Em biologia, adaptações referem-se às características dos organismos que os permitem sobreviver e se reproduzir melhor em seu ambiente do que se não as possuíssem. Muitas dessas adaptações são muito fáceis de reconhecer, como os bicos das aves altamente específicos aos alimentos que consomem, as caudas preênseis de algumas espécies de macacos extremamente úteis à vida nas árvores, os olhos grandes de alguns animais como corujas e társios, adequados para capturar a maior quantidade possível de luz, entre muitas outras.
As adaptações são inquestionáveis e desde a antiguidade já são reconhecidas por filósofos e estudiosos, entretanto sua origem já foi muito discutida — e até hoje gera alguns equívocos. Os teólogos naturais, como William Paley e John Ray, explicavam as adaptações que podem ser observadas na natureza através da criação divina, ideia que até hoje continua sendo defendida por criacionistas modernos. Já Jean-Baptiste de Lamarck explicava as adaptações com base em dois princípios: o uso e desuso e a herança dos caracteres adquiridos (lamarckismo), que propunha que os seres vivos poderiam mudar suas características de acordo com o seu uso no ambiente e que essas mudanças (adaptações ao meio) podiam ser passadas à prole. Apesar de reconhecer que os organismos podem mudar ao longo do tempo de acordo com o ambiente, os mecanismos propostos por Lamarck são considerados incorretos.
Hoje é aceito pela ciência que apenas a seleção natural é capaz de produzir adaptações de maneira consistente, embora seja importante ressaltar que ela não é o único mecanismo evolutivo. A seleção natural, cuja ideia é atribuída principalmente a Charles Darwin, atua diretamente sobre as características fenotípicas dos indivíduos de uma população, favorecendo aqueles que têm maiores chances de sobreviver e se reproduzir em dado ambiente, em detrimento àqueles menos adaptados. Como tais características fenotípicas refletem a variação nos genes ― que são transmitidos à prole através da reprodução ― a seleção também atua indiretamente sobre eles, aumentando na população a frequência dos alelos que conferem vantagens adaptativas e diminuindo a dos que são desvantajosos.
Vale ressaltar que as adaptações não são perfeitas (embora muitas vezes até pareçam), e este fato está plenamente de acordo com a seleção natural. Isso ocorre porque este processo atua, em última instância, sobre a variabilidade genética existente na população (que por sua vez resulta da recombinação genética e do acúmulo de mutações), não havendo propósito a fim de produzir seres perfeitos e complexos. Portanto, se não existe variabilidade genética na população capaz de produzir uma adaptação, esta simplesmente não se dá. Além disso, os organismos guardam resquícios de mudanças acumuladas durante milhões de anos de história evolutiva, por isso é necessário levar em conta o fator histórico. Nas girafas, o nervo laríngeo recorrente parece estar mal-adaptado. Este nervo liga o cérebro à laringe, mas, embora estes dois órgãos estejam a uma curta distância um do outro, ele faz um caminho muito longo nesses animais, seguindo por todo o pescoço até contornar o arco aórtico próximo ao coração e voltar. A questão é que o nervo laríngeo, compartilhado por todos os tetrápodes existentes, evoluiu a partir de uma condição ancestral que fazia um caminho equivalente, porém na ausência do longo pescoço (leia mais em Gambiarras evolutivas).
Referências:
Reece, Jane B. et al. Biologia de Campbell. 10ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2015
Ridley, Mark. Evolução. 3ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2006