Peixes pulmonados

Por Joice Silva de Souza

Mestre em Dinâmica dos Oceanos e da Terra (UFF, 2016)
Graduada em Biologia (UNIRIO, 2014)

Categorias: Peixes
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Entre os peixes ósseos (Osteichthyes), encontra-se uma linhagem ancestral que chama atenção: os peixes pulmonados. Estes animais são caracterizados pela presença de um ou dois pulmões primitivos em sua estrutura corporal, os quais podem ser responsáveis por sua respiração total ou parcial (complementam a respiração branquial).

Origem e classificação dos peixes pulmonados

Os peixes pulmonados despontaram no Período Devoniano, há 400 milhões de anos. Estes animais apresentam endoesqueleto ósseo e nadadeiras lobadas, e estão inseridos na Classe Sarcopterygii (peixes com nadadeiras carnosas), Subclasse Porolepimorpha ou Dipnoi. Conhecidos vulgarmente como dipnoicos, os peixes pulmonados ainda se subdividem em duas ordens: Ceratodontiformes, composta por espécies que apresentam apenas um pulmão, e Lepidosireniformes, que engloba os peixes com dois sacos pulmonares. Abundantes até o fim do Triássico, há 200 milhões de anos, atualmente, são reconhecidas apenas três famílias e seis espécies de peixes pulmonados. Estes animais são característicos de ambientes dulcícolas, habitando lagos e rios, e estão restritos à África, América do Sul e Austrália. Os peixes pulmonados australianos apresentam fisionomia semelhante às formas fósseis, apresentando corpo compacto com grandes escamas sobrepostas, além de grandes nadadeiras peitorais e pélvicas; por outro lado, os peixes africanos e sul-americanos apresentam dois pulmões, ao passo que nos exemplares australianos, o saco pulmonar esquerdo encontra-se atrofiado.

Protopterus annectens, o peixe pulmonado africano. Foto: Mathae / via Wikimedia Commons / CC-BY-SA 3.0

Principais características

Entre as principais características dos peixes pulmonados pode-se citar seu corpo alongado, semelhante ao de uma enguia, sem nadadeira caudal definida. Por outro lado, estes animais apresentam nadadeiras peitorais e pélvicas longas e fibrosas, que estão em constante movimento, investigando o ambiente. Estas estruturas possuem extremidades muito sensíveis, permitindo ao peixe detectar mudanças de pressão e turbulência da água, o que, aliado ao seu olfato e paladar aguçados, compensa seu baixo poder de visão; estes peixes são praticamente cegos, distinguindo apenas a forma e movimento dos objetos. Assim, as estruturas sensoriais presentes nas nadadeiras, linha lateral e focinho (órgãos eletroreceptores), aumentam a percepção dos peixes pulmonados sobre o ambiente, auxiliando sua busca por alimento e proteção. A linha lateral pode apresentar, inclusive, diferentes padrões de distribuição dos órgãos sensoriais (poros), permitindo a identificação de espécies, que podem alcançar até 2 metros de comprimento, pesando cerca de 10 quilogramas.

Em geral, os peixes pulmonados respiram por brânquias durante a fase jovem de seu ciclo de vida (especialmente durante o estágio larval), as quais são perdidas, na maioria das espécies, de acordo com o desenvolvimento do peixe. Desta forma, estes peixes passam a respirar através de seus pulmões primitivos. A formação pulmonar se dá através da ligação entre o trato alimentar e a bexiga natatória, que é revestida por inúmeros vasos sanguíneos. Para respirar, os dipnoicos posicionam seu focinho acima da superfície da água, abrindo a boca para sugar o ar ao redor, produzindo um som característico. Todas as espécies realizam este procedimento, com exceção do peixe-pulmonado-australiano (Neoceratodus forsteri), que inala o ar através das narinas, e respira durante a maior parte do tempo pelas brânquias (quando a água está bem oxigenada); por outro lado, quando os níveis de oxigênio encontram-se reduzidos, esta espécie utiliza seu pulmão primitivo para complementar sua taxa respiratória. Assim como nos vertebrados terrestres, a troca gasosa dos peixes pulmonados ocorre em pequenas vesículas situadas dentro do saco pulmonar.

Além da perda/inutilização parcial das brânquias, os peixes pulmonados também apresentam dentes que se fundem formando placas dentárias, utilizadas para mastigar o alimento. Estes animais são onívoros e consomem peixes, caranguejos e lagostas, podendo atuar também como canibais. Em relação à reprodução, os dipnoicos depositam seus ovos em ninhos que cavam nos cursos d’água (algumas espécies também depositam os ovos na vegetação aquática), e há cuidado parental por parte do macho. Durante a estação reprodutiva, os machos também desenvolvem protuberâncias carnosas em suas nadadeiras pélvicas, formadas por capilares que liberam oxigênio do sangue para a água, aumentando a concentração deste gás no entorno dos filhotes recém-nascidos.

Outras curiosidades

Os peixes pulmonados da ordem Lepidosireniformes são capazes de entrar em estado de dormência (estivation, em inglês) durante períodos de dessecação, ou seja, quando há redução do nível de água nos lagos e rios. Ao longo deste período, estes animais apresentam baixa taxa metabólica e temperatura corporal, além de certa letargia e inibição do apetite. Espécies de dipnoicos africanos enterram-se na lama, formando um casulo de muco, e podem sobreviver nestas condições por até dois anos. O peixe-pulmonado-sul-americano apresenta comportamento similar, à exceção da formação de muco, ao passo que o peixe australiano (com apenas um pulmão), não demonstra tal comportamento.

Referências bibliográficas:

Biologia Marinha. Pereira, R. C., & Soares-Gomes, A. (2002). Rio de Janeiro: Interciência, 2, 608.

Encyclopaedia Britannica. https://www.britannica.com/animal/lungfish

Primitive Fishes. https://primitivefishes.com/lungfishes/

Seapics. http://seapics.com/feature-subject/fish/lungfish-pictures-001.html

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