Doenças do coração

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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O coração é o órgão central do sistema circulatório, sendo responsável pelo contínuo bombeamento de sangue através dos vasos sanguíneos. Seu correto funcionamento é essencial para a manutenção da vida, uma vez que é através do sangue que todos os tecidos corporais recebem nutrientes e oxigênio. Condições médicas relacionadas ao coração são consideradas gravíssimas, causando a morte de milhões de pessoas por ano, e devem receber tratamento imediato.

Existem uma série de doenças que afetam especificamente o coração, comprometendo sua morfologia e funcionamento. Alguns exemplos incluem as arritmias, as doenças coronárias, o enfarte do miocárdio, as doenças das válvulas cardíacas, doenças vasculares, a pericardite e as doenças congênitas do coração. A arritmia é a perda da capacidade de manutenção da frequência de batimentos, causando contrações irregulares que podem fazer com que o coração funcione de maneira lenta ou excessivamente acelerada, causando alteração no fluxo sanguíneo e na taxa de oxigenação sistêmica. As arritmias podem ser condições passageiras associadas ao estresse, problemas psicológicos ou demasiado esforço físico. Contudo, se causadas pela perda de funcionamento das células marca-passo, elas devem ser acompanhadas de maneira muito meticulosa por médicos, requerendo medicação e cirurgia para implante de marca-passo artificial, em casos mais graves.

As artérias e veias coronárias compõem uma parte especial do sistema circulatório, uma vez que estes vasos são responsáveis por irrigar e nutrir o próprio tecido cardíaco. Doenças coronarianas são perigosas e potencialmente letais, uma vez que elas podem ocorrer de maneira assintomática por um tempo. A aterosclerose coronária, que é a deposição de substâncias (principalmente gordura e colesterol) no interior da artéria coronária, reduz a quantidade de sangue que flui para o coração causando insuficiência cardíaca, enfarte e morte do tecido. O principal sintoma associado a doenças coronarianas é uma dor intensa no peito chamada de angina. Apenas uma pequena parcela das dores torácicas são anginas, porem se diagnosticadas como tal a busca por ajuda medica deve ser feita rapidamente. A angina instável, por exemplo, é uma condição médica crítica em que a dor no peito surge repentinamente e de maneira muito rápida evolui para dores agudas que podem levar a um ataque cardíaco. A prevenção das doenças nas coronárias do coração envolve o cuidado na alimentação e realização de exercícios físicos, enquanto que o tratamento pode ser medicamentoso ou cirúrgico, dependendo do quão avançado está o bloqueio arterial.

O miocárdio é a camada muscular intermediária que compõe o coração. Ele recobre o endocárdio, camada interna que forma as cavidades cardíacas, e é envolto pelo epicárdico, tecido externo contínuo e mais fino. Quando o fluxo de sangue para o miocárdio é interrompido por um longo tempo, este tecido sofre um rápido processo de degeneração intitulado cascata isquêmica. Através dela, há uma redução da produção de ATP, perda do equilíbrio eletrolítico e morte celular por apoptose e necrose. O enfarte do miocárdio causa dor extrema no peito, náusea, desmaios e sudorese exagerada e pode ocorrer após o bloqueio de artérias de grande calibre, como consequência de casos de hipertireoidismo não tratados, queda de pressão arterial grave ou redução significativa dos glóbulos vermelhos (hemácias) no sangue. Seu tratamento envolve procedimentos médicos de redução de bloqueio arterial (como a intervenção coronariana percutânea) ou uso de medicamentos para evitar a ocorrência do enfarte. Em casos mais graves, após o enfarte, o paciente sobrevivente é estabilizado com medicamentos ou cirurgia cardíaca e deve permanecer hospitalizado e monitorado por algum tempo.

As doenças das válvulas cardíacas dizem respeito às condições que ocorrem devido ao mal funcionamento ou dano das válvulas do coração. Além de ser composto por 4 câmaras internas, este órgão possui 4 principais válvulas que regulam a passagem de sangue e impedem o seu refluxo (válvulas mitral e tricúspide entre átrios e ventrículos e válvulas aórtica e pulmonar). Estas doenças podem ser diagnosticadas através de exames de rotina com um cardiologista, uma vez que levam a produção de sons anormais relacionados aos batimentos e podem gerar uma frequência cardíaca irregular. Outros sintomas incluem falta de fôlego, tontura e inchaço dos pés e tornozelos. As doenças das válvulas do coração mais comuns ocorrem quando o prolapso de alguma válvula está relacionado com uma movimentação irregular que faz com que a válvula deixe de se fechar de maneira correta. Outros casos envolvem a estenose valvar, que é o enrijecimento parcial da válvula, reduzindo sua abertura e afetando o volume de sangue que é transportado a cada contração cardíaca. Uma forma rara de doença das válvulas ocorre em recém-nascidos e é chamada de atresia tricúspide. Neste quadro médico, o coração do bebe não possui a válvula tricúspide entre o átrio e ventrículo direitos, o que desregula a circulação sanguínea e causa um fluxo anormal entre os ventrículos. Assim que diagnosticada, essa condição requer reparo cirúrgico do coração para que a criança sobreviva.

