Evolução convergente ou convergência evolutiva é o nome dado ao fenômeno evolutivo por meio do qual uma característica semelhante surge independentemente em duas espécies não relacionadas, ou seja, que não possuem um ancestral comum direto de quem poderiam herdar tal característica. Características semelhantes resultantes de convergência evolutiva são chamadas de análogas ou de homoplasias (do grego, “moldado da mesma maneira”). Este processo é muito comum e pode ser explicado por meio da seleção natural, já que pressões seletivas semelhantes tendem a favorecer adaptações similares. São inúmeros os exemplos de características análogas encontradas na natureza.
Como exemplo de convergência evolutiva podemos citar as asas dos morcegos e das aves. Apesar de desempenharem a mesma função (o voo) as asas destes animais possuem origens evolutivas distintas. Mamíferos, répteis e aves possuem um ancestral comum que viveu há alguns milhões de anos, mas este ancestral não podia voar, portanto pode-se concluir que esta característica teria surgido nos morcegos e nas aves de forma independente. Por outro lado, se examinarmos com mais detalhes sua estrutura óssea, podemos notar que a asa do morcego é muito mais similar à mão humana, por exemplo, que à asa de uma ave. Embora desempenhem funções diferentes, a mão humana e a asa de um morcego possuem estrutura óssea equivalente, porém com adaptações ao seu modo de vida. Morcegos, por exemplo, têm membranas interdigitais que os possibilitam voar, mas que não são encontradas nos seres humanos. Estas características, que possuem funções diferentes, mas uma mesma origem evolutiva – morcegos e seres humanos descendem de um ancestral comum mais recente que aquele compartilhado com as aves – são chamadas de homólogas. Um fato curioso sobre este assunto é que as asas das aves e dos morcegos, enquanto membros que possibilitam o voo, são consideradas análogas. Mas se pensarmos nelas como membros superiores, elas são consideradas homólogas, já que esta característica está presente no ancestral comum a eles.
Os olhos bem desenvolvidos encontrados nos vertebrados e nos cefalópodes (classe de moluscos a que pertencem polvos e lulas) constituem outro exemplo clássico de evolução convergente. Apesar de bastante semelhantes em suas funções e forma geral, os olhos encontrados nesses grupos animais apresentam também profundas diferenças quanto aos tipos de células e formas como estas estão arranjadas. Se ambos os grupos tivessem herdado esta estrutura do ancestral mais recente que compartilham, o qual é partilhado com muitos outros grupos, seria esperado que estes outros grupos (ou a maior parte deles) também apresentassem tal característica. E mais: as diferenças entre eles provavelmente seriam mínimas. Isso sugere que a seleção natural levou a evolução de olhos complexos em ambos os grupos por caminhos distintos.
Podemos também citar como exemplo de convergência os urubus (que habitam as Américas) e os abutres (com ocorrência apenas no Velho Mundo). Embora sejam bastante parecidos visualmente e possuam adaptações que os permitem alimentar-se de carniça, como estômago e sistema imunológico “fortes”, os dois grupos não são diretamente aparentados: os abutres são evolutivamente mais aparentados aos gaviões do que aos urubus. Isso indica que, por desempenharem papéis ecológicos similares, houve pressões seletivas que levaram esses grupos a desenvolverem tais características.
Referências:
Reece, Jane B. et al. Biologia de Campbell. 10ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2015.
Meyer, Diogo; El-Hani, Charbel N. Evolução, o sentido da biologia. São Paulo: Editora UNESP. 2005
Chung et al. The first whole genome and transcriptome of the cinereous vulture reveals adaptation in the gastric and immune defense systems and possible convergent evolution between the Old and New World vultures. Genome Biology, 2015.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/biologia/evolucao-convergente/