Ecossistemas lóticos

Por Rafael Barty Dextro

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

Categorias: Biomas, Ecologia
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Os ecossistemas lóticos são definidos pela presença de água em movimento. Deste modo, o melhor exemplo de ambiente lótico são os rios, riachos e córregos, nos quais a correnteza permanentemente desloca a água de montante (nascente) a jusante (foz de desague). Tanto riachos pequenos com baixíssimo volume d’água quanto o Nilo ou o Amazonas, os maiores rios do mundo, são considerados ambientes lóticos. Estes ambientes são opostos aos ecossistemas lênticos, nos quais as águas apresentam pouco ou nenhum fluxo, como os lagos e reservatórios.

Apesar do distúrbio constante causado pela passagem de água, a biota destes ecossistemas é rica e possui adaptações relacionadas ao volume, intensidade e variação do fluxo hídrico. Os produtores primários principais encontrados são as algas que podem estar livres na coluna da água, aderidas a rochas na forma de biofilmes em trechos do rio em que a velocidade do fluxo de água seja menor ou presas a macroalgas, musgos e plantas, que também ocorrem em locais de menor velocidade de corrente ou nas margens dos rios.

Os insetos correspondem a uma grande parcela dos consumidores primários dos ecossistemas lóticos. Esses invertebrados são muito diversos e podem ocupar diversos nichos distintos: coluna d’água, rochas, enterrados no substrato do fundo do rio e até mesmo sob a superfície da água. Outros consumidores primários importantes seriam alguns moluscos, como as lesmas, e alguns crustáceos de água doce.

Os peixes são os principais vertebrados a participar da cadeia trófica de ambientes lóticos. Devido aos gastos energéticos associados a natação em grandes correntezas, eles normalmente repousam no fundo ou próximos a rochas que diminuem o fluxo d’agua, nadando apenas para buscar alimento ou mudar de local. Muitas espécies de peixe utilizam os rios apenas durante um estágio de seus ciclos de vida, migrando para o oceano para se reproduzir quando adultos (espécies catádromas) ou retornando do mar para os rios para desovar (espécies anádromas). Outros vertebrados que ocorrem em ecossistemas lóticos são anfíbios, répteis, aves e mamíferos (como o boto e o peixe-boi).

Quanto as características abióticas de rios, podemos destacar o aumento na concentração de oxigênio dissolvido na água e a menor temperatura em trechos de maior fluxo, em contraste com porções mais calmas do rio, em que a temperatura da água é menor e há menos oxigênio. Devido ao movimento constante de água, os rios causam grande erosão no solo, transportando grande quantidade de substratos inorgânicos (como minerais) e material particulado (pedras e cascalho). Além disso, animais mortos, folhas e partes vegetais que sejam carreadas contribuem para o aumento da concentração de matéria orgânica na água, que é parcialmente decomposta por bactérias (quando depositada em trechos de menor correnteza), sendo esta majoritariamente carreada para as áreas de desague (que podem ser lagos, outros rios ou o oceano).

Muitos ambientes lóticos sofrem severos impactos por ações antrópicas devido a suas características únicas. O fluxo constante de água pode ser utilizado para a geração de energia elétrica, por exemplo, mas o represamento dos rios geralmente reduz a diversidade de organismos presentes. Como os rios carreiam substratos por longas distâncias, muitas vezes eles são usados também para dispersar poluentes urbanos ou rurais para os oceanos. Esta ação pode afetar todo o equilíbrio bioquímico dos rios, com consequências como: o aumento da concentração de nutrientes como nitrogênio e fósforo que causam o desequilíbrio do fitoplâncton, a redução do pH e a bioacumulação de metais pesados ao longo dos níveis tróficos.

Referências:

Biggs, B.J., Nikora, V.I. and Snelder, T.H., 2005. Linking scales of flow variability to lotic ecosystem structure and function. River Research and Applications, 21(2‐3), pp.283-298.

Gore, J.A., Kelly, J.R. and Yount, J.D., 1990. Application of ecological theory to determining recovery potential of disturbed lotic ecosystems: research needs and priorities. Environmental Management, 14(5), pp.755-762.

Hakenkamp, C.C. and Morin, A., 2000. The importance of meiofauna to lotic ecosystem functioning. Freshwater biology, 44(1), pp.165-175.

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