A pericardite é uma inflamação do tecido que envolve o coração denominado pericárdio. Este tecido possui diversas camadas e é preenchido com um líquido lubrificante, sendo essencial para o controle da expansão do coração e a manutenção de sua posição na cavidade torácica. Sabe-se que muitos vírus e bactérias podem infectar o pericárdio, contudo, sua inflamação também pode ser decorrente de doenças autoimunes, insuficiência renal, hipotireoidismo e traumas que ocorram no tórax. O tratamento das formas agudas de pericardite envolve o uso de anti-inflamatórios e repouso em casa durante algumas semanas. A condição crônica da doença, que é mais grave, requer a hospitalização e o monitoramento do paciente por mais tempo a fim de evitar sequelas que podem comprometer o funcionamento do coração.

Tumores originados no coração são raros e quase sempre benignos, sendo que a grande maioria dos casos de tumor cardíaco ocorrem devido a metástase de câncer maligno pulmonar, renal, de mama ou pele. Tumores malignos são capazes de liberar células cancerígenas na corrente sanguínea. Quando estas atingem o coração, podem se aderir às paredes do órgão e iniciar o processo de formação tumoral. Estes tumores geram alteração na frequência cardíaca, falta de ar, arritmia e desmaios frequentes, sendo geralmente combatidos através de radio ou quimioterapia.

Doenças cardíacas congênitas ocorrem nos fetos durante as 8 primeiras semanas de gestação, período em que se forma o coração. Durante a formação embrionária do coração podem ocorrer erros que causem modificações estruturais deste órgão. Algumas destas alterações não causam malefícios significativos para o desenvolvimento e crescimento normal da pessoa, sendo descobertas somente na vida adulta durante exames cardíacos de rotina (como é o caso de quadros leves de sopro no coração). Contudo, em algumas situações, essas alterações estruturais podem ser graves, causando complicações para o recém-nascido. As más-formações mais comuns afetam as válvulas e câmaras cárdicas. Sua ocorrência não tem causas bem definidas, mas sabe-se que certos fatores podem elevar o risco de cardiopatias congênitas ocorrerem. Gravidez em idades avançadas (acima de 35 anos), diabetes materna, ocorrência de cardiopatias na família, uso de drogas ilícitas ou anticonvulsivos e anti-inflamatórios durante a gravidez ou mães que sofram de lúpus e hipotireoidismo compreendem as situações de maior risco. Dependendo do tipo de deformidade, o coração pode ser reconstituído através de cirurgias cardíacas, que são realizadas em recém-nascidos somente em casos de extrema necessidade. Alguns casos podem ser tratados com eficácia utilizando-se cateteres, enquanto outros podem depender do transplante de um novo coração. O que determina o tratamento apropriado é a diagnose precisa das alterações cárdicas, que podem ser investigadas antes do nascimento através de ultrassons e ecocardiogramas, permitindo o delineamento terapêutico de cada caso.

Grande parte das doenças que acometem o coração tem em comum fatores de risco associados ao sedentarismo, aumento da pressão arterial, alimentação desbalanceada, obesidade, tabagismo, histórico familiar de doenças cardiovasculares, diabetes descontrolada e desregulação da tireoide. Realizar exames de rotina, alterar os hábitos alimentares para reduzir o consumo de gorduras, sal e açúcar, reduzir a ingestão de álcool e parar de fumar, fazer exercícios físicos regularmente e tratar condições de saúde crônicas pré-existentes são as medidas mais eficazes para conservar o bem-estar cardíaco.

Referências:

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Barker, D. J. (1995). Fetal origins of coronary heart disease. Bmj311(6998), 171-174.

Braunwald, E. (1988). Heart disease.

Huikuri, H. V., Castellanos, A., & Myerburg, R. J. (2001). Sudden death due to cardiac arrhythmias. New England Journal of Medicine345(20), 1473-1482.

Lange, R. A., & Hillis, L. D. (2004). Acute pericarditis. New England Journal of Medicine351(21), 2195-2202.

Thygesen, K., Alpert, J. S., & White, H. D. (2007). Universal definition of myocardial infarction. Journal of the American College of Cardiology50(22), 2173-2195.

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