O Filo Mollusca, dentre todos os filos que compõe o Reino Metazoa, ou seja, o reino dos animais, é o segundo mais diverso, com aproximadamente 100 mil espécies, ficando atrás apenas dos numerosos artrópodes. O termo malacologia, assim como o termo molusco, se referem à uma característica extremamente típica dos membros desse filo. Malacologia é formada por dois radicais malakós, que significa “macio” e logus que representa “estudo”, já tanto o termo Mollusca, descende do latim molluscus que também significa “macio”. Os moluscos mais antigos datam do período Cambriano, há 570 milhões de anos, e a maioria das espécies é aquática, mas existem espécies amplamente distribuídas em ambientes terrestres.
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Estudos iniciais e classificações dos moluscos
Os moluscos tem grande importância para a ciência mesmo antes de a mesma existir como um ramo de conhecimento. Xenófanes de Colofão, um filósofo grego que viveu entre 570-475 a.C., já elaborava teorias para a história do Planeta Terra baseando-se em fósseis de peixes e de conchas de moluscos que ele encontrava em suas andanças pelo interior da Itália naquela época, longe da costa marinha, o que fez Xenófanes supor que a vida começou na água.
À partir desse evento, ao longo da história, várias tentativas de classificação foram feitas para os moluscos. Provavelmente, os estudos malacológicos iniciaram-se com Aristóteles (384-322 a.C.), que é, até hoje, é considerada a primeira tentativa de classificação dos moluscos. Aristóteles os classificou em Malachia (grupo dos cefalópodes) e Ostracodermata (conchíferos: representados por moluscos que possuem concha externa).
O primeiro uso do termo Mollusca foi em 1650, cunhado pelo naturalista polonês John Jonston. Para ele, Mollusca englobava cefalópodes e cracas. Apesar de ser utilizado hoje como nome do filo, naquela época o termo não foi bem aceito até que Carolus Linnaeus resolveu reutilizá-lo alguns anos mais tarde. Os Mollusca de Linnaeus, no entanto, além de cefalópodes, lesmas e pterópodes (uma linhagem de gastrópodes marinhos), abrangiam outros grupos de animais que hoje não são considerados moluscos como os tunicados (pertencentes ao filo Chordata), anêmonas e medusas (Cnidaria), Echinodermata e poliquetas (Annelida).
Em 1801, outro naturalista bem famoso, Jean-Baptiste de Lamarck reclassificou os moluscos em Cephales (composta por cefalópodes, gastrópodes e pterópodes) e Acephales (braquiópodes). Alguns anos mais tarde, em 1815, Lamarck sugeriu outra classificação, os Trachelipodes (que possuíam concha em formato espiral) e os heteropodes (moluscos pelágicos).
Atualmente
Hoje em dia, os moluscos podem ser divididos em sete linhagens: Gastropoda, Bivalvia, Scaphopoda, Cephalopoda, Neomeniomorpha, Chaetodermorpha e Polyplacophora, sendo as as três mais estudadas e mais facilmente reconhecíveis à nós são Gastropoda (lesmas e caramujos), Bivalvia (ostras e mexilhões) e Cephalopoda (polvos e lulas). Os gastrópodes ocorrem tanto em ambientes terrestres quanto aquáticos (água doce e salgada), bivalves são exclusivamente aquáticos (ambos tipos de água) e cefalópodes só são encontrados em ambientes de água salgada, sendo assim os métodos de coleta tem que ser específicos para cada grupo:
Métodos:
- Gastropoda: geralmente são coletados manualmente, assim que avistados.
- Bivalvia: Coletados manualmente e eventualmente com o auxílio de peneiras.
- Cephalopoda: coletados com auxílios de redes e alguns estudos utilizam os remanescentes de cefalópodes encontrados no trato digestivo de peixes e aves marinhas.
No mundo e no Brasil
Dentre as unidades representativas da malacologia, as duas mais conceituadas são a Unitas Malacologica e a American Malacology Society. No Brasil, os primeiros registros de relação e observação de moluscos por humanos data de períodos pré-históricos, iniciando no Holoceno (período que se iniciou há aproximadamente 11 mil anos e dura até hoje). Foram encontrados em sítios arqueológicos acúmulos de conchas de moluscos, denominados sambaquis, que, além de fornecerem informações importantes sobre os moluscos brasileiros também provém dados sobre o modo de vida dos homens pré-históricos no Brasil. Atualmente o Brasil contém importantes institutos e pesquisadores na malacologia, tornando o país referência nesses estudos.
Referências:
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