Até o início do século XX predominava na ciência o método científico baseado no modelo mecanicista proposto por René Descartes em seu “Discurso do Método”. Entretanto as teorias da relatividade de Albert Einstein (1879-1955) e a mecânica quântica de Niels Bohr puseram em xeque alguns dos principais pilares do modelo cartesiano.
As descobertas de ambos provaram a impossibilidade de determinar até mesmo a realidade dos resultados de uma observação, derrubando o preceito de que “para conhecer o todo, bata conhecer as partes” ao demonstrar que muitos fenômenos não possuem explicação se não encarados dentro de uma situação ou sistema e, sobretudo, derrubaram o preceito de que o objeto é separado e independente do observador, mostrando que o que conhecemos daquilo que acreditamos ser o objeto real é apenas o resultado de nossa intervenção nele e não o objeto em si.
A nova concepção mostrou também a impossibilidade de se estruturar conceitos universais e absolutos uma vez que nosso próprio conhecimento é limitado, resultando em uma mudança para um modelo onde existem apenas leis probabilísticas.
A nova ciência fala cada vez menos em leis e determinismos para tratar de sistemas, processos, estruturas. O homem, observador, passa a não mais constituir parte separada do objeto observado e esta relação passa a ocupar uma dimensão extremamente mais complexa do que supunham o determinismo e o positivismo.
Immanuel Kant (1724-1804), o principal filósofo dessa nova corrente, já admitia que o observador faz parte ativa do processo de conhecimento o que o impede de se anular frente ao objeto observado, chegando à conclusão de que na verdade não observamos os objetos em si, mas somente o que ele nos parece. O que, segundo ele, implica que a simples existência das coisas deriva do sujeito observador, não existindo sem ele. Retomando a antiga máxima do sofista Protágoras “O homem é a medida de todas as coisas”.
O modelo mecanicista de Descartes por muito tempo serviu aos princípios a que se propunha e possibilitou o desenvolvimento de diversos campos da ciência. Contudo, já ficou comprovada a insustentabilidade de certos conceitos que eram considerados máximos pelo modelo cartesiano, mas que com a evolução da ciência e da sociedade deixaram de o ser, pelo menos para todas as áreas.
Diversas correntes filosóficas atuais tentam através do conhecimento secular adquirido por outros pensadores e de uma releitura de muitos deles determinar um novo modelo, cada qual segundo os princípios que aceita como mais prováveis, que responda de maneira adequada às necessidades da nova sociedade.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/ciencias/metodo-cientifico-mudanca-de-paradigma/