A hibernação pode ser definida como um processo em que as atividades de um animal são reduzidas drasticamente em períodos nos quais as condições ambientais são desfavoráveis. É um mecanismo que permite a sobrevivência de alguns animais, poupando suas energias, durante as épocas mais frias do ano, quando a alimentação se torna escassa. O objetivo é sobreviver gastando o mínimo de energia possível.
Durante a hibernação os animais entram em um estado de dormência profunda e com longa duração. Em alguns casos, a espécie não se alimenta, urina ou defeca durante esse período. Além das alterações no comportamento dos animais, a hibernação também é caracterizada por mudanças fisiológicas, como a redução da temperatura corporal, da frequência cardíaca e respiratória e do consumo de oxigênio.
Os animais hibernantes precisam se preparar para esse período, por isso, antes da hibernação, eles aumentam a ingestão de alimentos a fim de acumular gordura corporal. É essa reserva energética que será consumida durante o período de dormência, garantindo a sobrevivência desses animais. Alguns hibernadores estocam alimentos em suas tocas e esporadicamente despertam para se alimentar durante o inverno. A escolha de um local seguro e isolado do frio também faz parte da preparação.
Durante a hibernação, que pode durar semanas ou meses, a temperatura corporal dos animais é reduzida a um nível inferior ao normal, em uma situação de hipotermia controlada. Mas se a temperatura corporal cai a níveis ainda mais baixos, próximos ao congelamento, o animal desperta e se mexe para se reaquecer.
O animal mais conhecido por hibernar é o urso. No entanto, alguns estudiosos não consideram esse animal como um verdadeiro hibernador, isso por que eles dormem durante o inverno, mas sua temperatura corporal e metabolismo sofrem poucas variações. Além disso, esse animal permanece alerta, podendo despertar a qualquer sinal de perigo. Alguns cientistas consideram que os ursos entram em um estado menos profundo de hibernação.
Entre os principais animais que hibernam estão os mamíferos, como esquilos, marmotas, morcegos, hamsters, ouriços e lêmures, mas não são todas as espécies desses grupos. Sabe-se também que esse estado de dormência não ocorre somente nos endotérmicos, mas também nos ectotérmicos, como em alguns quelônios e lagartos.
A hibernação ocorre com maior frequência em animais que vivem nas regiões frias do planeta, onde os períodos de inverno são muito rigorosos. Geralmente as espécies que habitam ambientes tropicais não necessitam hibernar. No Brasil, apesar de os invernos serem relativamente mais amenos, um dos lagartos mais conhecidos do país, o teiú, hiberna por cerca de quatro a cinco meses por ano, quando se refugiam em tocas, cujas entradas são bloqueadas por detritos e terra. Com a chegada da primavera esses lagartos, aparentemente mais magros, voltam a circular em locais públicos e geralmente começam a ingerir uma grande quantidade de alimentos. Esse comportamento é observado principalmente em regiões com estações do ano bem definidas, como Rio Grande do Sul e Curitiba.
É importante não confundir a hibernação com outros mecanismos de alteração do metabolismo, como o torpor e a estivação. Durante o torpor o animal apresenta um estado de letargia caracterizado por uma redução do seu metabolismo e da temperatura corporal, porém apresenta curta duração. Pequenos mamíferos e aves, como morcegos e beija-flores, entram em torpor durante pequenos períodos diários para evitar o desperdício energético. A estivação ocorre em períodos de falta de água e alimento e está associada a temperaturas elevadas, nesse caso os animais dormem durante as estações mais quentes e secas. A estivação acontece em vários grupos de animais, como jacarés, peixes, sapos, caramujos e insetos.
Referências:
Rocha, N. C.; Moraes, I. A. Termorregulação nos animais. Homepage da Disciplina Fisiologia Veterinária da UFF. 2017.
Welker, A. F. Efeito da flutuação da disponibilidade de oxigênio e da privação alimentar sobre o metabolismo de radicais livres. Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo.287 p. 2009.