventura épica e a batiza de "O Guesa Errante". A obra conta a história de um índio que estava perto de ser sacrificado, porém consegue escapar e se muda para os Estados Unidos da América, onde vive embates com o mundo capitalista industrial e percebe então a fúria desse sistema.
O próprio escritor viveu muitos anos em Nova Iorque e por lá escrevia para o jornal local. Antes havia estudado letras na Europa, viajou muito naquele continente.
Durante muitos anos seu "ganha pão" foi lecionar grego, escrever nunca foi para ele algo de muito reconhecimento financeiro. Sua obra só veio a ser reconhecida mais de 50 anos depois de sua morte, então, estavam certas as previsões dos que lhe plantaram a ideia descrita na célebre frase acima.
Sousândrade foi um homem com a mente a frente de seu tempo, inovou em conceitos linguísticos e contribuiu para a literatura brasileira, autêntica do Brasil. Embora tenha morrido sem tal reconhecimento, sua obra hoje é sabida um dos maiores trabalhos da literatura até então.
Referências:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa3098/sousandrade
http://www.soliteratura.com.br/romantismo/romantismo09.php
http://www.bibliologista.com/2014/08/o-guesa-errante-poesia-de-sousandrade.html