Animais dispersores

Graduação em Ciências Biológicas (Unicamp, 2012)
Mestrado Profissional em Conservação da Fauna Silvestre (UFSCar e Fundação Parque Zoológico de São Paulo, 2015).

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Os animais frugívoros são aqueles que se alimentam de frutos, sem danificar a semente. Sendo assim, pelas suas fezes, conseguem dispersar as sementes da planta ingerida, que poderão germinar quando depositadas em local propício. Essa é uma interação ecológica, em que o animal dispersor se beneficia, com a energia adquirida através da alimentação e a planta se beneficia através da dispersão das suas sementes para locais mais propícios, com menos competição, o que aumenta as chances de sucesso de sobrevivência dela.

Interações fauna-flora

Ao longo de milhões de anos, os animais e as plantas desenvolveram interações harmoniosas, de forma a dependerem umas das outras para sobreviver e manterem o equilíbrio e manutenção das florestas.

Existem quatro tipos principais de dispersão de sementes: Zoocoria (realizada por animais); Anemocoria (dispersor é o vento); autocoria (a planta se auto dispersa, com a deiscência de sementes) e barocoria (usa da ação gravitacional). Acredita-se que 50 a 90% das árvores de florestas tropicais necessitam de animais para dispersar suas sementes. As cores, as características, como tamanho do fruto, são importantes para identificação do dispersor.

As aves compõem o principal grupo de animais dispersores. Foto: Paul S. Wolf / Shutterstock.com

Cada dispersão feita por um animal diferente, recebe um nome distinto:

  • Formigas - Mirmecocoria:
  • Peixes- Ictiocoria: É o primeiro grupo de vertebrados frugívoros da história de interação animais/plantas.
  • Répteis - Saurocoria: Os répteis foram um dos primeiros grupos a interagirem com as plantas. Lagartos e tartarugas são bons dispersores de sementes, destacando-se as famílias de lagarto: Varanidae, Gekkonidae, Iguanidae, Scincidae, Lacertidae e Teiidae. Estudos realizados mostram que jabutis são potenciais dispersores, uma vez que as sementes que passam pelo seu trato digestivo tiveram influência positiva na germinação.
  • Aves- Ornitocoria: São o grupo de animais mais importantes para dispersão de sementes, pela grande quantidade de espécies, pela capacidade de deslocamento e pela frequência com que se alimentam. Os frugívoros representam mais de 50% das famílias de aves do mundo. Na Mata Atlântica, tucanos, araçaris, jacus, jacutingas são aves maiores que contribuem para dispersam de sementes grandes, o que é muito importante para a manutenção das florestas.
  • Morcegos- Quiropterocoria: São animais com papel ecológico muito importante, contribuindo para a regeneração e sucessão secundária em áreas tropicais, uma vez que voam em clareiras e áreas de borda. As espécies frugívoras mais importantes para a Mata Atlântica são Artibeus lituratus, Carollia perspicillata e Sturnira lilium. E as plantas mais consumidas são as figueiras, embaúbas, juás e pimenteiras.
  • Mamíferos- Mamaliocoria: São muito importantes na dispersão de sementes maiores. Os primatas consomem os frutos das copas das árvores, como os bugios, macaco prego, muriquis;Os que se alimentam tanto de frutas que estão no chão, como nos galhos: marsupiais como cuícas e gambás, esquilos (que enterram sementes para comer depois e vão plantando na floresta); E os que se alimentam no chão: Anta, veados, cachorro do mato, cutia, que faz como os esquilos.

Plantas de sementes grandes, que as aves não conseguem engolir, são as mais ameaçadas, dependendo de mamíferos para dispersão. A anta e as cutias são os grandes dispersores de frutos grandes, como o Jatobá.

Homem- Antropocoria: Nós seres humanos somos dispersores, mas também os principais predadores e destruidores dos ecossistemas.

Conservação

Existe um equilíbrio na teia destes ecossistemas e o desmatamento, a caça predatória, fragmentação de habitat têm quebrado esses ciclos. Um animal como a jacutinga, que é um importante dispersor, faz falta para manutenção de florestas. Hoje, muitos estudos e esforços para conservação de espécies têm sido realizado, como a reintrodução de animais e replantio de plantas. No Pará existiam grandes castanhais e a dispersão do fruto que contém a castanha é feita apenas por cotias, por serem grandes e pesados. O extrativismo predatório da castanha na Amazônia pode levar ao fim de cutias e dos próprios castanhais.

Nós causamos desequilíbrios por vezes irreparáveis, mas precisamos mudar nossa postura urgente, conscientizando a população sobre suas ações e consequências. Já que as florestas não conseguem mais se auto sustentar, precisamos usar nosso conhecimento para intervir com manejo de vida silvestre, também.

Referências:

Castro, Everaldo Rodrigo de; Galetti, Mauro. Frugivoria e dispersão de sementes pelo lagarto teiú Tupinambis merianae (Reptilia: Teiidae). Papéis Avulsos de Zoologia (São Paulo). USP, v. 44, n. 6, p. 91-97, 2004. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/20491>.

RODRIGUES, Laís. Lautenschlager. Frugivoria e dispersão de sementes pelo Jabuti-Piranga Chelonoidis carbonaria. 2016. 46 f. Trabalho de conclusão de curso (Ecologia) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Instituto de Biociências (Campus de Rio Claro), 2016. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/156035>.

FADINI, R.F. & DE MARCO, P. 2004. Interações entre aves frugívoras e plantas em um fragmento de Mata Atlântica de Minas Gerais. Ararajuba 12(2):97-103.

Pizo, M.A. & GALETTI, M. 2010. Métodos e perspectivas do estudo da frugivoria e dispersão de sementes por aves. In Ornitologia e conservação: ciência aplicada, técnicas de pesquisa e levantamento (Accordi, I., Straube, F.C & Von Matter, S. orgs). Technical Books Rio de Janeiro, p. 492-504.

JORDANO, P. et al. Ligando frugivoria e dispersão de sementes à biologia da conservação. In: ROCHA, C. F. D. et al. (Eds.) Biologia da conservação: essências. São Carlos: Rima, 2006. p.411-436.

PASSOS, F.C.; SILVA, W.R.; PEDRO, W.A. & M.R. BONIN. 2003. Frugivoria em morcegos (Mammalia, Chiroptera) no Parque Estadual de Intervales, sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 20 (3): 511-517.

https://www2.ib.unicamp.br/projbiota/frugivoria/inter.html

https://revistapesquisa.fapesp.br/2001/03/01/sem-bichos-a-floresta-morre/

http://www.ra-bugio.org.br/mataatlantica_04.php

Arquivado em: Animais, Ecologia
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