Dizemos que há uma superpopulação de determinada espécie quando o número de indivíduos, por algum motivo, aumenta de maneira a causar um desequilíbrio no ecossistema podendo prejudicar, inclusive, a sobrevivência de outras espécies.
Normalmente, em um ambiente equilibrado, o crescimento de uma espécie tende a ser controlado pela existência de outras espécies que irão disputar alimento e espaço físico (competição interespecífica), e, no caso de superpopulação, pela competição também entre seres da mesma espécie (competição intraespecífica; bastante acentuada na ocorrência de superpopulação) onde os indivíduos poderão competir inclusive, por parceiros para reprodução. No entanto, com a crescente interferência do homem sobre o meio, mudanças ocorrem rapidamente prejudicando as relações que mantém esse equilíbrio.
Podemos usar como exemplo a superpopulação de águas-vivas gigantes (Stomolophus nomurai) que causou prejuízos no Mar do Japão em meados de outubro de 2009. Esta espécie de celenterado foi observada no Mar do Japão pela primeira vez em 1920, mas, segundo alguns pesquisadores, o aumento anormal da temperatura do mar teria facilitado a rápida proliferação da espécie que acabou se tornando uma praga e causando grandes prejuízos econômicos ao setor pesqueiro no Japão.
O aumento da população de águas-vivas nessa região é um evento periódico normal, assim como o aumento da temperatura do mar. Porém, estes eventos, que costumavam ocorrer em intervalos de 40 anos, agora ocorrem anualmente e de forma cada vez mais intensa. Acredita-se que a pesca predatória na região tenha contribuído para agravar a situação, pois, ao retirar enormes quantidades de espécimes das águas, a disponibilidade de alimentos para as águas-vivas é maior, favorecendo ainda mais sua reprodução já acelerada pelo aumento da temperatura da água.
O crescimento da espécie tende a se estabilizar quando o número de indivíduos atinge a capacidade suporte daquele ecossistema ou quando as condições anormais que favoreceram seu crescimento acelerado modificam-se.
Em um lago, por exemplo, onde o aporte de nutrientes aumente de forma a saturar o ambiente, ocasionando uma superpopulação de algas, o crescimento dessa população continuará até a completa eutrofização (alcance da capacidade suporte) e posterior assoreamento do lago. Ou, até que o aporte de nutrientes, que pode ser causado pela poluição por águas servidas ou agrotóxicos, cesse 1.
Mas, na maioria das vezes, para que a quantidade de indivíduos retorne a um nível considerado normal é necessário que sejam tomadas providências para impedir sua proliferação.
É o que foi feito na Ilha Macquarie, no Pacífico, onde após a introdução de coelhos, gatos e roedores não nativos, pelos marinheiros no século XVIIII, foi necessário introduzir um vírus causador da mixomatose para controlar a superpopulação de roedores que já estava devastando a vegetação da ilha e chegava a 100 mil indivíduos. Após a diminuição no número de coelhos, os gatos passaram a se alimentar de aves locais fazendo com que fosse necessário eliminá-los também. Com a eliminação dos gatos, o número de coelhos voltou a crescer e foi necessária a adoção de novas medidas de controle levando o governo local a gastar mais de US$20 milhões para corrigir o problema (Fonte: UOL, 2009).
O que determina se há uma superpopulação de uma espécie é a relação entre o número de indivíduos e a capacidade suporte da área analisada. Essa, por sua vez, pode ser definida como a “Capacidade que um ambiente apresenta, (...), de manter seu ponto de equilíbrio sem alteração das condições necessárias para manutenção da vida dependente deste.” (Fonte: Glossário Embrapa).
Por isso, se levarmos em consideração os impactos causados pelo homem em alguns locais do planeta, podemos dizer que há uma superpopulação de Homo sapiens nos locais onde a quantidade de pessoas ocasiona um desequilíbrio comprometedor nos ecossistemas. No entanto, em locais com baixíssima densidade populacional, como os Desertos e a Amazônia, não podemos dizer que haja superpopulação uma vez que o número de indivíduos (locais) não chega a causar danos ao ambiente. Porém, ao analisar a população de Homo sapiens ao redor do planeta e considerar todos os efeitos sobre o ecossistema global, pode-se chegar à conclusão de que a espécie humana já atingiu, há muito tempo, o nível de superpopulação.
Fontes:
http://super.abril.com.br/superarquivo/1993/conteudo_113545.shtml
http://www.bbc.co.uk/portuguese/multimedia/2009/10/091019_aguaviva_video_fp.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u7820.shtml
http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/redacao/cientistas-usam-aguas-vivas-gerar-energia-solar-262434_post.shtml
http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/artigos/relacoes_ecologicas_entre_seres_vivos.html
http://www.agr.feis.unesp.br/ctl28082004.php
http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=528&bd=1&pg=2&lg=
http://noticias.uol.com.br/ultnot/bichos/ultnot/ult295u2833.jhtm
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Ave/ProducaodeFrangodeCorte/Glossario.htm#c
Notas:
[1] Quando um lago entra em um processo de eutrofização, normalmente, o processo não se reverte sozinho mesmo que cesse o aporte de nutrientes. Para saber mais leia o artigo sobre “Eutrofização”.