Na ecologia, os ciclos de vida dos seres vivos diz respeito a descrição dos estágios de vida que um organismo passa ao longo do tempo, desde a sua formação embrionária até os estágios de maturidade reprodutiva e senescência. Esse evento é considerado cíclico porque um indivíduo adulto gera novos indivíduos que passarão por eventos semelhantes ao longo de suas vidas até produzirem sua própria linhagem de descendentes, ocorrendo certa repetição entre gerações.
Apesar de serem únicos e extremamente variados entre cada tipo de organismo, os ciclos de vida apresentam como pontos em comum a existência de fases juvenis (pré-reprodutiva) e adultas (reprodutiva), nas quais as atividades metabólicas e as adaptações ao ambiente externo podem variar consideravelmente. Além disso, existem na natureza diversos tempos de vida em cada estágio do ciclo. Enquanto algumas árvores, como as sequoias, podem viver mais de 1000 anos, algumas espécies de ave, como o beija-flor, vivem em média apenas 4 anos. Essas enormes diferenças se baseiam em constituição corporal e na alocação e gasto de energia.
Ciclos de Vida: assexuados vs. sexuados
O tipo de reprodução principal utilizado por uma espécie pode ser usado para descrever e avaliar seu ciclo de vida. Algumas plantas, cnidários, crustáceos e répteis são capazes de gerar novos indivíduos sozinhos, sem a necessidade de um evento de fertilização que envolva troca de material genético. Estes ciclos de vida produzem baixa variabilidade genética, uma vez que a prole é geneticamente igual ao progenitor. Alguns dos modos de reprodução assexuada já descritos na natureza incluem a autofertilização e o brotamento. Em ambientes pouco estressantes e homogêneos, esse modo de reprodução é vantajoso por não requerer o gasto de energia e tempo na busca de um parceiro.
A reprodução sexuada, que envolve a junção de gametas masculinos e femininos para produzir um novo individuo, tem a vantagem de produzir variações genéticas entre as gerações, que podem ser extremamente importantes no surgimento de adaptações para a sobrevivência ao meio. A maior parte dos animais vertebrados e plantas se utiliza deste modo de reprodução em seu ciclo de vida. Vale ressaltar que alguns seres podem usar ambas as formas de reprodução ao longo de suas vidas.
Ciclos de Vida: simples vs. complexos
Em espécies como o ser humano, é possível pensar nas crianças como versões jovens e menores dos adultos. Elas se parecem com os adultos jovens e idosos, se comportam de maneira similar, vivendo no mesmo habitat e consumindo alimentos muito semelhantes. Quando os indivíduos apresentam alta similaridade tanto física quanto comportamental entre os estágios de vida, como os humanos, dizemos que este ciclo de vida é simples. Muitos animais se encaixam nessa categoria, sendo apenas notável a diferença no tamanho corporal, que tende a crescer da fase juvenil para a fase adulta.
No entanto, muitas plantas, insetos, crustáceos, aves, peixes e uma ampla gama de outros animais possuem um ciclo de vida complexo. Este ocorre quando existem drásticas alterações de morfologia, habitat e dieta entre as fases de vida. Para avaliar corretamente um ciclo de vida, no entanto, não deve ser levado em consideração apenas um destes fatores. Isso porque muitas aves, por exemplo, migram grandes distancias entre seu local de nascimento e reprodução, sem necessariamente sofrer mudanças corporais severas. Neste caso, a complexidade se encontra na alteração de habitat. Quando pensamos em insetos, como as mariposas e borboletas, fica mais fácil entender a composição de fatores que podem tornar um ciclo de vida complexo. Enquanto a fase juvenil, de lagarta, tem um corpo alongado e se alimenta de folhas restritas ao alcance da locomoção terrestre, e após um processo chamado metamorfose, tornam-se adultos com antenas e asas, voando e se deslocando por muitas áreas para se alimentar de néctar e buscar parceiros sexuais.
Referências:
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Stearns, S. C. The Evolution of Life Histories. Oxford: Oxford University Press, 1992.