Do ponto de vista histórico, a extinção é algo corriqueiro e estima-se que mais de 99% das espécies que já existiram foram extintas. Este processo, no entanto, vem se intensificando cada dia mais por conta da influência antrópica e está ocorrendo em taxas bem maiores que as esperadas — para se ter uma ideia, a taxa de extinção estimada atualmente para aves e mamíferos é entre 100 e 1000 vezes maior do que seria a taxa “normal” de extinção para estes grupos.
Um dos propósitos da biologia da conservação é evitar que as espécies sejam extintas em decorrência da ação humana. Entretanto, especialmente tendo em vista que a lista de espécies ameaçadas está a cada dia mais longa, é impossível que esforços conservacionistas sejam focados em cada espécie individualmente. Para isso, existem diversas estratégias de conservação que visam estabelecer áreas prioritárias com o intuito de proteger um grande número de espécies com um custo reduzido. Uma dessas estratégias é o reconhecimento de Hotspots (“pontos quentes”, em tradução livre) de biodiversidade, que basicamente são locais na Terra biologicamente ricos e profundamente ameaçados.
O termo Hotspot de biodiversidade foi cunhado em 1988 por Norman Myers, em um artigo publicado na revista Environmentalist, e definido como áreas de florestas tropicais que abrigam uma grande concentração de espécies, com alto grau de endemismo e que estão sob grande ameaça. Na ocasião, 10 localidades em florestas tropicais foram enquadradas como Hotspots. Dois anos depois, em um novo artigo publicado na mesma revista, Myers acrescentou mais oito localidades aos Hotspots globais de biodiversidade, sendo apenas quatro delas em florestas tropicais. Neste novo trabalho, os critérios usados para a delimitação dos Hotspots foram apresentados de maneira mais explícita, sendo os três principais fatores: (1) o número de espécies de plantas originalmente existentes; (2) o número de espécies remanescentes hoje e (3) o número de espécies que provavelmente sobreviveriam no próximo século. Segundo o autor, o número de espécies de plantas seria um bom indicador no número global de espécies, pois constituem a categoria mais conhecida com um grande número de espécies — para alguns autores, no entanto, isso é um pouco controverso. Em 2000, Myers publicou um novo artigo, desta vez na revista Nature, juntamente com representantes da ONG Conservation International. Neste novo trabalho o número de áreas caracterizadas como Hotspots — ainda baseadas nos mesmos critérios — passou a ser 25.
Atualmente, há 35 locais na Terra que podem ser considerados Hotspots de biodiversidade que representam 2,3% da superfície da Terra. Segundo a Conservation International os critérios que são utilizados atualmente para definir uma área como Hotspot são os seguintes: (1) ter pelo menos 1500 espécies de plantas vasculares endêmicas (i.e. que não são encontradas em mais nenhum lugar do planeta) e (2) deve ter 30% ou menos de sua vegetação natural original, o que significa que deve estar ameaçado.
No Brasil temos dois Hotspots: o Cerrado e a Mata Atlântica. O Cerrado é ao mesmo tempo um dos maiores Hotspots do mundo e o que possui um dos níveis mais baixos de proteção: apenas 8%. Já a Mata Atlântica, que já se estendeu por mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados pelo Brasil, Argentina e Paraguai, hoje ocupa apenas 12% de sua extensão original. Ainda assim, abriga cerca de 8.000 espécies de plantas vasculares endêmicas — mais de 5 vezes o número necessário para ser considerada um Hotspot. O mapa interativo com todos os 35 Hotspots pode ser conferido aqui.
Referências:
Hotspots. Conservation International. Acesso em: 08/2018.
Myers, N. Threatened biotas: "hot spots" in tropical forests. Environmentalist. 1988
Myers, N. The biodiversity challenge: Expanded hot-spots analysis. Environmentalist. 1990.
Myers et al. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature. 2000.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/biologia/hotspot-de-biodiversidade/