Desde os primórdios dos estudos anatômicos humanos, ficou claro para médicos e pesquisadores que o sangue era um fluído essencial para a manutenção da vida. Logo notou-se um potencial para utilizar o sangue como meio de tratar doenças através de transfusões. Contudo, se conhecia pouco sobre as células e substâncias que formavam o fluído sanguíneo.
Nas primeiras transfusões, resultados negativos demonstraram que existiam componentes do sangue responsáveis por causar reações adversas severas. Somente no início do século XX cientistas identificaram o sistema ABO dos tipos sanguíneos, no qual foram descritos a presença de antígenos na superfície das hemácias chamados aglutinogênios. Ainda assim, naquela época a prática de transfusão não se disseminou rapidamente pois haviam outros fatores importantes que definiam a compatibilidade sanguínea.
Em 1937, Karl Landsteiner e Alexander Wiener descobriram outro fator presente nos glóbulos vermelhos. Eles o nomearam “fator Rhesus” ou Rh, uma que vez o antígeno identificado era similar a outro encontrado em macacos do gênero Rhesus. Atualmente sabe-se que os antígenos são completamente distintos, no entanto, o termo continua a ser utilizado como homenagem histórica.
Segundo o sistema Rh, existem outras cinco categorias de antígenos (c, e, C, E e D) nas hemácias, sendo estas proteínas transmembrânicas que atuam como canais iônicos. Elas são produzidas através de dois genes, o RHD e o RHCE. O primeiro leva a formação do antígeno D e o segundo produz os demais antígenos. Este sistema possui apenas a descrição de positivo ou negativo, porém estas categorias são formadas por complexas combinações dos 5 antígenos Rh. De modo geral, sempre que o antígeno D estiver presente, o fator RhD será positivo. Em sua ausência, o tipo será RhD(-). O tipo negativo é mais raro e está associado ao mal funcionamento ou a uma mutação deletéria do gene RHD.
Atualmente os tipos sanguíneos humanos são sempre determinados utilizando os dois sistemas de classificação sanguínea mais importantes: o ABO e o Rh. No primeiro existem 4 tipos diferentes e no segundo apenas dois. Assim, quando avaliados em conjunto, obtemos 8 tipos sanguíneos possíveis: A+ e A-, B+ e B-, O+ e O-, AB+ e AB-. Portanto, a única diferença entre uma pessoa A+ em relação a alguém A- é a presença do antígeno D nas hemácias. Essa pequena diferença, no entanto, é de extrema importância para o sucesso de transfusões de sangue em cirurgias, tratamento de queimaduras, hemorragias, casos de anemia, hemofilia e em transplantes de órgãos.
Os sangues com Rh positivo podem receber doação de seus correspondentes no sistema ABO tanto positivos quanto negativos, porem só podem doar para Rh+. Já as pessoas com Rh negativo podem doar para ambos + e – de seus respectivos tipos ABO mas só podem receber sangue com Rh-. A doença hemolítica do recém-nascido está associada ao fator Rh. Geralmente, ela ocorre quando a mãe é do tipo negativo e está gravida com um feto positivo. Em sua primeira gravidez, a mulher é exposta ao sangue com Rh+, o que induz a produção de anticorpos anti-D. Em sua segunda gravidez com um feto do tipo positivo, os anticorpos maternos podem atravessar a placenta e atacar as células sanguíneas do bebê. Esta doença é facilmente combatida através do cuidado pré-natal, ainda ocorrendo em populações carentes da América Latina, África e sudeste asiático.
Grupo Sanguíneo |
Pode doar para: |
Pode receber de: |
A |
A e AB |
A e O |
B |
B e AB |
B e O |
AB |
AB |
A, B, AB, O |
O |
O, A, B, AB |
O |
Referências:
Freda, V. J., Gorman, J. G., & Pollack, W. (1966). Rh factor: prevention of isoimmunization and clinical trial on mothers. Science, 151(3712), 828-830.
Landsteiner, K., & Wiener, A. S. (1941). Studies on an agglutinogen (Rh) in human blood reacting with anti-rhesus sera and with human isoantibodies. Journal of Experimental Medicine, 74(4), 309-320.
Wagner, F. F., & Flegel, W. A. (2000). RHD gene deletion occurred in the Rhesus box. Blood, 95(12), 3662-3668.