Ancestral comum

Por Júlia de Almeida Costa Montesanti

Mestre em Ecologia e Evolução (Unifesp, 2015)
Graduada em Ciências Biológicas (Unifesp, 2013)

Categorias: Evolução
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Ancestral comum é uma espécie que, através do processo de descendência com modificação, dá origem a novas espécies. As relações evolutivas dos organismos podem ser representadas por árvores filogenéticas (ou filogenias), que são diagramas ramificados em forma de árvore que mostram as relações ancestrais entre as espécies. Nas filogenias, cada galho representa uma determinada espécie ou grupo (extinto ou atual) e cada ponto de ramificação um ancestral. A “leitura” dessas árvores é feita de maneira análoga à de uma árvore genealógica: organismos que compartilham um ancestral comum são mais aparentados entre si. Atualmente, a ancestralidade comum é o principal critério usado para classificar as espécies, e o grupo que inclui uma espécie ancestral e todos os seus descendentes é chamado grupo monofilético ou clado.

Arvore filogenética. Ilustração: Wikimedia Commons

Seres humanos e chimpanzés, por exemplo, descendem de um ancestral comum relativamente recente. Estas mesmas espécies, juntamente com lêmures, bugios, babuínos e todas as outras espécies de primatas, compartilham um ancestral que viveu há mais tempo. Da mesma forma, há um ancestral ainda mais antigo que originou primatas, morcegos, baleias e todos os outros grupos de mamíferos. E, se continuarmos rastreando a árvore da vida até seu tronco, chegaremos ao ancestral comum a todas as formas de vida que existem. A hipótese de que toda a vida possui uma única origem é sustentada por diversas evidências. Uma delas é o fato de todas as formas de utilizam o mesmo código genético. Há também diversas moléculas que são extremamente conservadas entre diferentes grupos de organismos. É o caso do ATP, que gera energia para os processos celulares e está presente em todas as formas de vida que conhecemos.

Espécies de diferentes animais possuem grandes semelhanças, demonstrando que houve um ancestral comum a todos eles. Ilustração: Usagi-P / Shutterstock.com

As árvores filogenéticas podem ser inferidas por meio de diversas técnicas estatísticas (como métodos de distância, máxima parcimônia e máxima verossimilhança). Elas representam hipóteses das relações evolutivas dos organismos e se baseiam em caracteres que são compartilhados pelas espécies – que podem ser morfológicos, comportamentais, cromossômicos, moleculares etc. De forma geral, podemos dizer que os organismos compartilham mais características com aqueles que estão mais aparentados evolutivamente e quanto mais dados indicam uma mesma filogenia, mais confiável ela é. Atualmente, entretanto, a maior parte da inferência filogenética tem sido feita baseada nas sequências de nucleotídeos de DNA.

As filogenias nos mostram então quais organismos são mais aparentados, isto é, quais compartilham um mesmo ancestral. No entanto, é praticamente impossível reconhecer a espécie ancestral, já que o registro fóssil é relativamente incompleto e não necessariamente a espécie ancestral estará preservada – ou, ainda que esteja, nunca há como ter certeza. De qualquer forma, existem metodologias (como a reconstrução de estados ancestrais) que nos permitem estimar, a partir de uma árvore filogenética confiável de um determinado grupo e das características que conhecemos dos organismos atuais, quais eram as características do ancestral comum a eles.

Um equívoco comum bastante disseminado relacionado a este assunto é chamar espécies que já foram extintas de ancestrais das que vivem atualmente. Isso é bem comum quando se trata de outras espécies de hominídeos, como os neandertais (Homo neanderthalensis), que muitas vezes são tratados como ancestrais dos seres humanos. Eles, na verdade, compartilham um ancestral comum com o Homo sapiens e provavelmente coexistiram com eles por centenas ou milhares de anos.

Referências:

Entendendo a Evolução. IB-USP

Reece, Jane B. et al. Biologia de Campbell. 10ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2015.

Ridley, Mark. Evolução. 3ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2006.

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